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Úlcera por pressão: prevenir é o melhor remédio | Colunistas

Úlcera por pressão: prevenir é o melhor remédio | Colunistas

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Introdução

As úlceras por pressão são um tipo de lesão bastante conhecido. Tratam-se de lesões provocadas pela isquemia em alguma área da pele e tecidos subjacentes. Geralmente correspondem a locais com proeminências ósseas, já que estas contribuem com os mecanismos de formação destas lesões. São uma causa importante de morbimortalidade, atingindo pacientes com imobilidade prolongada e alterações de sensibilidade.

Um exemplo de úlcera por pressão (disponível em: https://www.bbraun.pt/pt/produtos-e-terapias/tratamento-da-pele-e-de-feridas/ulceras-por-pressao.html)

Fisiopatologia

Como o próprio nome sugere, estas lesões se dão devido à exposição da pele e do tecido subcutâneo a forças de pressão, fricção ou de cisalhamento. Estas forças promovem uma isquemia nas áreas afetadas, o que desencadeará um processo necrótico e, por fim, a formação da úlcera. Elas são mais comuns nas regiões corporais onde existe um maior contato entre as protuberâncias ósseas e a pele, como na região sacral, isquiática ou calcânea. Os locais de surgimento das lesões dependem também da posição em que o paciente está.

Locais de risco para úlcera de pressão a depender da posição do paciente. Ilustração adaptada do Clinical Practice Guidelines, Agency for Health Care Policy and Research, US Department of Health and Human Services (disponível em: https://www.coloplast.com.br/Global/Brasil/Wound/CPWSC_Guia_PU_A5_d7.pdf)

Existem diversos fatores de risco para o surgimento dessas lesões. O primeiro, e talvez mais importante deles, é a imobilidade. Pacientes restritos ao leito, se passarem várias horas seguidas na mesma posição, desenvolverão as lesões por pressão nos locais com comprometimento da circulação. Outro fator de risco importante é a anestesia. Caso o paciente apresente alguma disfunção nas transmissões dos impulsos dolorosos, ele não perceberá o desconforto local causado pela isquemia. Então, pacientes para ou tetraplégicos, por exemplo, também são um grupo de risco para essa condição.

 As mudanças dermatológicas provocadas pelo envelhecimento fisiológico da pele também favorecem o surgimento destas lesões. A epiderme e a derme do idoso passam por uma importante redução de espessura, devido à diminuição da densidade de fibras elásticas e de colágeno. Portanto, a pele apresenta um aspecto mais fino e mais susceptível a feridas. As mulheres pós-menopausa, pela redução dos níveis de estrógeno e progesterona, também passam por uma degradação do aspecto íntegro da pele. A desnutrição, a espasticidade muscular e a incontinência urinária e fecal também favorecem o surgimento das úlceras.

Existem escalas, como a escala de Braden, que preveem o risco de úlcera por pressão de acordo com os fatores de risco já apresentados. Existem seis critérios avaliados, e a pontuação vai de 6 a 23 pontos. Quanto mais pontos um paciente fizer, menos risco ele tem de desenvolver uma lesão por pressão. Essa escala é aplicada, principalmente, em cenários de Terapia Intensiva.

Escala de Braden (disponível em: https://www.iespe.com.br/blog/escala-de-braden/)

Prevenção

As úlceras de pressão são lesões de tratamento difícil e demorado. Por isso, evitar que elas apareçam é extremamente importante. Algumas medidas de prevenção que devem ser adotadas são os cuidados com a pele, mantendo-a limpa e hidratada; nutrição e hidratação adequadas, com alta ingesta hídrica e proteica; o suporte mecânico e a educação dos pacientes e de seus familiares. Quanto às medidas de suporte mecânico, destacam-se a mudança de decúbito do paciente a cada duas horas, a adoção de colchões especiais, travesseiros, bolsas de gel e curativos preventivos. É importante também manter o paciente sempre limpo, com especial atenção àqueles que apresentem incontinência fecal ou urinária.

Os estágios da lesão

Existem quatro estágios de classificação das úlceras por pressão, a depender de sua profundidade e dos tecidos acometidos pelo processo necrótico. Quanto maior o grau, mais severa é a lesão. Uma mesma lesão pode apresentar áreas em diferentes estágios.

  • Estágio I: a pele permanece íntegra, apresentando uma área de eritema fixo. Nesse estágio, a lesão se restringe à epiderme
  • Estágio II: já se observa uma úlcera superficial, de leito rosado, com possível presença de flictenas (bolhas). Nesse estágio, a lesão já atingiu a derme
  • Estágio III: perda total da espessura da pele, sem ainda atingir tecidos mais profundos, como ossos, tendões e músculo. Pode ser possível visualizar a camada de gordura do tecido subcutâneo
  • Estágio IV: perda total da espessura do tecido, com a lesão atingindo níveis mais profundos, como osso e músculo.
Ilustração esquemática das camadas de tecido atingidas em cada um dos estágios (disponível em: https://www.tuasaude.com/ulcera-por-pressao/)

Tratamento

O tratamento depende de diversos fatores, e varia de paciente para paciente. Alguns dos fatores que serão determinantes para decidir o curso de tratamento são o grau da lesão, a condição clínica do paciente e a possibilidade de recidivas. O tratamento pode ser clínico ou cirúrgico. Caso a ferida apresente crostas necróticas ou flictenas grandes, está indicado o desbridamento, de modo a evitar infecções no local.

O tratamento clínico consiste em fazer curativos, aplicar pomadas específicas e esperar a lesão cicatrizar por segunda intenção. É importante que os curativos mantenham a ferida seca, e protejam a região de infecções. Além disso, é necessário manter os cuidados preventivos, de modo a evitar a progressão da ferida e o aparecimento de novas. Caso haja complicações, como infecções, pode ser necessário o uso de antibióticos. Existem curativos com sistema de pressão negativa, que promovem uma cicatrização mais rápida devido ao aumento da circulação local, mas esses curativos ainda são muito caros, o que impossibilita seu uso em larga escala. O fechamento das lesões pode demorar meses, e, mesmo após o fechamento, a região ficará mais susceptível a novas feridas semelhantes.

Já o tratamento cirúrgico consiste em procedimentos grandes e invasivos, não sendo indicados para a maioria dos pacientes. Em pacientes com condições clínicas favoráveis e bom controle dos fatores de risco predisponentes às úlceras, pode ser realizada uma reconstrução local por vários meios, como a sutura simples, enxertos de pele e retalhos fasciocutâneos e miocutâneos.

O tratamento clínico conta com o uso de curativos (disponível em: https://www.vuelopharma.com/escaras-lesao-por-pressao/)

Conclusão

As úlceras por pressão são lesões prevalentes, e bastante desafiadoras para os profissionais da saúde, familiares e para o próprio paciente. É necessário que se realizem ações de prevenção adequadas, para evitar o surgimento desse tipo de ferida.

Autora: Isabelle Stapf

Instagram: @isastapf

Referências

Úlceras por pressão: prevenção e tratamento – https://www.bbraun.pt/pt/produtos-e-terapias/tratamento-da-pele-e-de-feridas/ulceras-por-pressao.html

Escaras de decúbito – https://www.msdmanuals.com/pt-pt/profissional/dist%C3%BArbios-dermatol%C3%B3gicos/escaras-de-dec%C3%BAbito/escaras-de-dec%C3%BAbito

Úlceras por pressão: prevenção e tratamento, um guia rápido da coloplast – https://www.coloplast.com.br/Global/Brasil/Wound/CPWSC_Guia_PU_A5_d7.pdf

Úlcera por pressão: o que é, estágios e cuidados – https://www.tuasaude.com/ulcera-por-pressao/

É normal a pele ficar mais fina com a idade; saiba quais cuidados tomar – https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2020/08/07/e-normal-a-pele-ficar-mais-fina-com-a-idade-saiba-quais-cuidados-tomar.htm

Como fazer curativos para escaras? – https://www.vuelopharma.com/escaras-lesao-por-pressao/

Conheça o uso da escala de Braden para a correta prevenção e tratamento de lesões por pressão (LP) em hospitais e especialmente em UTIs: https://www.iespe.com.br/blog/escala-de-braden/



O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

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