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Uso de contraceptivo oral e embolia pulmonar | Colunistas

Uso de contraceptivo oral e embolia pulmonar | Colunistas

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O uso de contraceptivos

Certamente você já ouviu falar que o uso de contraceptivo oral pode aumentar os riscos de desenvolver trombose. Muitos estudos desenvolvidos nos últimos anos vêm apontando fatores que se inter-relacionam e certificam que o uso de contraceptivo hormonais, principalmente os produzidos em altas concentrações de hormônios, como estrogênio e progesterona, interferem, além do ciclo menstrual, o sistema cardiovascular.

Os anticoncepcionais foram desenvolvidos com o princípio de impedir a fecundação sem que houvesse a abstinência sexual. Ainda em meados do século XX, foi visto como uma grande revolução e conquista para o movimento feminista que ascendia na época.

Trata-se, portanto, de pílulas com alto teor de hormônios, sobretudo estrogênio e progesterona sintéticos, que inibem a atuação e a autorregulação do ciclo menstrual, por meio do feedback negativo, que culminaria na inibição da ovocitação, momento propício para fecundação.

Classificação das pílulas contraceptivas

Existem, atualmente, vários meios para a prevenção de gravidez, entre eles: Método de barreira (principalmente camisinha), adesivos, diafragma, dispositivos intra-uterinos (DIU) – existem duas modalidades, tanto hormonal (Mirena) quanto o de cobre – e as pílulas, as mais usadas e conhecidas.

Dentre as modalidades de pílulas encontradas, destacam-se três tipos que se diferem pela composição e combinações. Tem a Pílula monofásica, que possui em sua fórmula quantidades equivalentes de estrogênio e progesterona, é a mais utilizada entre as mulheres. O uso tem início entre o primeiro e quinto dia da menstruarão e termina quando os comprimidos da cartela acabam. Tem-se uma pausa de 07 dias e o ciclo recomeça.

Existe no mercado também minipílulas, compostas apenas por progesterona (não possuem estrogênio), nessa modalidade as pílulas são tomadas sem interrupções em todos os dias. É indicada para lactantes.

Por fim, tem a pílula multifásica, com maior elaboração, tem distribuição e concentrações hormonais distintas ao decorrer do ciclo menstrual. De acordo com a literatura, possui menores efeitos adversos e deve-se respeitar a sequência indicada pelo fabricante na cartela. 

As pílulas contraceptivas ganharam muitas consumidoras por todo o mundo, de forma especial no ocidente, pois, além de ter uma taxa de eficiência geral superior a 90%, evitando gravidezes indesejadas, podem ser utilizadas no tratamento de sintomas do período menstrual – como cólicas, altos volumes de sangue e sangramentos irregulares – também auxiliam no tratamento de patologias, como endometriose e ovário policístico, além de ser grandes aliadas na reposição hormonal durante a menopausa.

Como as pílulas contraceptivas agem na corrente sanguínea

Como já mencionado, as pílulas contraceptivas têm papel fundamental para o controle da natalidade a partir do século XX e auxilia em outras esferas na dinâmica feminina. No entanto, apesar de seu efeito benéfico, elas podem afetar a composição sanguínea e contribuir para a homeostase do sangue, sendo um forte indicativo para formação de trombos.

Isso se dá pela constituição dos contraceptivos, sobretudo hormonal, que podem aumentar os fatores II, V, VIII, IX e XII da coagulação e, por sua vez, diminuem fatores anticoagulantes, como antrombina III, proteína S e proteína C. Em suma, o estrogênio sintético, usado para contracepção e reposição hormonal na menopausa, aumenta agentes vasoconstrictores e diminui vasodilatadores, de modo a acelerar a coagulação e aumentar a função plaquetária. Já drogas com base progestagênico atua no aumento da atividade fibrinolítica e no aumento do calibre de vasos, de modo a diminuir o fluxo sanguíneo e aumenta a prostaciclina.

Formação de Trombos e Embolia Pulmonar           

Nesse sentido, nos deparamos com um sério risco para o sistema cardiovascular, a formação de trombos na corrente sanguínea. Isso se dá pela formação de coágulos sanguíneos, principalmente em membros inferiores, podendo ter sua agressividade variada de acordo com as ramificações venosas e arteriais e extensões atingidas. Esse quadro torna-se mais propenso diante de alguns fatores de risco, tais como: idade superior a 35 anos, genética, tabagismos, hipertensão, obesidade, pós-operatório, infecção por SARS-COV-2; e o uso de anticoncepcionais ou reposição hormonal oral.

Diante do exposto, uma situação patológica demasiadamente séria pode decorrer das situações supracitadas, a embolia pulmonar ou trombose pulmonar. Uma vez em que houve a formação de trombos na corrente sanguínea, estes podem ser depositados ao longo dos vasos ou circularem no sentido do fluxo sanguíneo. Nessa última opção, os coágulos formados são capazes de obstruir vasos por onde circulam levando a complicações, como derrames locais e até mesmo amputação de membros, uma vez que impede a passagem de sangue para trocas gasosas nos tecidos.

Outrossim, quando este processo ocorre nos vasos que circundam os pulmões, faz com que o ciclo pulmonar seja interrompido na região afetada, e o oxigênio oriundo da respiração não consegue ganhar a corrente sanguínea para nutrir os tecidos, devido a ineficiência da hematose pulmonar. Alguns sintomas dessa condição são taquicardia, sensação de dispneia, edema nos membros inferiores, confusão mental, tosse e dor no peito, sendo que, de acordo com  o apontamento do Hospital de Cardio Pulmonar,  em 2019, a Embolia pulmonar é a terceira principal causa de mortes por complicações cardiovasculares.

Conclusão

Por fim, é de extrema importância, sempre que nos depararmos com a contracepção por via oral, ficar alertas para situações que podem desencadear o uso dessas drogas. Ressaltando que deve ser esclarecido ao paciente todos benefícios e riscos que podem ser oriundos do uso frequente dos anticoncepcionais, para que a melhor opção seja priorizada de modo a visar qualidade de vida do paciente.

Autora: Laura Santos Oliveira

Instagram: @laura.olivei_ // @medicina_contada


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências

https://www.jvascbras.org/article/5e2202630e882566696d0103/pdf/jvb-2-1-17.pdf

https://semanaacademica.org.br/system/files/artigos/tcc_4.pdf

https://www.cardiopulmonar.com.br/noticia/embolia-pulmonar-e-a-terceira-causa-de-morte-cardiovascular-no-mundo/