Carreira em Medicina

Relação entre a amamentação e o câncer mamário

Relação entre a amamentação e o câncer mamário

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O Câncer é caracterizado como uma doença fruto da proliferação celular descontrolada, originada em alterações genéticas que podem estar associadas a fatores hereditários, externos ou hábitos de vida que resultam em determinadas condições, a exemplo da obesidade. A nível celular, os proto-oncogenes são responsáveis por produzir proteínas que irão agir diretamente na estimulação da proliferação celular, uma vez afetados negativamente por fatores externos, por exemplo, podem desregular a homeostase instaurada, o que contribui para o surgimento e crescimento do tumor maligno. Com o estabelecimento de um microambiente tumoral, as células neoplásicas possuem a capacidade de se comunicar, através de citocinas, com as células saudáveis e imunes que se encontram em seu entorno, fazendo com que ajam em comum acordo para permitir o crescimento e disseminação do tumor.

Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de mama é o que mais afeta mulheres em todo o mundo e o segundo que mais afeta o sexo feminino no Brasil, tendo sido estimado para o ano de 2020, 66.280 novos casos.

As células cancerígenas podem possuir receptores para hormônios, tais como os receptores para estrogênio (ER+) e progesterona (PR+), os quais ao se ligarem ao respectivo hormônio, são estimulados a crescer. Necessariamente, os tumores não necessitam possuir os dois receptores, sendo que mais de 50% dos cânceres de mama que afetam mulheres se caracterizam como ER+.

A amamentação como uma estratégia nutricional eficaz

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde (MS),o leite materno deve ser fornecido a criança de forma exclusiva até os seis meses de idade e de forma complementar até os dois anos. Por apresentar um valor nutricional significativo, o leite materno constitui-se como um elemento essencial para o crescimento e desenvolvimento saudável da criança. Ademais, o colostro (nome dado ao leite materno nos primeiros dias após o nascimento do bebê), devido a presença de fatores imunológicos, tais como leucócitos, oferta para o recém-nascido (RN) uma proteção imunológica, a qual vai ser de extrema importância para que o RN possa se proteger de patógenos oportunistas, até que o sistema imune do RN tenha autossuficiência na proteção contra possíveis doenças.

A amamentação e o benefício mútuo

Além dos benefícios que a prática da amamentação fornece para o RN, estudos desenvolvidos na última década apontam para o efeito positivo que o ato de amamentar pode apresentar no combate ao desenvolvimento do câncer de mama em mulheres.

A existência de tumores malignos com receptores para estrogênio, levanta a discussão em torno da diminuição de tal hormônio durante o período de amamentação e o retardo no desenvolvimento do câncer de mama.

Coincidentemente, estudos revelam que o aumento do número de tumores malignos de mama nos últimos anos estão relacionados com diminuição da natalidade, associada a maior inserção da mulher no mercado de trabalho, por exemplo, além dos baixos índices de amamentação nos primeiros dois anos de vida da criança.

Uma visão fisiológica

O ato de sucção do RN durante a amamentação, promove a secreção da prolactina, pela adenohipófise, a qual estimula a produção de leite nas glândulas mamárias, além de estimular a secreção de ocitocina, pela neurohipófise, a qual vai ser responsável pela contração das células mioepiteliais que irão auxiliar na ejeção do leite.

Ademais, a prolactina promove feedback negativo na liberação do hormônio liberador da gonadotropina (GnRH) pelo hipotálamo, o que vai estar diretamente relacionado com a interrupção da ovulação e a consequente diminuição nos níveis de estrogênio e progesterona. Dessa forma, uma menor exposição ao estrogênio diminui os riscos da mulher vir a desenvolver um câncer de mama, sendo a amamentação caracterizada como um efeito protetor.

Além disso, ao amamentar, as glândulas mamárias da mulher passam por um processo de amadurecimento, o que torna as células mais estáveis e menos suscetíveis a alterações que levem ao desenvolvimento de um tumor maligno. Dessa forma, mulheres que tem filhos e não amamentam, tornam-se mais vulneráveis à ação de fatores externos e tem maior predisposição de serem acometidas pelo câncer de mama.

O papel crucial da informação

Os benefícios que a amamentação traz para a saúde da mulher ainda são pouco elencados durante o período de gestação, sendo frisado durante as consultas de pré-natal apenas os benefícios que o leite materno oferece para o RN.

Nesse sentido, é de essencial importância que profissionais de saúde oriente gestantes sobre as vantagens de amamentar, principalmente, na contemporaneidade, onde fatores externos, podem corroborar para danos no material genético celular e o desencadeamento de neoplasias malignas, a exemplo do câncer de mama.

Um fato que necessita ser abordado

Apesar dos estudos apresentarem a amamentação como um fator benéfico no combate ao câncer de mama, ainda existem divergências em relação ao tempo mínimo em que o ato de amamentar apresenta efeitos significativos para evitar o desenvolvimento de uma neoplasia maligna de mama, sendo recomendado seguir a orientação do Ministério da Saúde (MS) quanto ao tempo em que o leito materno deve ser ofertado ao RN.


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências

Breast Cancer Hormone Receptor Status. American Cancer Society, 20 de set. de 2019. Disponível em: https://www.cancer.org/cancer/breast-cancer/understanding-a-breast-cancer-diagnosis/breast-cancer-hormone-receptor-status.html#written_by. Acesso em: 08 de fev. 2021.

RODRIGUES, Fernanda Odete Souza et al. Amamentação na Prevenção do Câncer de Mama: Revisão de Literatura. Rev Remecs, vol. 5, n. 9, 2020.

ROLIM, Lúcia Mendes de Oliveira; MARTINS, Ana Lúcia. Aleitamento Materno. J. Pediatr. (Rio J.), vol. 3, n. 1, 2002.

SOARES, Juliana de Cássia et al. Aleitamento Materno na Prevenção do Câncer de Mama: Uma Revisão Integrativa da Literatura. Rev. UNINGÁ, vol. 56, n. 6, 2019.