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A Otite Média Aguda (OMA) Pediátrica | Colunistas

A Otite Média Aguda (OMA) Pediátrica | Colunistas

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Imagem de perfil de Comunidade Sanar

A otite média aguda (OMA) corresponde à inflamação da orelha média, a qual é decorrente de infecções. Essa condição representa uma das principais intercorrências infecciosas presentes na infância, principalmente em pré-escolares. Desse modo, causa importante de antibioticoterapia, o que corrobora a importância do conhecimento sobre a temática e seu adequado tratamento.

Etiologia

 A princípio, a  otite média aguda possui etiologia principalmente  bacteriana,  sendo  os principais agentes etiológicos : Streptococcus pneumoniae, Haemophylus influenzae e Moraxella catarrhalis, e ainda, estudos microbiológicos evidenciam que uma  porcentagem importante é causada pelo Staphylococcus aureus.

 Ademais, deve-se lembrar que a OMA pode ocorrer também em função de uma infecção viral, especialmente pelo vírus sincicial respiratório, adenovírus, influenza A ou B. Assim, a  não resolução ou demora da resposta à antibioticoterapia, pode ser indicativo de otite média viral, e não bacteriana.

Predisposição e Fatores de risco

Essa infecção pode acometer pessoas de qualquer faixa etária, no entanto,  crianças representam o grupo com maior prevalência de OMA. Isso porque, anatomicamente, apresentam  tuba auditiva mais horizontalizada e mais curta, em relação aos adultos, o que favorece a migração de germes nasofaríngeos para a orelha média. Em associação a esse fator, a imaturidade do sistema imunológico dificulta o combate à infecção.

Já quanto aos fatores de risco, o uso de  chupetas, falhas no aleitamento ou não aleitamento  materno e  frequentar creches estão entre os principais elementos que os deixam mais suscetíveis. Não obstante, a exposição à fumaça do tabaco possui papel importante nesse ranking, já que a exposição ao fumo aumenta o risco de OMA em 277%.

Figura 1.  Anatomia  horizontalizada da tuba auditiva infantil                            
 Fonte: Otite Média – PediatriaVirtual.com 

Manifestações clínicas e Prevenção

Inicialmente, a otalgia representa a principal queixa da OMA, porém irritabilidade, choro frequente, febre, náuseas e vômito podem estar presentes. Além disso,  ao exame físico, com auxílio do otoscópio, a membrana timpânica apresenta-se abaulada com coloração opaca (branca ou amarelada), com ou sem hiperemia.

Por outro lado, em alguns casos, ocorre a perfuração da membrana timpânica e a liberação de secreção purulenta. Em geral, a lesão é pequena e dificilmente visualizada, com tamanho suficiente para liberação do exsudato inflamatório. Por fim, é importante ressaltar que é bastante prevalente a associação de otite média a quadros de Infecções de vias respiratórias superiores(IVAS). Aproximadamente 29-50% de todas as IVASs evoluem com uma OM, principalmente entre 6 meses-2 anos e 5-6 anos.

Para prevenção da OMA se faz necessário algumas ações como:  vacinação infantil contra pneumococos, H. influenzae tipo B e influenza, fazendo com que seja menor a recorrência de infecções de vias aéreas superiores  e consequentemente menor risco de OM. Além disso,  a não exposição desses bebês e crianças à fumaça do cigarro é muito importante, pois, como já citado anteriormente, as substâncias tóxicas presentes no tabaco aumentam em mais de 200% o risco OM.  Por fim, é extremamente relevante ressaltar a importância da amamentação materna nos primeiros seis meses de vida, visto que, por meio da amamentação, o sistema imunológico do bebe é fortalecido, através da transferência de imunoglobulinas, principalmente as imunoglobulinas do tipo A IgA.

 Figura.2 Membrana timpânica abaulada e eritematosa
Fonte: Conectar-se | BMJ Best Practice  

Do Diagnóstico ao Tratamento

O diagnóstico de otite média aguda é clínico, assim, está fundamentado na história clínica, nos sinais e sintomas da criança, como otalgia, irritabilidade, febre, como também no resultado do exame físico que apresenta  membrana timpânica abaulada e hiperemiada. Nesse viés, a presença de otalgia infantil indica  que a probabilidade de ter OMA é de 3 a 7,3 vezes maior do que a de não ter.

No tocante ao tratamento, a OMA é uma doença autolimitada, logo na maioria dos casos, a terapêutica é realizada com analgésicos e antitérmicos, podendo ser realizada antibioticoterapia. Isso dependerá do quadro clínico específico, sendo a amoxicilina o tratamento de primeira escolha,  baseada na eficácia contra os patógenos mais frequentes (Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae, Moraxella catarrhal) a qual deve ser usada durante um período de dez dias. Entretanto, em caso de falhas no tratamento deve-se iniciar um novo esquema terapêutico com Amoxicilina-Clavulanato. Ainda, quanto aos  pacientes alérgicos à penicilina, os macrolídeos ou sulfametoprima apresentam-se como  alternativa eficaz.

Conclusão

A otite média aguda(OMA)  é uma infecção viral ou bacteriana, a qual acomete principalmente crianças em idade pré-escolar, sofre remissão espontaneamente em um período de aproximadamente uma a duas semanas, não causando complicações mais severas. Entretanto, bebês podem apresentar otite de repetição, principalmente aquelas com sistema imunológico comprometido, como no caso das imunodeficiências primárias.  Assim, otite de repetição pode ser indicativo que o recém-nascido possui  uma imunodeficiência primária, sendo preditivo importante para investigação. Portanto, independentemente do quadro, todos os casos devem ser observados de modo individualizado, com base em suas necessidades específicas, para o melhor tratamento possível, seja ele com analgésicos e antitérmicos ou com antibioticoterapia.

Autora: Mariana Pimenta

Instagram:@maripimentta


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências

Otite Média Aguda. BMJ Best Practice. www.Otite média aguda – Sintomas, diagnóstico e tratamento | BMJ Best Practice.com

Sociedade Brasileira de Pediatria. Antibioticoterapia na Prática Clínica Pediátrica. www.Fasciculo-14.pdf (sbp.com.br).com

Manual  MSD:  Versão  para Profissionais da Saúde Otite média aguda – Distúrbios do ouvido, nariz e garganta – Manuais MSD edição para profissionais (msdmanuals.com)

Sakano, Eulália et al. Diagnóstico da otite média aguda na infância. Revista da Associação Médica Brasileira [online]. 2006, v. 52, n. 1 [Acessado 3 Junho 2021] , pp. 9-10. Disponível em: . Epub 10 Abr 2006. ISSN 1806-9282. https://doi.org/10.1590/S0104-42302006000100010.

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