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O desenvolvimento motor é o processo de mudança na motricidade que ocorre ao longo de toda a vida e depende tanto da maturação do sistema nervoso central como do crescimento físico, ambos influenciados pelos primeiros estímulos que um indivíduo recebe quando criança.
Em função disso, a primeira infância (fase que compreende desde o nascimento até os cinco anos) é um relevante período da vida por ser o princípio da exploração com o meio em que a criança está inserida e quando há grande plasticidade neuronal, isto é, alta adaptabilidade cerebral.
Essa plasticidade é o que permite o aprendizado de novas habilidades, como engatinhar, andar, falar e arremessar objetos, que são componentes dos marcos do desenvolvimento infantil – que serão estudados mais à frente.
Além disso, como o desenvolvimento neuropsicossocial durante a primeira infância é um dos alicerces que afetam o crescimento saudável do indivíduo até a vida adulta, você deve estar atento aos fatores de risco que dificultam esse crescimento, bem como aos possíveis sinais de alerta de atraso motor e compreender as maneiras de estimular as crianças, de modo que elas se mantenham capazes de realizar atividades progressivamente mais complexas.
Neuroplasticidade na infância
A adaptação do sistema nervoso (tanto a níveis funcionais quanto estruturais) ocorre devido à alta sinaptogênese e à grande regulação da população neuronal que se dão nos primeiros anos de vida e, por isso, essa fase é chamada de período crítico.
Isso significa que, apesar da neuroplasticidade estar presente ao longo de toda a vida (o que permite o aprendizado de novas habilidade em qualquer idade), esta será maior na infância se houver ainda mais exposição a um ambiente com estímulos sensório-motores positivos. Um exemplo disso é que provavelmente você já deve ter percebido que crianças pequenas aprendem tão rapidamente a usar o celular que parecem ter nascido prontas para o uso dessa tecnologia.
Marcos do Desenvolvimento Motor Infantil
Os marcos do desenvolvimento motor são referências utilizadas para saber se uma criança obteve a capacidade de realizar cada atividade em um período de tempo esperado.
Os limites para atingir esses principais marcos do desenvolvimento podem ser acompanhados pela caderneta infantil:
Fonte: Caderneta de Saúde da Criança. Ministério da Saúde. 2013, pp. 44-47.
Imagens ilustrativas também ampliam a acessibilidade dessas informações:

Tais marcos são importantes para observar possíveis atrasos e fazer o diagnóstico precoce, pois quanto antes for feita a intervenção em doenças motoras na infância, com o tratamento multidisciplinar adequado, melhor será o prognóstico.
Sabe-se que muitas vezes os pais e responsáveis deixam de estimular corretamente suas crianças, seja por falta de conhecimento, seja por vícios comportamentais na rotina. Portanto, é importante a orientação do médico no sentido de instruí-los adequadamente, a fim de reverter essa situação.
Segundo a OMS, como orientar os pais e responsáveis?
Novas diretrizes sobre atividades físicas, sedentarismo e sono durante a primeira infância foram publicadas pela OMS em 2019:

Aproveitando as orientações…
No primeiro mês, os pais e responsáveis podem aproveitar quando o bebê estiver acordado para cantar, conversar e interagir com ele, dada a importância do afeto nesse período da vida para o estímulo que se busca.
No próximo mês, já é possível colocá-lo em decúbito ventral com o propósito de criar a noção de lateralidade através de brinquedos que emitam sons e sejam coloridos.
Com o passar dos meses, deixá-lo sentado com apoio é importante para auxiliar na postura e futuramente na motricidade. Além disso, interagir com ele por meio de brincadeiras de esconder e deixá-lo no chão (sob observação do responsável) irá incentivá-lo a se movimentar cada vez mais, aprendendo a rolar e a alcançar sozinho os brinquedos que estiverem longe.
Importante também é que cada brinquedo seja de acordo com a idade das crianças, respeitando suas fases. De início, é mais interessante estimulá-las com brinquedos de encaixe e de diferentes formas, pois elas estão aprendendo intensamente sobre o mundo ao seu redor e desenvolvendo seu raciocínio. Posteriormente, serão mais significativos para desenvolver força e equilíbrio os brinquedos de montar, empurrar e puxar, assim como escorregadores e balanços.
Fatores de risco
Condições biológicas e ambientais podem dificultar o desenvolvimento neuropsicomotor na primeira infância, são elas:
⦁ Condições biológicas: uso materno de drogas durante a gestação, infecções congênitas, síndromes genéticas, malformações congênitas, baixo peso ao nascer (principalmente < 1500g), retardo do crescimento intrauterino, prematuridade, hipóxia neonatal grave e distúrbios metabólicos graves.
⦁ Condições ambientais: condição socioeconômica desfavorável, acesso precário à saúde e à educação, ambiente familiar nocivo (violência e maus tratos).
Importância da Atenção Multidisciplinar
É fundamental que os pais e responsáveis mantenham um bom diálogo com professores e pedagogos, possibilitando que eles sejam comunicados por estes profissionais sobre eventuais dificuldades motoras que sua criança apresente para realizar alguma atividade esperada na sua faixa etária.
Tendo sido notada ou avisada por um profissional qualquer dificuldade do tipo, a criança deve ser encaminhada ao pediatra, sendo este o responsável por avaliar cada caso por meio de uma consulta individualizada e agir de acordo com a necessidade de cada criança.
Ademais, pode ser utilizado por ele um plano de intervenção conjunta com neuropediatras, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e psicólogos, de modo que se possam ser revertidas ou minimizadas já na primeira infância as dificuldades motoras cujos danos podem ser capazes de afetar o desenvolvimento neuropsicossocial ao longo dos demais períodos da vida.
Autora: Bianca Rosa
Instagram: @biancarosax