Carreira em Medicina

Uretrite: Abordagem e Tratamento | Colunistas

Uretrite: Abordagem e Tratamento | Colunistas

Compartilhar
Imagem de perfil de Comunidade Sanar

A uretrite é inflamação da uretra geralmente causado por IST que se manifesta com disúria, secreção uretral e/ou prurido no final da uretra. 

Se a urinálise for positiva para esterease leucocitária, a coloração de Gram da secreção demonstrar 2 ou mais leucócitos por campo ou o sedimento da primeira urina demonstrar 10 ou mais leucócitos por campo de grande aumento, o diagnóstico de uretrite é confirmado. 

A uretrite é dividida em 2 categorias principais: uretrite gonocócica (UG) e uretrite não gonocócica (UNG), dependendo se a Neisseria gonorrhoeae foi ou não isolada. 

As causas mais comuns de uretrite não gonocócica são Chlamydia trachomatis e Mycoplasma genitalium. 

Epidemiologia

É doença comum. Estima-se que, no mundo, há cerca de 78 milhões de casos por gonorreia e 131 milhões de casos por clamídia ao ano, apresentando-se comumente como uretrite nos homens e cervicite nas mulheres.

A UNG decorrente de clamídia é 3 vezes mais frequente que UG. 

Etiologia

São divididas entre causadoras de UG e UNG. 

  • UG: N. gonorrhoeae. 
  • UNG: C. trachomatis (15 a 50%), Mycoplasma genitalium (6 a 20%), T. vaginalis, leveduras, HSV, adenovírus, outras bactérias (estreptococos, micobactérias e anaeróbios). 

Fisiopatologia

As bactérias que causam uretrite têm tropismo para mucosa e devem-se ligar à célula para causar infecção. Desse modo, causam inflamação. 

Se não tratada, uretrite pode resultar em epididimite, orquite, prostatite, proctite, cervicite, irite, pneumonia, estenose uretral, gravidez ectópica, infertilidade e DIP. Com a UG, pode ocorrer doença disseminada. 

Abordagem

História permite diferenciar entre causas infecciosas e não infecciosas. Uma pessoa sexualmente ativa que apresente secreção ou irritação uretral deve ser examinada para UG e UNG. 

Os critérios para diagnóstico clínico geralmente incluem documentação da secreção uretral, > 2 PMN na secreção ou > 10 no sedimento da primeira urina. A cultura urinária será negativa para patógenos entéricos. Não é possível diferenciar clinicamente UG e UNG. 

História

Na suspeita, história sexual precisa é essencial, sendo elementos importantes número de parceiros, existência de novos parceiros, início dos sintomas após o último contato sexual, tipo de exposição sexual, uso de preservativos e história prévia de IST do parceiro ou paciente. 

Fatores de Risco

  1. Fortes: idade entre 15 e 24 anos, sexo feminino, homens homossexuais, condições socioeconômicas precárias, IST prévia ou atual, uso irregular de preservativo. 
  2. Fracos: circuncisão. 

Não existem sintomas sistêmicos na uretrite não complicada. As mulheres podem apresentar cervicite concomitante. A presença de febre, polaciúria, urgência urinária, dor genital, artrite, pneumonia, dor nas costas ou flancos e exantema pustular ou petequial (gonorreia disseminada) sugere diagnósticos alternativos e complicações. 

A paciente deve ser examinada pela manhã ou 2 horas após micção, pois ela elimina temporariamente o corrimento e patógenos potenciais para cultura. 

Manifestações Clínicas

  • Secreção uretral: geralmente inicia-se entre 4 dias a 2 semanas após contato com parceiro infectado.
  • Irritação ou prurido uretral entre micções.
  • Disúria: presente em 73 a 88% dos casos com UG e em 53 a 75% dos casos de UNG. A presença de polaciúria e/ou urgência sugere cistite em vez de uretrite. 
  • Orquialgia: sugere epididimite, orquite ou ambos. 
  • Ausência de dor pélvica: a presença é mais sugestiva de ITU, endometrite, DIP ou doença mais extensa. 
  • Ausência de artrite: a presença sugere doença complicada, sendo observada na artrite reativa ou uretrite gonocócica disseminada. 
  • EF

Todo o TGU externo deve ser inspecionado para averiguar a presença de lesões e úlceras. Palpa-se a região para verificar a presença de linfadenopatia, massas e sensibilidade. Caso não haja secreção, ordenha-se uretra. Próstata deve ser avaliada. 

Secreção Uretral

A secreção pode ser transparente e mucoide até francamente purulenta. Caso haja secreção, deve-se corar pelo método de Gram e verificar a presença de PMN e diplococos intracelulares Gram-negativos. Swabs devem ser enviados para cultura e testes de biologia molecular devem ser feitos.

Rastreamento

O rastreamento de CT e NG é recomendado anualmente para: 

  • Mulheres sexualmente ativas até 24 anos ou maior com riscos de infecção (múltiplos parceiros, parceiro sexual com parceiras concomitantes, IST prévia e prostituição). 
  • Não há recomendações para homens, no entanto, para homossexuais há. 

Tratamento

Objetivos são aliviar sintomas e evitar transmissão. 

Para Infecções por NG

  • Ciprofloxacino 500 mg VO em dose única associado com azitromicina 1 g VO em dose única.
  • Ceftriaxona 250 a 500 mg IM associado com azitromicina 1 g VO em dose única. 
  • Na ausência de ceftriaxona, a alternativa é cefixima 400 mg VO em dose única associado com azitromicina 1 g VO em dose única ou cefotaxima 500 mg IM em dose única.  

Para Infecções por CT

Feito preferencialmente com azitromicina 1 g VO em dose única ou doxiciclina 100 mg 12/12h VO durante 7 dias. Opções alternativos são eritromicina 500 mg VO 6/6h durante 7 dias, ofloxacino 300 mg VO 12/12h durante 7 dias ou levofloxacino 500 mg VO 1x/dia durante 7 dias.

Complicações

UNG crônica, abscesso genitourinário, estenose uretral ou fístula, artrite reativa, infecção gonocócica disseminada, epididimite, conjuntivite aguda, pneumonia, sequelas do TGU superior, como salpingite, orquite, prostatite, proctite, cervicite, DIP, gravidez ectópica e infertilidade. 

Prognóstico

Os sintomas devem remitir em 3 dias (72 h) do tratamento com ATB. A recorrência ocorre por reinfecção ou falha no tratamento (ATB incompleto, coinfecção ou resistência). Os sintomas remitem em 6 meses em 95% dos pacientes com UG não tratada. Os sintomas de UNG geralmente desaparecem em 3 meses em 30 a 70% dos não tratados. 

Conclusões

A uretrite é uma doença de simples diagnóstico e tratamento, sendo esse último efetivo. Também é facilmente evitável com relações sexuais protegidas, medida que reduziria muito a incidência da doença. As mulheres com uretrite comumente apresentam cervicite concomitante e essa sim traz complicações mais facilmente. 

Autor: Luis Guilherme Miranda de O. Andrade

Referências

Uretrite BMJ 2022.

Tratado de Ginecologia FEBRASGO 2021.


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.