Farmacologia

Uso de cosméticos em bebês | Colunistas

Uso de cosméticos em bebês | Colunistas

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Introdução

A gestação é um período de preparação.

Preparação para a gestante e sua família, organização da casa e da rotina que logo vai mudar.

Em meio a isso, próximo ao final da gravidez – e as vezes até já no início, dependendo da gestante – é iniciada a compra de roupas, brinquedos e cosméticos para o bebê. Contudo, apesar da intensa propaganda a respeito de perfumes e sabonetes vistas na televisão e redes sociais, nem todos os produtos disponíveis em lojas, mercados e farmácias são ideais para os primeiros meses de vida da criança, podendo causar alterações cutâneas e alérgicas. Essa coluna busca sintetizar quais produtos são mais recomendados para os bebês e quais devem evitados.

A pele do bebê

A pele é o maior órgão do corpo humano, sendo um meio de comunicação do meio externo com o interno, além de fornecer uma barreira mecânica contra microrganismos, alterações bruscas de temperatura e agentes químicos. Ela é composta por três camadas denominadas de epiderme, derme e subcutânea, que começam a ser desenvolvidas com 10 semanas de gestação a partir dos folhetos embrionários ectodérmico e mesodérmico, sendo sua formação dividida em três etapas: organogênese, histogênese e maturação.

A organogênese se inicia nos primeiros trinta dias de gestação sendo concluído no segundo mês gestacional com a formação da parede rudimentar da pele. A segunda fase, denominada histogênese, seria a formação dos primeiros tecidos, durando até o final do primeiro trimestre, a partir de quando as células começam a se diferenciar e especializar, fase chamada de maturação.

Ainda assim, existem grandes diferenças entre a pele de um neonato e de um adulto.  Neonatos possuem uma pele de espessura mais fina, suas glândulas sudoríparas não são completamente funcionantes e a hipoderme pode ter variações de tamanho de acordo com o peso. Em relação aos prematuros, é observado que eles possuem um estrato córneo reduzido quando comparados aos recém-nascidos a termo, além disso, eles também têm uma perda hídrica transepidérmica mais acentuada e uma menor quantidade de colágeno.

O pH desses pacientes varia conforme os dias de vida, inicialmente um neonato a termo possui o pH de aproximadamente 6,34 sendo esse valor alterado após três a quatro dias de vida, tornando-se mais ácido e chegando a um pH de 4,95. Dessa forma, saber quais produtos podem ou não ser utilizados é uma informação valiosa que deve ser sempre passada para as mães no alojamento conjunto e em consultas de puericultura.

Sabonetes

Em relação aos produtos utilizados durante o banho, deve-se dar preferência a sabonetes glicerinados e líquidos com pH semelhante ao da pele do bebê. Os sabonetes em barra possuem um pH elevado que varia entre 9 e 10, quando utilizados podem alterar o pH infantil facilitando a colonização por certos microrganismos, em especial o Staphylococcus aureus, que possui uma maior capacidade de colonização em meios alcalinos.

Ainda assim, o produto de limpeza ideal seriam os detergentes sintéticos, também denominados de syndtes, com pH semelhante a pele da criança e presença de umectantes, ou emolientes. Não é indicado o uso de sabonetes que contenham aromatizantes, ou colorantes, pois possuem uma maior probabilidade de causarem lesões irritativas.

Hidratantes

Os hidrantes também são muito utilizados, sendo uma mistura de fase aquosa, oleosa e emulsificantes. Seu uso é controverso, pois ao mesmo tempo que previne o ressecamento, também podem causar irritações. Alguns autores indicam o uso diariamente em situações pontuais como xerose e dermatite descamativa. Contudo, no Brasil, pacientes de pele integra, sem xerose, ou lesões, o hidratante pode ser usado diariamente, uma vez ao dia, nos primeiros três minutos após o banho. O hidratante ideal seria aquele que contém ingredientes higroscópicos e oclusivos, como vaselina.

Fonte: Criado por autora.

Protetor solar

Protetor solar é um produto contraindicado para menores de 6 meses de vida, sendo que durante o período antecedente a esse a criança deve ter um tempo restrito de exposição solar. Os protetores solares disponibilizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) incluem mais de 38 substâncias diferentes, dentre elas apenas duas são indicadas para uso pediátrico, sendo elas o óxido de zinco e dióxido de titânio, ambos são filtros físicos e minerais sendo suas formulações a base de água e óleo. Tais substâncias estão menos relacionadas a processos alérgicos quando comparados às 36 outras formulações disponibilizadas pela ANVISA.

Lenços umedecidos

Os lenços umedecidos são amplamente utilizados, entretanto, no Brasil, é aconselhado que eles sejam usados apenas em situações pontuais, quando a limpeza com água e sabão não é possível.

Esses produtos são não-tecidos embebidos em uma solução aquosa, ou oleosa potencialmente irritativa a pele dos neonatos. O uso de lenços umedecidos esteve relacionado à dermatite de contato, processos urticariformes e também dermatites irritativas na área de fraldas.

Existem dois tipos de lenços umedecidos: um fino, onde o não-tecido é aglutinado a partir de uma substância adesiva, enquanto o outro, mais grosso, já é produzido com suas fibras entrelaçadas, sendo mais indicado para uso em neonatos, pois não possui a mesma formulação química que o primeiro. Dessa forma, os lenços umedecidos escolhidos pelas puérperas devem ser hipoalérgicos, de pH neutro e com alto teor de água, informações que podem ser analisadas nas embalagens dos produtos.

Fonte: Criado por autora.

Conclusão

O uso de produtos na pele do bebê deve ser restrito nos primeiros meses de vida com o intuito de reduzir as chances do mesmo desenvolver alergias. Assim, é importante orientar aos pais e cuidadores quais produtos são mais recomendados para a pele do bebê durante as consultas de puericultura, levando-se em consideração a região onde residem, aspecto da pele e meses de vida. 

O texto acima é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Referência Bibliográfica

  1. Markus, J.R. Consenso de cuidado com a pele do recém-nascido. Sociedade Brasileira de Pediatria., 2015. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/flipping-book/consenso-cuidados-pele/cuidados-com-a-pele/assets/downloads/publication.pdf . Acesso em 09 de março de 2021.
  • Cunha MLC, Mendes ENW, Bonilha ALL. Skin care of the newborn. Rev Gaúcha Enferm., 2018.  Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/23502/000347396.pdf?sequence=1
  • Burns, D.A.R. Tratado de Pediatria: Sociedade Brasileira de Pediatria. 2 ed. São Paulo: Manole; 2010.
  • Procianoy, R.S., Pires, M.C., Munoz, J.T. Cuidados com a Pele Infantil. I Painel Latino-Americano. São Paulo: Editora Limay, 2010