Carreira em Medicina

Trombose de veia porta | Colunistas

Trombose de veia porta | Colunistas

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O fígado recebe sangue através de dois vasos sanguíneos, a artéria hepática (20 a 25%) e a veia porta (75 a 80%). O sangue que circula pela artéria hepática vem indiretamente do coração, trazendo os nutrientes e a oxigenação para o fígado. O sangue da veia porta é proveniente do intestino, pâncreas e do baço, levando todos os produtos que são absorvidos pelo intestino. Após o sangue passar pelas células do fígado, o sangue sai do mesmo através das veias hepáticas, desemboca na veia cava e leva o sangue para o coração.

A trombose da veia porta faz com que o sangue acumule no sistema porta, ou seja, intestino e no baço. O aumento de pressão nestes locais leva a um aumento do baço e surgimento de veias colaterais, que tentam fazer com o que o sangue chegue ao coração por outros caminhos. Estas veias colaterais aumentam de tamanho e são encontradas na junção entre o esôfago e o estômago (varizes de esôfago), no ligamento falciforme (veia umbilical), no retroperitônio, no reto e canal anal (hemorroidas).

A trombose é a formação, ou desenvolvimento, de um coágulo sanguíneo responsável por obstruir e inflamar a parede da veia acometida. Assim, trombose da veia porta é a obstrução, ou o estreitamento, da veia porta (o vaso sanguíneo que leva sangue dos intestinos para o fígado), por um coágulo de sangue.

Anatomia

A veia porta é a maior veia do corpo humano, com diâmetro médio de 10,2 mm. É formada pela combinação da veia mesentérica superior e da veia mesentérica inferior. A veia mesentérica superior excreta o intestino delgado, estômago e parte do cólon, e a veia mesentérica inferior excretra o intestino grosso e se divide em ramos esquerdo e direito e, em seguida, penetra no fígado.

Depois de entrar no fígado, a veia porta se divide em ramos direito e esquerdo, e ramos em vênulas e capilares, o que faz com que o órgão absorva alimentos. Uma nova rede de capilares, vênulas e veias saem do fígado para coletar o sangue processado e, por fim, formar a veia cava inferior, que segue em direção ao átrio direito do coração.

Figura 1: Anatomia dos vasos hepáticos
Fonte: pinterest.com

Função

A função é absorver todo o sangue do trato digestivo, baço, pâncreas e vesícula biliar, e transportá-lo para o fígado. Ou seja, o sangue que flui é preenchido com as substancias recentemente ingeridas. Embora seja um sistema formado por múltiplas veias tributárias, esse sistema porta oferece oxigênio para o fígado. Assim, o fígado atua como um ´´laboratório“ projetado para metabolizar e filtrar esses substâncias, antes de liberá-las de volta na circulação sistêmica.

Dois fatores podem alterar o fluxo de sangue através da veia porta, aumentando a pressão sanguínea nos vasos sanguíneos portais: (1) um aumento do volume de sangue fluindo pelos vasos, ou (2) uma resistência aumentada ao fluxo de sangue.

Figura 2: Veias que formam a veia porta
fonte: sobretrombose.com.br

Etiologia

As causas mais comuns variam com a idade:

  • Em recém-nascidos: infecção do coto do cordão umbilical;
  • Em crianças: apendicite, formando coágulos de sangue;
  • Adultos: policitemia, cirrose, lesões hepáticas, tumores malignos, lesões e distúrbios que facilitam a coagulação sanguínea.

Sintomas

Nota-se que a grande maioria das pessoas com trombose de veia porta não apresenta sintomas. Ademais, em determinadas pessoas, tais sinais aparecem gradativamente, levando à hipertensão portal.

Nessa perspectiva, se houver veias varicosas no esôfago e estômago, elas podem se romper e sangrar, levando à hemoptise, além de causar melena (sangue nas fezes, causando odor desagradável).

Diagnóstico

Pode ocorrer suspeita de trombose de veia porta caso o paciente apresente a seguinte combinação:

  • Sangramento de veias varicosas no esôfago e/ou estômago;
  • Esplenomegalia (baço com volume aumentado);
  • Quadros clínicos que aumentam o risco de trombose de veia porta, como: infecção no umbigo de recém nascidos ou apendicite aguda em crianças mais velhas.

Exames de sangue, como o teste de função hepática, é realizado apesar do resultado, quase frequentemente, mostrar não alterado.

A US Doppler confirma o diagnóstico. Ela mostra o fluxo sanguíneo pela veia porta reduzido ou ausente.

Figura 3: Imagem de trombose de veia porta – US Doppler
Fonte: scielo.com

Tratamento

O tratamento varia de acordo com a gravidade e evolução da trombose da veia porta.

Em alguns casos, usa-se anticoagulantes a longo prazo, pois reduzem as chances de formação de trombos.

Em casos agudos, a trombólise é, algumas vezes, bem-sucedida nos casos de oclusão recente, particularmente em estados de Hipercoagulabilidade. A anticoagulação não faz a lise do coágulo, mas tem valor na prevenção de recorrência em estados de Hipercoagulabilidade, apesar do risco de sangramento varicoso. Em neonatos e crianças, o tratamento é direcionado para a causa (p. ex., onfalite, apendicite). Do contrário, o tratamento é direcionado ao controle da hipertensão portal e de suas complicações, podendo incluir octreotida intravenosa (análogo sintético da somatostatina) e ligadura elástica endoscópica, para controle de sangramento varicoso, e betabloqueadores, para prevenção de ressangramento. Essas terapias têm diminuído o uso de shunts cirúrgicos (p. ex., mesocaval, esplenorrenal), que podem sofrer oclusão e têm mortalidade operatória em torno de 5 a 50%. TIPS não é recomendado, requer monitoramento (incluindo angiografia frequente) para acessar sua patência, que pode se ocluir, e não promove adequada descompressão do fígado.

Conclusão

Assim como qualquer outro problema vascular, a trombose de veia porta deve ser acompanhada de perto e deve ser levada em conta toda a seriedade que a patologia pede. O acompanhamento deve ser constante, e todo e qualquer diagnóstico diferencial deve ser descartado.


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências

Introdução – https://www.dreduardoramos.com.br/especialidades/figado/doencas-hepaticas/doencas-vasculares/trombose-da-veia-porta

Anatomia – https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/1379133/para+que+serve+a+veia+porta.htm

Função – https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/1379133/para+que+serve+a+veia+porta.htm

Etiologia – https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-hep%C3%A1ticos-e-biliares

Sintomas – https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-hep%C3%A1ticos-e-biliares

Diagnóstico – https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-hep%C3%A1ticos-e-biliares Tratamento- https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-hep%C3%A1ticos-e-biliares