Índice
- 1 Evolução das instituições psiquiátricas no Brasil
- 2 Tratamento em hospital psquiátrico e as mudanças recentes
- 3 Organização dos serviços de saúde psicossociais para o tratamento
- 4 Conduta inicial do tratamento em um hospital psquiátrico
- 5 Quem são os pacientes que ficam internados?
- 6 Tratamento das principais patologias psiquiátricas em um hospital psiquiátrico
- 7 Saiba como dominar todo os tratamentos psquiátricos
- 8 Sugestão de leitura complementar
- 9 Referências bibliográficas
Você sabe como é realizado o tratamento em um hospital psiquiátrico? Conheça agora o manejo das principais patologias psiquiátricas.
O tratamento em um hospital psiquiátrico envolve uma série de processos que visam ajudar os pacientes a lidar com transtornos mentais graves e complexos.
Nos últimos anos, houve uma mudança significativa na forma como os hospitais psiquiátricos abordam o tratamento de pacientes com transtornos mentais. Em vez de se concentrar exclusivamente em medicamentos e internações prolongadas, os hospitais psiquiátricos estão buscando abordagens multiprofissionais e centradas no paciente.
Evolução das instituições psiquiátricas no Brasil
A história da evolução das instituições psiquiátricas no Brasil é complexa e marcada por diversas mudanças ao longo do tempo. No início do período colonial, os doentes mentais eram tratados em hospitais gerais ou em suas próprias casas, muitas vezes sendo vítimas de violência ou abandono.
No final do século XIX e início do século XX, houve um movimento de reforma psiquiátrica no Brasil, liderado por médicos e psiquiatras preocupados com as condições desumanas em que os doentes mentais eram tratados.
Foi neste período que surgiram as primeiras instituições psiquiátricas brasileiras, como o Hospital Nacional de Alienados, fundado no Rio de Janeiro em 1852.
Condições precárias de saúde e a necessidade de mudança
Ao longo das décadas seguintes, surgiram diversas outras instituições psiquiátricas em todo o país, muitas vezes com condições precárias e sem um tratamento adequado para os pacientes.
Essas instituições eram frequentemente superlotadas e utilizadas como locais de internação compulsória, onde os pacientes eram submetidos a tratamentos desumanos e muitas vezes violentos.
Na década de 1960, surgiu um movimento de crítica à forma como os doentes mentais eram tratados nas instituições psiquiátricas, liderado por profissionais de saúde mental, movimentos sociais e familiares de pacientes.
Esse movimento culminou na reforma psiquiátrica brasileira, iniciada na década de 1980, que buscava mudar radicalmente o modelo de atendimento psiquiátrico no país.
A reforma psiquiátrica
A reforma psiquiátrica brasileira promoveu a desinstitucionalização dos doentes mentais, ou seja, a transferência do atendimento para serviços comunitários e ambulatoriais. Além disso, promoveu a redução do número de internações em instituições psiquiátricas.
Essa reforma também enfatizou o tratamento humanizado e individualizado, com o objetivo de promover a autonomia e a reinserção social dos pacientes.
Hoje, o Brasil tem uma rede de serviços de saúde mental (RAPS) que inclui:
- Centros de atenção psicossocial (CAPS);
- Serviços de atenção domiciliar;
- Serviços de internação em hospitais gerais;
- Unidades de acolhimento.
Embora a reforma psiquiátrica tenha sido um avanço significativo, ainda existem desafios a serem superados na área da saúde mental no país, como o estigma em relação aos transtornos mentais e a falta de recursos adequados para o tratamento.
Tratamento em hospital psquiátrico e as mudanças recentes
Tradicionalmente, o tratamento em hospitais psiquiátricos era baseado em internações prolongadas e medicamentos. Entretanto, as mudanças recentes têm buscado abordagens mais integradas e holísticas, que envolvem terapias complementares e trabalho em equipe.
O processo de tratamento em um hospital psiquiátrico geralmente começa com uma avaliação do paciente. Com base nessa avaliação, é elaborado um plano de tratamento individualizado que pode incluir:
- Medicamentos;
- Psicoterapia;
- Terapias ocupacionais;
- Terapias de grupo;
- Atividades recreativas;
- Outras intervenções.
Ao longo do tratamento, os pacientes são monitorados de perto por uma equipe de profissionais de saúde mental com uma abordagem integrada e coordenada, que inclui:
- Psiquiatras;
- Psicólogos;
- Enfermeiros;
- Terapeutas ocupacionais;
- Assistentes sociais.
Além disso, com a reformulação do atendimento, conseguiu-se uma redução do tempo de internação em hospitais psiquiátricos. Isso aconteceu devido ao aumento na disponibilidade de tratamentos ambulatoriais, nos CAPs por exemplo.
Essa abordagem ajuda os pacientes a permanecerem em suas comunidades, mantendo suas conexões sociais e familiares enquanto ainda recebem o tratamento necessário para gerenciar seus transtornos mentais.
Organização dos serviços de saúde psicossociais para o tratamento
Como falamos acima, as unidades de atendimento psiquiátrico hoje no Brasil fazem parte da Rede de Atenção Psicossocial, a RAPS. Esta é uma forma de organização dos serviços em rede de atenção à saúde regionalizada, com estabelecimento de ações intersetoriais para garantir a integralidade do cuidado.
Componentes da atenção básica
Os componentes da atenção básica são:
- Unidade Básica de Saúde;
- Consultórios de rua;
- Núcleo de apoio à saúde da família
- Centro de convivência e cultura.
Componentes da urgência e emergência
Os componentes de atendimentos na atenção de urgência e emergência são:
- Unidade de pronto atendimento (UPA);
- Serviço de atencimento móvel de urgência (SAMU);
- Sala de estabilização;
- Portas Hospitalares de Atenção à Urgência/Ponto socorro.
Hospitais psiquiátricos
É no contexto da urgência e emergência que o paciente dará entrada em um hospital psiquiátrico. Geralmente este encontra-se em incompetente ou incapaz de assumir responsabilidades sobre si e/ou outros.
Esses pacientes são levados a esse serviço pela família. Entratando, algumas vezes eles chegam a esses locais conduzidos pelo serviço do Samu. Isso ocorre quando o paciente se encontrar em via ou estabelecimento público fazendo ações não condizentes com o padrão social aceito.
Isso ocorre por diversas manifestações clínicas, incluindo:
- Agitação psicomotora;
- Sinais de hetero-agressividade e auto-agressividade;
- Comportamento suicida;
- Intoxicações ou abstinência de substâncias psicoativas (SPA);
- Quadros ansiosos;
- Síndromes conversivas/dissociativas.
Conduta inicial do tratamento em um hospital psquiátrico
A primeira conduta para realização do tratamento em um hospital psiquiátrico é garantir a segurança do paciente e das pessoas ao seu redor.
Isso pode incluir a remoção de objetos que possam ser usados para causar dano, a contenção física em casos extremos de agitação ou violência, e a solicitação de ajuda médica e/ou policial.
Após garantir a segurança, a próxima conduta é realizar a estabilização do paciente. Para isso, é importante identificar o sintoma-alvo para que este possa ser abordado e controlado. Dependendo da situação, isso pode incluir intervenções medicamentosas.
Medicamentos utilizados na estabilização do paciente
Neste momento existem alguns medicamentos que podem ser utilizados e a escolha vai depender da gravidade do quadro e das necessidades específicas de cada paciente. Algumas das classes de medicamentos mais comumente utilizadas incluem:
- Ansiolíticos: medicamentos utilizados para controlar sintomas de ansiedade, como o lorazepam e o diazepam.
- Antipsicóticos: medicamentos utilizados para tratar sintomas psicóticos, como delírios e alucinações, como a olanzapina, a risperidona e o haloperidol.
- Estabilizadores de humor: medicamentos utilizados para controlar sintomas de mania e depressão em transtornos bipolares, como o lítio e o ácido valproico.
- Antidepressivos: medicamentos utilizados para tratar sintomas de depressão, como a fluoxetina e a sertralina.
- Sedativos: medicamentos utilizados para induzir o sono ou para controlar sintomas de agitação, como o midazolam e o propofol.
Hipótese diagnóstica
Posteriormente deve-se realizar uma anamnese centrada na doença atual, questionando diagnósticos prévios, doenças familiares, uso de substâncias psicoativas, médicamentos em uso, caracterizando o quadro, sintomas, etc.
Nesse momento o médico cria uma hipótese diagnóstica para conduzir e investigar o quadro. É importante lembrar que, em muitos casos, a presença de sintomas psiquiátricos pode ser um sinal de que há uma causa orgânica subjacente que precisa ser avaliada e tratada. Assim, é importante descartar possíveis causas orgânicas nesse momento também. Para tanto, pode-se solicitar exames laboratoriais e de imagem.
Transtornos orgânicos
Como exemplo de causas orgânicas, temos:
- Lesões cerebrais: lesões no cérebro podem afetar áreas responsáveis pelo controle das emoções e comportamentos. Isso pode acusar sintomas como agressividade, impulsividade e alterações de humor.
- Distúrbios metabólicos: alterações no metabolismo podem afetar o equilíbrio químico do cérebro. Com isso, pode levar a sintomas como ansiedade, confusão e agitação. Exemplos incluem hipoglicemia, hipertireoidismo e hiponatremia.
- Doenças neurológicas: doenças que afetam o sistema nervoso central podem levar a sintomas psiquiátricos. Os mais comuns são a demência, a doença de Parkinson e a esclerose múltipla.
- Infecções: algumas infecções podem afetar o cérebro e levar a sintomas psiquiátricos, como a meningite, a encefalite e a sífilis.
- Uso de substâncias: o uso abusivo de álcool, drogas e certos medicamentos pode afetar a função cerebral. E com isso, levar a sintomas psiquiátricos, como a ansiedade, a depressão e a psicose.
Encaminhamento
Após a estabilização do quadro, será avaliado a situação do paciente e este poderá ser encaminhado para:
- Internação hospitalar;
- Centro de Atenção Psicossocial (CAPS);
- Acompanhamento ambulatorial.

Quem são os pacientes que ficam internados?
Nem todos os pacientes que são estabilizados em uma emergência psiquiátrica precisam ser encaminhados para o internamento.
O encaminhamento para internação psiquiátrica para tratamento deve ser feito apenas em casos em que há um risco iminente para a saúde ou a vida do paciente, ou em que ele não pode ser devidamente tratado em regime ambulatorial.
Algumas situações em que o encaminhamento para internação psiquiátrica pode ser indicado incluem:
- Risco iminente de suicídio ou de causar danos a si próprio ou a outras pessoas.
- Surtos psicóticos graves, com sintomas como delírios, alucinações e comportamento agressivo.
- Transtornos de humor graves, como a depressão grave ou o transtorno bipolar, que não podem ser tratados de forma efetiva em regime ambulatorial.
- Transtornos de ansiedade graves, como o transtorno do pânico, que estão comprometendo a qualidade de vida do paciente e não respondem a tratamentos ambulatoriais.
Em casos de encaminhamento para internação psiquiátrica, o paciente será avaliado por uma equipe multidisciplinar de saúde mental e receberá um plano de tratamento individualizado, que pode incluir medicação, terapia e outras abordagens terapêuticas.
Dentre os profissionais da equipe multidisciplinar, temos o serviço social e a psicologia. Ambos são muito importantes para entender e compreender melhor a história da família do paciente, a situação econômica e social, pois sabemos que a pobreza é algo que piora muito o prognóstico daquele paciente. Assim, muitas vezes, pela própria equipe do hospital, é possível conseguir benefícios do governo a fim de ajudar e melhorar a qualidade de vida daquele paciente.
O tempo de internação pode variar de acordo com a necessidade do paciente e as condições clínicas apresentadas.
Tratamento das principais patologias psiquiátricas em um hospital psiquiátrico
Confira o tratamento realizado em hospitais psiquiátricos das principais patologias.
Transtorno Bipolar no tratamento em hospital psiquiátrico
A medicação é geralmente o primeiro passo no tratamento do Transtorno Bipolar em internação psiquiátrica, com o objetivo de estabilizar o humor do paciente e controlar os sintomas de mania ou depressão. Os medicamentos mais comumente prescritos incluem estabilizadores de humor, como o lítio, antipsicóticos atípicos e anticonvulsivantes.
Além da medicação, a terapia é uma parte importante do tratamento do Transtorno Bipolar em internação psiquiátrica. A terapia individual pode ajudar o paciente a identificar seus pensamentos e comportamentos disfuncionais, bem como a desenvolver habilidades para lidar com o estresse e as emoções.
A psicoeducação também é uma parte importante do tratamento em internação psiquiátrica para o Transtorno Bipolar. Os pacientes podem aprender sobre sua condição, incluindo sintomas, fatores de risco, tratamentos disponíveis e estratégias para lidar com as crises.
O objetivo do tratamento é estabilizar o humor do paciente, controlar os sintomas e prepará-lo para receber alta e continuar o tratamento em regime ambulatorial.
Risco de suicídio
O tratamento do paciente em risco de suicídios vai depender de alguns fatores. Inicialmente é preciso realizar a classificação desse risco.
Pacientes que estão internados geralmente são pacientes de médio e alto risco. Nesses casos, o manejo pode ser uso de psicofármacos como benzodiazepínicos e antipsicóticos atípicos, como a olanzapina e a quetiapina. Após a diminuição aguda do risco de suicídio, com o paciente já em acompanhamento médico, é possível fazer uso de medicações com resultados a médio e longo prazo.
Em casos mais graves, em que a ideia de suicídio seja muito alto e o paciente já tenha tentado alguns vezes o fazê-lo, podes-se realizar a eletroconvulsoterapia (ECT) que é disponibilizada em alguns hospitais psiquiátricos.
Eletroconvulsoterapia (ECT)
A eletroconvulsoterapia (ECT) é um tratamento médico utilizado em casos graves de depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia e outros transtornos psiquiátricos. A ECT é uma forma de terapia que utiliza pulsos elétricos para induzir uma convulsão controlada e temporária no cérebro, com o objetivo de aliviar os sintomas psiquiátricos.
Embora a ECT seja geralmente utilizada para tratar transtornos psiquiátricos graves, ela também pode ser considerada como um tratamento para pacientes com ideação suicida. Especialmente em casos em que outros tratamentos não foram eficazes ou quando a urgência do quadro clínico exige uma intervenção mais rápida e intensiva.
A ECT é geralmente realizada em um hospital psiquiátrico, sob anestesia geral e monitoramento cuidadoso dos sinais vitais do paciente. As sessões de ECT são realizadas com uma frequência pré-determinada, geralmente de uma a três vezes por semana, dependendo do caso. O número de sessões necessárias varia de acordo com a gravidade dos sintomas e a resposta do paciente ao tratamento.
Esquizofrenia no tratamento em hospital psiquiátrico
O tratamento para a esquizofrenia no contexto de uma internação em um hospital psiquiátrico é geralmente mais intensivo do que o tratamento ambulatorial, devido à gravidade dos sintomas e à necessidade de cuidados mais intensivos.
Os medicamentos antipsicóticos são geralmente o primeiro tratamento a ser prescrito e são considerados a pedra angular do tratamento da esquizofrenia. Eles podem ajudar a reduzir a intensidade e a frequência dos sintomas psicóticos, como alucinações e delírios
Para conhecer mais sobre como manejar as emergências psiquiátricas acesse nosso artigo completo: Emergências psiquiátricas: como manejar?
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Referências bibliográficas
- DAUDT, A. D. et al. Manejo em emergência do paciente suicida.
- MONDRZARK, R. et. al. Atendimento ao paciente psiquiátrico: manejo em urgências e emergências.
- SCHMITT, R; COLOMBO T. Programa de atualização em psiquiatria: emergências psiquiátricas. 2012;2(1): 119-164.