Área: Infectologia / Clínica Médica
Autores: Catarina Fagundes Moreira
Revisor(a): Luana Silva Santana
Orientador(a): Maria Fernanda Malaman
Liga: Liga Acadêmica de Clínica Médica (LACM)
Apresentação do caso clínico
Paciente do sexo masculino, 20 anos, pardo, agricultor e residente de Atibaia, interior de São Paulo. Refere febre diária há 1 semana, e prostração.
Relata surgimento de equimoses há 6 semanas e há 3 semanas astenia e dispneia a médios esforços.
A mãe relata que o paciente sempre teve anemia, pois nunca gostou de comer verduras e carnes. Foi solicitado hemograma e prescrito sulfato ferroso diariamente.
O médico questionou sobre os hábitos de vida e presença de animais de estimação. Contou que soube que o cachorro da vizinha tinha sido sacrificado há 3 meses por uma doença que acomete os cães onde mora.
Ao exame físico, o paciente estava descorado 2+/4+, icterícia leve, sinal de Godet presente. Ausência de linfoadenopatias periféricas.
Na ausculta cardíaca, taquicardia sinusal, bulhas hiperfonéticas e sopro sistólico panfocal. Ausculta respiratória sem ruídos adventícios. No abdome observou-se hepatoesplenomegalia moderada.
O hemograma solicitado revelou Hb 6,6 g/dl, Ht 20%, com hemácias 3,0 milhões/mm3, VCM 88 fl, HCM 28pg, RDW 16,2%, reticulócitos 0,5%; plaquetas 35.000/mm3; leucócitos 3.600/mm3, neutrófilos 1000/mm3, eosinófilos 100/mm3, linfócitos 2200/mm3, monócitos 400/mm3 e 3 eritroblastos em 100 células.
Foi indicado transfusão de 2 concentrados de hemácias e solicitados outros exames para investigação.
Nos resultados dos outros exames havia inversão albumina-globulina e aumento discreto de AST (61), ALT (80), GGT (92) e FA (145), bilirrubinas totais (1,3), BD (0,6), BI (0,7).
Foram feitas sorologias, mielograma, pesquisa de parasitas e cultura de medula óssea. Radiografia de tórax observaram-se alterações retículo-nodulares.
Questões para orientar a discussão
- Quais são manifestações clínicas da Leishmaniose?
- Quais são os principais diagnósticos diferenciais da Leishmaniose?
- Como é feito o diagnóstico da Leishmaniose?
- O que é Anemia Aplástica?
- Qual o tratamento da Anemia Aplástica?
Respostas
1.Febre prolongada, esplenomegalia, hepatomegalia, leucopenia, anemia, hipergamaglobulinemia, tosse, dor abdominal, diarreia, perda de peso e caquexia.
2. Doença de Chagas, Malária, Esquistossomose, Febre Tifoide e Tuberculose.
3. Diferentes técnicas podem ser utilizadas para o diagnóstico de leishmaniose visceral. Muitos avanços têm ocorrido nos últimos anos, mas nenhum dos testes disponíveis para o diagnóstico da LV apresenta 100% de sensibilidade e especificidade. Nos casos humanos, o diagnóstico é rotineiramente realizado com base em parâmetros clínicos e epidemiológicos. Entretanto, um diagnóstico definitivo requer a demonstração do parasita através de métodos parasitológicos.
4. A anemia aplástica ou aplasia de medula óssea é uma doença rara, caracterizada por pancitopenia moderada a grave no sangue periférico e hipocelularidade acentuada na medula óssea, sendo a mais frequente das síndromes de falência medular. É uma doença desencadeada por causas congênitas ou adquiridas. Uso de medicamentos, infecções ativas, neoplasias hematológicas, invasão medular por neoplasias não hematológicas, doenças sistêmicas (como as colagenoses) e exposição a radiação e a agentes químicos encontram-se entre as causas adquiridas.
5. É fundamental identificar possíveis agentes etiológicos do quadro de aplasia, como uso de medicamentos ou agentes químicos ou físicos. Quando presentes, devem ser retirados do contato com o paciente logo que possível. O tratamento da anemia aplástica varia de acordo com a gravidade da doença e com a idade do paciente. Nos casos moderados, estão indicados somente tratamento de suporte, com transfusões de concentrado de hemácias e plaquetas conforme indicações clínicas, e tratamento com antibióticos em casos de infecção. Se houver necessidade transfusional significativa ou uso frequente de antibióticos, pode-se considerar a indicação de terapia imunossupressora combinada. Já nos casos graves e muito graves (definidos como a presença de neutrófilos ao diagnóstico em número menor do que 200/mm3), indica-se o transplante de células-tronco hematopoiéticas (TCTH) alogênico ou terapia imunossupressora combinada.