A apendicite aguda é uma condição clínica caracterizada pela inflamação do apêndice, frequentemente decorrente de obstrução de sua luz. Caso não tratada adequadamente, pode levar à perfuração do órgão e subsequente infecção peritoneal, colocando o paciente em risco iminente de sepse e outras complicações graves.
Etiologia e fisiopatologia da apendicite aguda
A apendicite aguda resulta, na maioria das vezes, da obstrução da luz apendicular, causada por diversos fatores, como hiperplasia linfoide, fecalitos, tumores ou corpos estranhos. A obstrução leva ao aumento da pressão intraluminal, o que compromete a perfusão sanguínea, resultando em isquemia e necrose do tecido. A pressão aumentada pode atingir valores de até 65mmHg, causando congestão venosa, seguido por distensão e ingurgitação do apêndice.
Na ausência de tratamento adequado, a necrose local pode evoluir para uma perfuração, liberando a microbiota do órgão na cavidade peritoneal e resultando em peritonite. Esta complicação é uma das principais causas de morbidade e mortalidade associadas à apendicite aguda.
Aspectos clínicos
A apendicite aguda se inicia geralmente com sintomas inespecíficos, como anorexia, náuseas, vômitos e dor abdominal difusa. O quadro clínico evolui, e a dor se localiza predominantemente na fossa ilíaca direita após 12 a 24 horas, quando a inflamação apendicular atinge o peritônio parietal. Outros sinais importantes incluem febre, leucocitose e a formação de uma massa palpável em fossa ilíaca direita, sugerindo abscesso secundário a uma perfuração.
A localização da dor pode variar conforme a posição anatômica do apêndice, e a falta de uma localização típica não exclui o diagnóstico. Casos que simulam apendicite, mas com dor em localizações atípicas, devem ser cuidadosamente investigados, visto que a decisão terapêutica precoce é crucial.
Diagnóstico da apendicite aguda
O diagnóstico de apendicite aguda é essencialmente clínico, baseado na história do paciente e em sinais clínicos característicos. Embora não seja obrigatório, o uso de exames complementares pode auxiliar na confirmação diagnóstica e exclusão de outros diagnósticos diferenciais.
No exame físico, pode-se observar sinais clássicos de irritação peritoneal, como o:
- Sinal de Blumberg (dor à descompressão de fossa ilíaca direita)
- Sinal de Rosving (dor no quadrante inferior direito à palpação do lado esquerdo do abdômen)
- E o sinal de Dunphy (dor à tosse).
Outros sinais, como os de Psoas e Obturador, também são indicativos da apendicite. A aplicação da escala modificada de Alvarado ajuda a quantificar a probabilidade de apendicite, orientando a necessidade de investigação complementar.
A tomografia computadorizada (TC) com contraste é o exame de escolha quando há dúvida diagnóstica. A TC pode identificar sinais de inflamação periapendicular, distensão da parede apendicular e coleções ou abscessos, além de ajudar a diferenciar condições como doenças inflamatórias pélvicas, gravidez ectópica e litíase renal.
A ultrassonografia pode ser útil, mas é dependente da experiência do examinador e apresenta limitações em casos de obesidade ou inflamação extensa.
Tratamento
O tratamento da apendicite aguda é predominantemente cirúrgico, com a apendicectomia sendo a intervenção padrão. A cirurgia pode ser realizada por videolaparoscopia, que é o método menos invasivo, com menor tempo de recuperação e menor risco de complicações, especialmente em pacientes idosos. A videolaparoscopia, no entanto, requer equipe treinada e disponibilidade de equipamentos adequados.
Além disso, nos casos em que a videolaparoscopia não é viável ou em pacientes com suspeita de peritonite generalizada, a laparotomia pode ser indicada. A incisão para apendicectomia laparotômica pode ser feita de duas formas: a incisão de McBurney, oblíqua, ou a incisão de Davis-Rockey, mais reta. Em situações excepcionais, uma incisão mediana pode ser necessária para uma avaliação mais ampla da cavidade peritoneal.
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Resumo para prática clínica
A apendicite aguda é uma emergência médica que exige diagnóstico e tratamento rápidos para evitar complicações sérias, como a perfuração e sepse. Embora os exames complementares possam ser úteis, o diagnóstico é principalmente clínico e baseado na observação dos sinais e sintomas característicos. O tratamento cirúrgico, preferencialmente por videolaparoscopia, é a única abordagem eficaz para resolver a inflamação e prevenir as complicações fatais. A decisão terapêutica precoce, portanto, é fundamental para garantir a recuperação do paciente e minimizar os riscos.
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