Cardiologia

Você sabe estratificar o risco cardiovascular em pacientes pediátricos? | Colunistas

Você sabe estratificar o risco cardiovascular em pacientes pediátricos? | Colunistas

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De acordo com Ferranti et al. (2019), a doença cardiovascular é a maior causa de morte nos EUA. Em um estudo com 380 adolescentes de 10 a 14 anos, sendo 177 meninos e 203 meninas, 5,1% dos garotos tiveram a pressão arterial (PA) limítrofe, 6,2% tinham obesidade e 0,6% apresentaram uma alta glicemia em jejum (RODRIGUES et al., 2009).

 Nas garotas, 11,8% tiveram a PA limítrofe, 4,9% tinham obesidade e 0,5% apresentaram uma alta glicemia em jejum (RODRIGUES et al., 2009). Esses dados mostram que a exposição aos fatores de risco está alcançando pacientes mais jovens e, por isso, é necessário que o profissional de saúde saiba o algoritmo de estratificação do risco cardiovascular na pediatria e de tratamento, o qual consiste nas seguintes etapas (FERRANTI et al., 2019):

Primeira etapa: Classificar de acordo com os fatores de risco em três grupos:

  • Alto risco: Doença renal em último estágio, diabetes mellitus tipo 1, doença de Kawasaki com aneurismas persistentes e sobrevivência ao câncer na infância;
    • Risco moderado: Obesidade moderada, diabetes mellitus tipo 2, hipertensão diagnosticada e coartação;
    • Baixo risco: obesidade, resistência insulínica com comorbidades e hipertensão pulmonar.

Segunda etapa: Verificar se o paciente tem perfil lipídico em jejum, passado de tabagismo, história familiar de CAD em parentes de primeiro grau (homens: acima de 55 anos e mulheres: acima de 65 anos), 3 medidas da pressão sanguínea (em ocasiões diferentes), glicose em jejum e história de atividade física. Se tiver 2 ou mais fatores de risco, isto eleva o grau do risco do paciente.

Terceira etapa: Alcançar asmetas de tratamento

  • Alto risco: LDL igual ou menor que 100 mg/dL; HbA1c menor que 7%; PA igual ou menor que 120×70 mmHg; FG menor que 100 mg/dL
    • Risco moderado: LDL igual ou menor que 130 mg/dL; HbA1c menor que 7%; PA igual ou menor que 120×70 mmHg; FG menor que 100 mg/dL
    • Em risco: LDL igual ou menor que 160 mg/dL; HbA1c menor que 7%; PA igual ou menor que 120×70 mmHg; FG menor que 100 mg/dL

Quarta etapa: Para pacientes de baixo e moderado risco, deve-se iniciar apenas a mudança de estilo de vida (MEV). Já para os de alto risco, o manejo inicial deve ser estimular MEV e terapia medicamentosa específica para a doença base.  Para ocorrer a MEV, é necessária a adoção de uma alimentação mais saudável. Um bom exemplo de prato saudável é aquele que apresenta a seguinte conformação (HARVARD T.N. CHAN, 2019):

  • Metade do prato (1/2): Vegetais e legumes. Lembre-se que quanto mais colorido e diverso melhor!
  • Um quarto do prato (1/4): Esse grupo é composto por grãos integrais, como arroz integral, pão integral, aveia e entre outros. É importante limitar grãos refinados, ou seja, carboidratos feitos por farinha branca.
  • Um quarto restante (1/4): Esse grupo é composto por proteínas, como peixe, frango, feijão e nozes. Deve-se reduzir o consumo de carne vermelha e queijo. Deve-se evitar bacon e carnes embutidas.
  • Algumas orientações: Use óleos saudáveis, como azeite de oliva e canola na salada. Limite o uso da manteiga e evite o consumo de margarina. Em relação aos líquidos, beba bastante água. A ingestão de chá e café deve ser feita com pouca ou nenhum açúcar. Evite bebidas açucaradas, como refrigerante.

Além disso, para as pessoas de 5 a 17 anos, MEV também inclui a prática de atividade física que deve ser aeróbica e ter uma duração mínima de 60 minutos, 3 vezes na semana (WHO, 2011).

            Quinta etapa:

  • Hiperlipidemia familiar (FERRATI, 2019): O tratamento não medicamentoso envolve MEV. Já o tratamento medicamentoso, consiste em baixas doses de estatina para crianças de 8 a 10 anos de idade (quando nota-se benefício no uso da droga) para alcançar uma redução de 50% ou ter um LDL menor que 130 mg/dL. Se essa redução não foi alcançada, deve-se adicionar a ezetimiba.
    • Diabetes mellitus tipo 2 (CALABRIA, 2019): O tratamento também envolve MEV associado a farmacoterapia. Os medicamentos utilizados são a metformina (único fármaco anti-hiperglicêmico oral aprovado para pacientes pediátricos e deve ser introduzido em doses baixas para alcançar a meta de HbA1c < 6,5%) e a insulina (deve ser introduzida para pacientes graves com HbA1c > 9% e se não tiver acidose, deve-se iniciar a insulina junto com a metformina).

Hipertensão (MAGALHÃES et al, 2002): Além da mudança de estilo de vida, o tratamento medicamentoso deve ser introduzido. Inicialmente, deve-se usar inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA) e bloqueadores de canais de cálcio (BCC), sendo que o primeiro deve ser monitorado por causa do seu efeito teratogênico. Caso haja doença renal, associa-se diurético.

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