Ginecologia

Tratamento da Síndrome dos Ovários Policísticos | Colunistas

Tratamento da Síndrome dos Ovários Policísticos | Colunistas

Compartilhar
Imagem de perfil de Ana Fábia Balieiro

A Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) é uma doença heterogênea caracterizada pela combinação de sinais e sintomas de hiperandrogenismo, alterações ovulatórias e/ou presença de cistos ovarianos.

É considerada uma das disfunções endocrinológicas mais comuns nas mulheres em idade fértil, com prevalência de 6 a 21%.

Apresentação clínica

          Os sinais e sintomas são variáveis, podendo também ser assintomática, porém a maioria das mulheres cursam com:

  1. Hiperandrogenismo – hirsutismo, acne, alopecia androgenética e mais raramente, virilização;
  2. Disfunções ovulatórias – oligomenorreia ou amenorreia (mais comum), infertilidade aumento do fluxo menstrual e mais raramente, polimenorreia;
  3. Sinais de resistência insulínica e hiperinsulinemia – acantose nigricans;
  4. Obesidade (50-80% das mulheres);
  5. Transtornos de saúde mental;
  6. Dislipidemia;
  7. Distúrbios do sono;
  8. Aumento do risco cardiovascular.

Abordagem diagnóstica

Os critérios mais seguidos atualmente são os critérios de Rotterdam.

Critérios de Rotterdam – são necessários 2 dos 3 a seguir:

  1. Oligo e/ou anovulação;
  2. Sinais clínicos e/ou bioquímicos de hiperandrogenismo;
  3. Imagem de ovários policísticos.

Exames complementares

Laboratoriais

  • Beta-HCG
  • TSH
  • Prolactina
  • Testosterona total ou livre, sulfato de DHEA e DHEA
  • 17-hidroxiprogesterona
  • FSH
  • Perfil lipídico e teste oral de tolerância à glicose (TOTG – 2 horas)

Imagem

Ultrassonografia pélvica ou transvaginal: Presença de 12 ou mais folículos em cada ovário medindo de 2 a 9 mm de diâmetro e/ou aumento do volume do ovário ≥ 10 cm3 em pelo menos um dos ovários

Também recomenda-se a aferição de pressão arterial e avaliação do Índice de Massa Corporal (IMC) – controle da obesidade/sobrepeso e risco cardiovascular.

Diagnóstico diferencial

A SOP é considerada um diagnóstico de exclusão, sendo assim, sempre devemos ter em mente estes diagnósticos diferenciais:

  • Gestação;
  • Anovulação fisiológica da adolescência;
  • Hiperplasia adrenal congênita virilizante;
  • Distúrbios congênitos relacionados ao metabolismo dos esteroides adrenais;
  • Sí­ndrome de Cushing;
  • Tumores virilizantes;
  • Hiperprolactinemia;
  • Disfunção tireoidiana, especialmente o hipotireoidismo;
  • Drogas: Esteróides anabolizantes, Ácido valpróico;
  • Hiperandrogenismo idiopático.

Abordagem terapêutica

O tratamento é individualizado, de acordo com a clínica apresentada e desejos da paciente.

Os objetivos do tratamento visam:

  • Controle dos sintomas de hiperandrogenismo;
  • Proteção endometrial;
  • Manejo da infertilidade;
  • Controle das alterações metabólicas associadas – dislipidemia, aumento do risco cardiovascular, diabetes mellitus, etc.

Mudança do estilo de vida

A mudança do estilo de vida (MEV) é a 1a linha de tratamento recomendada para melhoria a longo prazo em associação ao tratamento medicamentoso.

Hábitos saudáveis, associados à alimentação e a prática regular de exercícios físicos são recomendados para manutenção do peso, melhoria da saúde em geral e da qualidade de vida.

A perda de peso pode restaurar os ciclos ovulatórios e reduzir o risco cardiovascular.

Pode-se considerar o uso de medicamentos para auxiliar na perda de peso e deve-se também considerar cirurgia bariátrica como uma estratégia.

Para o tratamento farmacológico podemos considerar dois tipos de paciente – aquelas que desejam engravidar e aquelas que não desejam.

Mulheres que não desejam engravidar

Manejo do hiperandrogenismo

Hirsutismo

1ª linha: Contraceptivo hormonal isolado – combinados ou progestágenos.

  • Apesar de amplamente utilizados, não existe uma recomendação absoluta para o uso de contraceptivos combinados, deve-se decidir de maneira individualizada e em decisão compartilhada com paciente.
  • Dentre os contraceptivos combinados deve-se considerar os efeitos androgênicos da progesterona.

2ª linha: Contraceptivo hormonal em associação com antiandrogênicos.

  • Considerar terapia combinada se:
    • Hirsutismo persistente por mais de 6 meses;
    • Hirsutismo severo;
    • Uso prévio de contraceptivos sem efeito no hirsutismo.
  • Dentre os antiandrogênicos mais utilizados temos a espironolactona, a ciproterona e a finasterida. Devendo-se individualizar a escolha dos mesmos.
  • Remoção mecânica ou a laser dos pêlos.
Acne

1ª linha: Contraceptivos hormonais – conforme discutido no tópico de hirsutismo.

2ª linha: Espironolactona.

Tratamentos tópicos, como antibióticos, peróxido de benzoila, tretinoina ou adalapeno, podem ser associados a ambas as linhas de tratamento.

Alopecia androgenica

1ª linha: Contraceptivos hormonais em associação com antiandrogênicos

  • Dentre os antiandrogênicos, existe recomendação do uso de minoxidil tópico.

Diversos tratamentos alternativos podem ser associados, como: terapia a laser, injeções de plasma em couro cabeludo, transplante capilar e cetoconazol tópico.

Manejo da irregularidade menstrual

Contracepção hormonal

  • Métodos combinados (oral, tópico ou injetável) – considerar métodos que possuam progestágeno com maior efeito antiandrogênico (Ex: Etinilestradiol 0,035 mg + Acetato de ciproterona 2,0 mg).
  • Progestágenos isolados (oral, implantes, DIU, injetável).

Existe baixa recomendação do uso de medicamentos para redução da resistência insulínica para o controle da irregularidade menstrual, tais como a metformina.

Mulheres que desejam engravidar

Manejo do hiperandrogenismo

Hirsutismo

Remoção mecânica ou a laser dos pêlos.

Acne

Tratamentos tópicos, como antibióticos e peróxido de benzoíla.

Manejo da irregularidade menstrual e/ou infertilidade

As recomendações variam de acordo a bibliografia utilizada, porém os mais recomendados são:

  • Letrozol;
  • Citrato de clomifeno;
  • Metformina (pode promover a ovulação isoladamente ou em combinação com Clomifeno, mas o clomifeno parece ser superior para as taxas de gravidez);
  • Gonadotrofinas;
  • Cirurgia laparoscópica de ressecção em cunha dos ovários;
  • Fertilização in vitro.

Referências

DYNAMED(org.). Polycystic Ovary Syndrome. Disponível em: www.dynamed.com/topics/dmp~AN~T116286. Acesso em: 07 maio 2022.

WHITEBOOK (org.). Síndrome dos Ovários Policísticos. Disponível em: https://whitebook.pebmed.com.br/conteudo/?id=34362#sindrome-dos-ovarios-policisticos. Acesso em: 07 maio 2022.

O texto acima é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.