Dermatologia

Acne Fúngica | Colunistas

Acne Fúngica | Colunistas

Compartilhar
Imagem de perfil de Comunidade Sanar
    Fonte: Prindaville, 2018.

O que é Acne Fúngica?

A acne fúngica, ou Foliculite Ptirospórica, é uma erupção acneiforme da pele comumente confundida com a acne vulgar e, por isso, subdiagnosticada. É causada pela proliferação de um fungo natural da flora da pele, o Malassezia furfur, secundária à oclusão de folículos ou alterações da flora cutânea normal. O fungo é naturalmente encontrado no infundíbulo da glândula sebácea e contribui para a composição do sebo produzido.

É mais comum em adolescentes e jovens adultos por conta do aumento da atividade das glândulas sebáceas nessa faixa etária.

Sintomas

A acne fúngica se caracteriza por pápulas e pústulas foliculares monomórficas, pruriginosas, de 1 a 2 mm. O local mais comum é na face, sendo o queixo e as laterais das bochechas mais acometidas, seguida pela parte superior das costas, ombros, tórax e pescoço. A maior parte dos pacientes apresenta lesões em mais de um local simultaneamente.

Como diagnosticar

Você deve suspeitar que seu paciente esteja acometido pela acne fúngica após a falha ou piora das lesões com o tratamento para acne bacteriana.

Os estudos de diagnóstico incluem avaliação microscópica da presença de leveduras, culturas e biópsias, mas, na prática, raramente são usados. A lâmpada de Wood também pode ser usada para iluminar as lesões, mostrando uma fluorescência verde-amarelada. Um KOH geral com corante azul Parker mostra vários esporos e hifas curvas curtas, mas não é um exame fiel, pois a Malassezia é presente na flora cutânea normal, portanto um KOH positivo pode não significar infecção.

Outra indicação prática da doença é a melhora drástica após o uso de medicamentos antifúngicos, principalmente os orais. 

Causas

É mais comum entre pessoas que moram em locais de clima quente e úmido, principalmente em pacientes afetados por suor excessivo, condição que acomete mais o sexo masculino. Outros fatores que colaboram para a desordem da flora cutânea e, consequentemente, à proliferação do Malassezia são o uso de antibióticos tópicos e orais, principalmente tetraciclinas, além do uso de corticoides e imunossupressores.

Tratamento

 O tratamento mais eficaz é a medicação antifúngica oral, principalmente no início, porque a levedura está localizada no interior do folículo piloso, onde medicamentos tópicos não alcançam de forma adequada. Os antifúngicos tópicos são úteis como terapia adjuvante, bem como terapia de manutenção e profilática, especialmente porque a recorrência é comum.

Um estudo, de Lévy et al (2007), analisou três esquemas de tratamento diferentes entre pacientes. O primeiro grupo recebeu apenas cetoconazol tópico, o segundo apenas cetoconazol oral e o terceiro grupo recebeu cetoconazol oral aliado ao cetoconazol tópico. Os resultados mostraram que esses tratamentos promoveram a cura em 12%, 75% e 75% dos pacientes, respectivamente. Isso mostra a boa eficácia dos antifúngicos orais, além de indicar que a concomitância do tratamento oral com o tópico não traz benefícios adicionais para o paciente a princípio. No entanto, não foi estudada a taxa de recorrência entre esses pacientes.

Muitos estudaram a eficácia do itraconazol, uma vez que este antifúngico é excretado em altas concentrações no sebo. O itraconazol é um triazol de amplo espectro, altamente lipofílico e ceratofílico, com boa absorção oral e ampla distribuição tecidual. Parsad et al (1998) utilizaram itraconazol 200mg por sete dias em 13 pacientes. Destes 13 pacientes, 11 apresentaram exame micológico negativo na semana 5. Um estudo, de Durdu M. et al (2013), mostrou que duas semanas de 200 mg de itraconazol por dia resultaram na recuperação completa de 79,6% dos pacientes. Além disso, o itraconazol parece atrasar as recidivas.

Os efeitos adversos associados aos medicamentos antifúngicos orais incluem náusea, vômito, diarreia, dor abdominal e hepatotoxicidade. Por esse motivo, alguns autores propõem tratamentos alternativos, incluindo a terapia fotodinâmica.

Acne fúngica x Acne vulgar

Diferenciar acne fúngica de acne vulgar é importante, pois o tratamento com antibióticos pode alterar a flora cutânea e exacerbar a doença. Os dois podem ser diferenciados pela falta de resposta aos antibióticos orais e tópicos, ausência de comedões e a natureza frequentemente pruriginosa das lesões fúngicas.

Outra diferença frequentemente observada é a disposição das lesões. Na acne vulgar se localizam principalmente na região central do rosto, enquanto na acne fúngica acomete mais queixo e lateral da face.

Um estudo de Back et al (1985) mostra que a acne fúngica pode estar associada à acne vulgar em cerca de 27% dos casos, indicando que medicações para acne devem ser associadas aos antifúngicos, desde que não sejam antibióticos, para evitar alteração da flora cutânea. Os autores sugerem benefícios com o uso da tretinoína, que atua em ambas as causas das lesões.

Prevenção

A forma mais eficaz de prevenir a reicidiva da acne fúngica é evitar a proliferação do fungo Malassezia. Isso pode ser feito evitando o uso de antibióticos e corticoides, quando possível, além de evitar permanecer suado por tempo prolongado. Você deve conversar com o seu paciente e explicar a necessidade da troca mais frequente das roupas de cama, principalmente nas estações quentes, do uso sempre de roupas limpas e evitar banhos quentes e demorados.

O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.


Referências:

  1. Durdu M, Guran M, Ilkit M. Epidemiological characteristics of Malassezia folliculitis and use of the May-Grunwald-Giemsa stain to diagnose the infection. Diagn Microbiol Infect Dis. 2013.

Link: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/23706503/

  • Parsad D, Saini R, Negi KS. Short-term treatment of Pityrosporurm folliculitis: a double blind placebo-controlled study. J Eur Acad Dermatol Venereol. 1998;11(2):188–190.

Link: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/9784054/

  • Back O, Faergemann J, Hornqvist R. Pityrosporurm folliculitis: a common disease of the young and middle aged. J Am Acad Dermatol. 1985;12:56–61. 

Link: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/3980804/

  • Lévy A, Feuilhade de Chauvin M, Dubertret L, Morel P, Flageul B. Folliculites à Malassezia: Caractéristiques et réponses thérapeutiques chez 26 malades. Ann Dermatol Venereol. 2007 Nov;134(11):823-8. French. 

Link: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/18033060/

  • Rubenstein RM, Malerich SA. Malassezia (pityrosporum) folliculitis. J Clin Aesthet Dermatol. 2014;7(3):37-41.

Link: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3970831/  

  • Prindaville B, Belazarian L, Levin NA, Winn K. Pityrosporum folliculitis: A retrospective review od 110 cases. J Am Acad Dermatol. 2018; 78(3):511-4.