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Envelhecer: um processo natural
Com o passar dos anos, o corpo humano passa por transformações biológicas que convergem para a diminuição progressiva do funcionamento dos mais variados sistemas do organismo, caracterizando um processo chamado senescência. Cercado pelas mais variadas teorias, as quais vão desde o campo da genética – que associa o envelhecer à diminuição do tamanho dos telômeros – até teorias que apontam os radicais livres como atores importantes do processo de envelhecimento, a chegada da terceira idade é marcada por alterações significativas no indivíduo.
O envelhecimento e a maior suscetibilidade às doenças
A chegada a terceira idade não significa uma sentença de morte, nem tampouco a confirmação de que o indivíduo terá as suas funções físicas e sociais comprometidas. No entanto, a redução da capacidade funcional dos sistemas do organismo, dentre eles o sistema imune, associada a uma maior ineficiência fisiológica adaptativa cardiorrespiratória e renal, leva o indivíduo da terceira idade a uma maior predisposição a doenças, principalmente aquelas causadas por patógenos, como vírus e bactérias. Nesse ínterim, quando associado com afecções comuns de acometerem idosos, tais como hipertensão e diabetes, as infecções causadas por microrganismos podem ser agravadas e levarem o idoso a óbito.
Os gigantes da geriatria e a institucionalização de idosos
Em meio às afecções que podem afetar os idosos, existem sete condições dentro do campo da geriatria que estão intimamente relacionadas ao comprometimento funcional dos idosos e à redução da sua qualidade de vida, dentre eles, a síndrome da imobilidade, que se apresenta como um importante fator que leva muitos idosos a viverem em Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI), tendo em vista os desafios que tal síndrome traz para a vida do idoso, levando-se em conta o aumento do nível de dependência de terceiros para a realização de atividades básicas da vida diária.
A ida para uma ILPI, apesar de em sua grande maioria representar um aumento nos cuidados a esse idoso, atendendo às necessidades que ele requer no momento, pode acarretar repercussões psicológicas negativas, tendo em vista a redução da interação desse indivíduo com amigos e familiares, ocasionado pelo distanciamento, o que leva um relativo isolamento do idoso perante a dinâmica social.
A Covid-19 e as repercussões na terceira idade
Doença infecciosa causada pelo SARS-Cov-2 e descoberta em dezembro de 2019, a covid-19 já matou mais de 190 mil brasileiros, segundo dados do Ministério da Saúde de 26 de dezembro de 2020. Caracterizada por um quadro inflamatório que decorre de uma tempestade de citocinas, com uma resposta centrada em IL-6, o novo coronavírus possui a capacidade de promover alterações patológicas importantes, principalmente nos pulmões. Nos casos mais graves, os pacientes podem desenvolver a Síndrome Respiratória Aguda Grave e necessitarem de suporte médico em um Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Nos indivíduos idosos, e, principalmente, naqueles muito idosos (com 80 anos ou mais), a covid-19 pode desencadear alterações graves de forma mais incisiva, tendo em vista a diminuição da eficácia do sistema imune nos mais velhos, o que corrobora para uma menor capacidade do organismo em controlar o quadro inflamatório e evitar o desenvolvimento do quadro grave da doença. Diante desse cenário, os idosos se tornaram o grupo social com o risco elevado para óbitos decorrentes do novo coronavírus, o que requer uma maior precaução quanto aos cuidados com esses indivíduos, a fim de evitar a sua contaminação.
A nova rotina das ILPI em tempos de Pandemia
Em meio à presença de um vírus com alta capacidade de transmissibilidade e de mortalidade em indivíduos idosos, as ILPI tiveram de passar por alterações na dinâmica de funcionamento, desde o cancelamento de visitas de familiares até o aumento do cuidado por parte dos funcionários desses locais, no que tange aos cuidados dos idosos, a fim de evitar a instauração de um ciclo de contaminação nessas instituições. Tais medidas se fazem necessárias, tendo em vista que muitos idosos que vivem nessas instituições possuem comprometimento funcional significativo, além de possuírem doenças como diabetes e hipertensão arterial, que podem servir como fatores de complicação em um eventual quadro de covid-19.
Diante dessa nova realidade, os idosos passaram a ficar mais isolados, tendo em vista a restrição da presença de familiares e do convívio com outros moradores da ILPI, uma vez que atividades em grupo foram reduzidas ao máximo, tendo sido priorizado a permanência dos indivíduos em seus quartos. Apesar da tecnologia permitir o contato com a família por meio de videochamadas, acaba não tendo o mesmo impacto para o bem estar social e emocional do idoso do que a presença pessoal, além de que muitos idosos não possuem a capacidade de manusear, de forma autônoma, dispositivos como smartphones e computadores, restringindo as conversas com entes queridos em momentos predeterminados do dia. Tal situação pode desencadear repercussões psicológicas significativas, as quais podem levar a uma maior deterioração da capacidade funcional do idoso e antecipar a sua finitude.
O que esperar do pós-pandemia?
Com a chegada de uma vacina e o restabelecimento da dinâmica social, não se sabe ao certo o quão significativo terão sido os impactos causados aos idosos institucionalizados, e nem até que ponto as alterações ocorridas irão interferir no ambiente desses lugares. Certamente será necessário o empenho de uma equipe profissional multidisciplinar, a fim de que as transformações negativas ocorridas possam ser corrigidas e o bem estar social dos idosos possa ser gradativamente reestabelecido
O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.
Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.
REFERÊNCIAS
HAMMERSCHMIDT, Karina Silveira de Almeida; SANTANA, Rosimere Ferreira. Saúde do Idoso em tempos de Pandemia Covid-19. Cogitare Enfermagem, vol. 25. 2020.
MACHADO, Carla Jorge et al. Estimativas de impacto da COVID-19 na mortalidade de idosos institucionalizados no Brasil. Ciênc. Saúde coletiva, vol. 25, n.9, Set. 2020.
MARCON, Gabriella et al. COVID-19 mortality in Lombardy: the vulnerability of the oldest old and the resilience of male centenarians. AGING, vol. 12, n. 15, 12 Ago. 2020.
MORAES, Edgar Nunes de et al. COVID-19 nas instituições de longa permanência para idosos: estratégias de rastreamento laboratorial e prevenção da propagação da doença. Ciênc. Saúde coletiva, vol. 25, n. 9, Set. 2020.