O sinal de Nikolsky é muito conhecido na área dermatológica para a pesquisa e diagnóstico de alguns tipos de doenças de pele. Ele consiste em pressionar a lesão de pele perilesional com o dedo ou um objeto rombo: quando há deslocamento parcial ou total da epiderme, o sinal é positivo.
Este sinal tem grande importância semiológica, pois por meio dele é possível pressupor o nível da lesão. Como exemplo, sabe-se que quando a clivagem é intraepidérmico, o assoalho fica pouco seroso e com uma tonalidade róseo-amarelada. Quando o descolamento ocorre ao nível da junção dermoepidérmica, toda a epiderme se descola, e, como resultado, o assoalho torna-se hemorrágico e de tonalidade róseo-avermelhada. Por fim, quanto mais superficial for a clivagem, mais facilmente será obtido o sinal de Nikolsky.
Há uma variante do sinal de Nikolsky, que é o sinal de Asboe-Hansen, que consiste na aplicação vertical de pressão sobre a bolha, que é positiva se ela aumenta perifericamente.
Sinal de Nikolsky positivo

É muito comum ter esse sinal positivo em algumas doenças, como nos pênfigos, e em outras buloses, como é o caso da necrólise epidérmica tóxica. A seguir serão apresentadas algumas doenças em que o sinal de Nikolsky pode ser positivo.
Pênfigos
Pênfigos são afecções bolhosas autoimunes, de evolução crônica e ilimitada, que possuem tendência a progressão e prognóstico reservado. As bolhas decorrem de processo acantolítico, induzido por autoimunidade e são intraepidérmicas. Os antígenos variam conforme o tipo de pênfigo, podendo ser as desmogleínas, desmocolinas e desmoplaquinas, moléculas constituintes dos desmossomos.
Manifestações clínicas do pênfigo
As manifestações clínicas variam conforme a classificação. Há prurido sobretudo no pênfigo herpetiforme, mas pode ocorrer por IgA. A fotossensibilidade pode ser marcante, sobretudo no pênfigo foliáceo e algumas vezes no pênfigo vulgar.
A seguir, estão listados alguns tipos de pênfigo. É importante ressaltar, que independentemente do tipo, o sinal de Nikolsky é frequentemente positivo.
Pênfigo vulgar
Mais comum de todos os pênfigos, é caracterizado pela presença de bolhas na pele e na boca. As bolhas provocam dor e ocasionalmente podem desaparecer, mas podem ficar manchas escuras durante meses. Afeta sobretudo mulheres com idade entre 40 a 60 anos.
Pênfigo bolhoso
Nesse tipo, há a presença de bolhas rígidas e profundas que não estouram facilmente. Mais comumente encontrado em idosos.
Pênfigo foliáceo
Mais comum encontrado em zonas tropicais, tem como característica o surgimento de feridas ou bolhas não dolorosas, que aparecem primeiramente no rosto e couro cabeludo, mas podem se estender para o tórax e outros locais. Tem início súbito e rápido desenvolvimento. Após a abertura das bolhas, permanece uma crosta fina.
Pênfigo vegetante
É um tipo benigno do pênfigo vulgar, caracterizado por bolhas na virilha, axilas ou região íntima.
Pênfigo eritematoso
Um tipo benigno do pênfigo foliáceo. Tem por característica bolhas superficiais no couro cabeludo e rosto, podendo ser confundido com dermatite seborreica ou lúpus eritematoso.
Pênfigo paraneoplásico
Está associado a alguns tipos de câncer, como linfomas ou leucemias. É o tipo mais raro.
Lesão na boca por pênfigo vulgar

Síndrome da pele escaldada estafilocócica
A síndrome da pele escaldada estafilocócica, também chamada de impetigo neonatal de Ritter von Ritterschein, é outra doença que apresenta o sinal de Nikolsky positivo. É uma afecção bolhosa superficial produzida pela toxina esfoliativa – esfoliatina – do Staphylococcus aureus do grupo 2.
A infecção inicia-se, muitas vezes, na conjuntiva, na nasofaringe, no ouvido, no trato urinário ou na pele, seguida de rash eritematoso escarlatiforme, que pode ser mais pronunciado nas flexuras. Há a formação de bolhas flácidas, que ocorrem em cerca de 24 a 48h, sobretudo nas flexuras e ao redor de orifícios. Quando as bolhas se rompem, originam extensas áreas exulceroexsudativas, fazendo parecer uma queimadura. Sintomas gerais, como febre e irritabilidade, estão presentes.
Síndrome da pele escaldada

Conclusão
Como demonstrado, o sinal de Nikolsky é um sinal semiológico muito usado, que tem importância sobretudo no diagnóstico de pênfigos e necrólise epidérmica tóxica. Dessa forma, se torna uma ferramenta de fácil uso dentro da clínica, podendo ajudar no diagnóstico diferencial de diversas afecções.
O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.
Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.
REFERÊNCIAS
Cunha, Paulo R.; Barraviera, Silvia Regina Catharino Sartori. Dermatoses bolhosas auto-imunes. Anais Brasileiros de Dermatologia, v. 84, n. 2, p. 111-122, 2009. Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/70945>.
Sinal de Nikolsky in Dicionário infopédia de Termos Médicos [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2021. Disponível em: https://www.infopedia.pt/dicionarios/termos-medicos/sinal de Nikolsky.