O combate à COVID-19 poderá contar com o reforço de duas vacinas muito utilizadas em todo o mundo: a antituberculose BCG e a Tríplice Viral, destinada à prevenção de sarampo, caxumba e rubéola. Cientistas do Brasil e do mundo já avançam em estudos que usam um reforço dos dois imunizantes como prevenção ao novo coronavírus.
Isso porque ambas induzem uma resposta imunológica específica contra os agentes para os quais foram desenvolvidas e uma reação mais genérica contra vários outros agentes infecciosos.
Os estudos avaliam se elas podem ser boas alternativas de prevenção à infecção pelo SARS-CoV-2, sobretudo para os mais jovens, que, como não fazem parte do grupo de risco, ainda vão demorar para receber os imunizantes específicos para COVID-19.
Em entrevista ao Estadão, o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), Juarez Cunha, indicou que a conduta pode ser interessante diante de uma doença para a qual ainda não há tratamento.
“Resultados preliminares indicam que as pessoas que receberam essas vacinas têm alguma proteção para casos de doença sintomática e de internações. No entanto, esses resultados não foram ainda publicados, então ainda é cedo para fazer uma recomendação”, esclareceu Cunha.
Alguns resultados preliminares
Um estudo desenvolvido na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) com a Tríplice Viral indica que, embora a vacina não proteja contra o novo coronavírus, ela reduziria em 54% os casos sintomáticos. Também diminuiria em 74% as internações. O estudo revela ainda que essa imunidade inespecífica duraria pouco. Seriam de seis a doze meses. O trabalho ainda não foi publicado em revista científica, com revisão de pares.
Outro trabalho, de pesquisadores de diferentes instituições norte-americanas, foi publicado ano passado na revista da Sociedade Americana de Microbiologia. Ele analisou a presença de anticorpos para sarampo, caxumba e rubéola em pacientes com COVID-19 e concluiu que aqueles que tinham as maiores taxas apresentaram casos menos graves de covid-19.
Já a Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, publicou um estudo na revista Science que diz que o número de mortes por COVID-19 seria menor nos países onde a vacinação contra a tuberculose é obrigatória.
O estudo aponta ainda que o número de óbitos pelo novo coronavírus no Brasil poderia ser até 14 vezes maior do que o registrado se não houvesse a imunização contra o Bacilo Calmette-Guérin (BCG).
O ideal são as vacinas específicas
Ainda é cedo para saber se as vacinas BGC e Tríplice Viral poderão ajudar no combate à pandemia do novo coronavírus. “Só estamos tendo essa discussão agora porque não temos vacina em larga escala e, se continuar do jeito que está, ainda vai demorar muito para os menores de 60 anos receberem o imunizante. Mas o ideal é que o governo compre vacinas específicas”, disse, ao Estadão, o epidemiologista da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Fernando Barros.
O grupo de pesquisadores que ele integra, formado também por cientistas da UFPel e da UFSC, também está tentando desenvolver uma nova vacina contra o SARS-CoV-2 a partir da alteração genética da bactéria atenuada presente na vacina BCG.
Assim, a vacina continuaria oferecendo proteção contra a tuberculose, mas também preveniria a covid-19. Por enquanto, há apenas testes pré-clínicos.