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A Formação Reticular e a sua importância | Colunistas

A Formação Reticular e a sua importância | Colunistas

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A formação reticular é uma região intermediária entre fibras brancas e cinzentas, localizadas ao longo do tronco encefálico. É uma região que possui comunicação com o córtex, recebendo aferências importantes do sistema límbico e do hipotálamo; com o cerebelo, também recebendo aferências deste; com a medula, por meio das fibras eferentes rafe-espinais e reticuloespinhais e fibras aferentes espinorreticulares; e com o núcleos dos nervos cranianos, recebendo fibras deles.

As três principais estruturas da formação reticular são:

– Núcleos da rafe (9), sendo o principal deles o núcleo magno da rafe, secretores de serotonina.

– Locus ceruleus: localizados no assoalho do quarto ventrículo e secretores de noradrenalina.

– Núcleo pedúnculo-pontino: localizado na ponte e secretora de acetilcolina.

A Relação existente entre o ciclo sono-vigília e a formação reticular 

O sono é um fenômeno biológico de extrema importância para a manutenção da homeostase do organismo. Ele está organizado em quatro fases, sendo as duas últimas caracterizadas como fase de ondas lentas [sono NREM (non-rapid even movement)], na qual os traçados do Eletroencefalograma (EEG) se apresentam sincronizados, com ondas de alta amplitude e baixa frequência. Além disso, postula-se que cerca de 25% do sono seja composto pelo sono REM (rapid even movement), caracterizado por um período de traçados dessincronizados no EEG, com ondas rápidas de baixa amplitude e alta frequência. Acredita-se que seja durante o sono REM que haja a consolidação das memórias no hipocampo, sendo característico dessa fase os sonhos. 

A formação reticular está relacionada de forma significativa com o ciclo sono-vigília, bem como com as fases do sono. O locus ceruleus (produtor de noradrenalina), os núcleos da rafe (produtores de serotonina) e a área tegmentar ventral (produtora de acetilcolina), constituintes da formação reticular, são importantes para a manutenção da vigília e, em especial, a acetilcolina, está envolvida na fase REM do sono. O locus ceruleus e os núcleos da rafe, em conjunto com o núcleo pedúnculo-pontino (produtor de acetilcolina), são denominados de Sistema Ativador Reticular Ascendente (SARA). Ao ascender, na transição entre o mesencéfalo e o diencéfalo, o SARA divide-se em um ramo dorsal e um ramo ventral. O ramo dorsal, constituído por fibras colinérgicas, dirige-se aos núcleos intralaminares do tálamo, de onde irão em direção ao córtex. Já o ramo ventral é constituído por fibras serotoninérgicas, fibras noradrenérgicas e fibras colinérgicas, as quais vão em direção ao hipotálamo lateral, onde irão receber fibras histaminérgicas provenientes do núcleo tuberomamilar do hipotálamo posterior, e, após isso, acendem em direção ao córtex. Outra região importante e que participa do ciclo sono-vigília é o prosencéfalo basal, o qual possui o núcleo basal de Meynert, rico em acetilcolina, de onde emergem fibras para o córtex. O conjunto formado pelo SARA, pelas fibras histaminérgicas do núcleo tuberomamilar e pelo núcleo basal de Meynert é chamado de Sistema Ativador Ascendente (SAA). 

No núcleo pré-óptico ventrolateral do hipotálamo anterior estão localizadas fibras ricas no neurotransmissor inibitório ácido gama-aminobutírico (GABA). Durante a vigília, a região citada anteriormente se mantém inativada por influência do SAA, porém, próximo ao horário de início do sono e durante a sua manutenção, as fibras ricas no neurotransmissor gaba irão inibir o SAA. Além disso, fibras do núcleo reticular do tálamo também vão inibir aferências sensitivas que chegam aos núcleos talâmicos, contribuindo para a instauração do sono. Durante a vigília, o SAA é responsável pelos traçados dessincronizados observados no EEG. Já durante o sono REM, os traçados dessincronizados observados no EEG são resultado da ativação do núcleo pedúnculo-pontino e do núcleo basal de Meynert, ambos ricos em fibras colinérgicas. Dessa forma, caracteriza-se que o sono REM tem influência direta da acetilcolina.

A Via de Analgesia

A via de analgesia é um sistema de supressão da dor, no qual diferentes componentes fazem parte. A substância cinzenta periaquedutal está localizada no mesencéfalo, e por meio de um neurônio de encefalina se dirige ao núcleo magno da rafe (estrutura que compõe a formação reticular) localizado no quarto ventrículo, o estimulando. O núcleo magno da rafe, por meio da fibra rafe espinal, vai até o neurônio encefalinérgico, localizado na substância gelatinosa do corno anterior da medula, local onde secreta o neurotransmissor serotonina, estimulando o neurônio rico em encefalina. Dessa forma, o neurônio encafalinérgico, por meio da secreção de encefalina, irá inibir a comunicação entre o neurônio sensitivo (1º neurônio) que carrega a informação sensorial da dor e o neurônio (2º neurônio) que irá ascender pela via anterolateral levando a informação para o córtex.

Referências 

ALOÉ, Flávio; AZEVEDO, Alexandre P. de; HASAN, Rosa; Mecanismos do ciclo sono-vigília. Rev Bras Psiquiatr, São Paulo, v. 27, Supl. 1, p. 33-39, 2005.

GOMES, Marleide da M. ; QUINHONES, Marcos S.; ENGELHARDT, Eliasz. Neurofisiologia do sono e aspectos farmacoterapêuticos dos seus transtornos. Rev Bras Neurol, Rio de Janeiro, v. 46, n. 1, p. 5-15, 2010.

GUYTON, Arthur C.; HALL, John E. Tratado de Fisiologia Médica. 13. ed. Rio de Janeiro. Elsevier, 2017.

MACHADO, Ângelo; HAERTEL, Lucia M. Neuroanatomia Funcional. 3 ed. São Paulo. Atheneu, 2014.

Autoria: Cristovão Pereira dos Santos Júnior

Instagram pessoal: @cristovao.junior1


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

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