Carreira em Medicina

Caso Clínico: Osteomielite | Ligas

Caso Clínico: Osteomielite | Ligas

Compartilhar
Imagem de perfil de Comunidade Sanar

A osteomielite é uma infecção óssea, geralmente provocada por bactérias,  em especial Staphylococcus aureus. As osteomielites podem ser agudas ou crônicas, de origem hematogênica, secundárias a ferimentos, a fraturas expostas e pós-operatório.

Identificação do paciente

A.R.C, 9 anos, sexo masculino, pardo, escolar, natural e residente de uma cidade no interior do Goiás.

Queixa principal

“Dor na perna que não passa”

História da doença atual

Paciente acompanhado da mãe, procurou atendimento há cerca de um mês devido a trauma em acidente de carro com fratura de fêmur distal esquerdo no qual a mãe relata demora para início do tratamento cirúrgico. A mãe refere que no pós-operatório do seu filho, apresentou boa recuperação, porém, há duas semanas, iniciou-se cefaleia, febre acompanhada de sinais flogísticos localizados, sem irradiar, próximo ao local da cirurgia, evoluindo piora ao longo dos dias. Além disso, na articulação do joelho, relata limitação da articulação acompanhada de fístulas ativas, secretivas, sem sinais de melhora da dor, mas piora com a palpação e compressão digital no local, comprometendo o bom estado geral do paciente. Por fim, a mãe refere que o paciente apresenta-se astênico com perda de peso e desidratado. Nega outros sintomas.

Antecedentes pessoais e patológicos

Gestação e condições de parto normais com desenvolvimento psicomotor e físico normal. Nega doenças na infância e na família, até o momento, havendo feito uma única cirurgia, a de trauma no fêmur

Exame físico

Geral: Paciente apresenta regular estado geral; hipoativo, porém reativo e normocorado. Além disso, apresenta febre, astenia e perda de peso.

Ap. Cardiovascular: RCR 2T BNF, sem sopros

 Ap Respiratório: MV+, sem RA

Abdome: Normotenso, normotimpânico, indolor a palpação superficial e 2 profunda, RHA+, sem sinais de peritonite, não palpo VGM.

Extremidades: Bem perfundidas, sem edema, sem sinais flogísticos, sem sinais de empastamento, panturrilhas livres.

Cabeça: cefaleia

Olhos: hiperemia ocular

Oroscopia: mucosa oral seca.

Pele e fâneros: Febre.

Suspeitas diagnósticas

  • Osteomielite

Exames laboratoriais

  • VHS: 37 mm na 1ª hora (VR: 3 – 13 mm)
  • Proteína C reativa (PC-R): 180mg/L (< 10 mg/L)
  • Hemograma: Leucocitose (19.700/mm³) com desvio a esquerda.
  • Cultura da secreção: Presença da bactéria Staphylococcus aureus.
  • Antibiograma: A cepa presente no abcesso apresentou resistência às penicilinas sem inibidores de betalactamases. Às demais drogas, a cepa apresentou-se sensível.

Exames complementares

– Raio X: demonstrou edema das partes moles próximo à região femuralcom contornos indefinidos.

– Ressonância Magnética: demonstrou edema medular com presença de abcesso em tecidos moles adjacentes.

Diagnóstico

Osteomielite pós-traumática.

Discussão do caso

  • O que é osteomielite?
  • Como são classificadas as osteomielites de acordo com o tempo?
  • Quais os exames complementares que ajudam no diagnóstico da osteomielite?
  • Quais os tratamentos utilizados na osteomielite?

A osteomielite é uma infecção óssea, que pode se limitar a esse tecido ou comprometer regiões adjacentes, inclusive tecidos moles. Geralmente é de origem bacteriana, provocada principalmente por Staphylococcus aureus, embora outros patógenos, tais como os fungos, possam provocar tal infecção.Tais infecções podem ser agudas ou crônicas, de origem hematogênica, secundárias a ferimentos, a fraturas expostas e pós-operatório. A instalação da infecção e destruição do tecido se dá pela adesão ao tecido ósseo, formação de biofilmes e estimulação de processo inflamatório. Ainda, a produção de biofilmes ocasiona o aumento da adesão microbiana ao osso, fornecendo proteção contra fagocitose ou antibióticos, complicando o tratamento.

O início da osteomielite, geralmente, acontece de forma aguda, progredindo rapidamente, sendo a primeira manifestação do quadro clínico, o início agudo da dor, em localização próxima a articulação dos ossos longos, com piora notável à palpação e compressão digital. Em seguida, o paciente pode apresentar febre elevada, mal-estar e anorexia. Desse modo, é importante a realização de anamnese detalhada, com atenção à história de trauma local coerente com a queixa ou considerar uma disseminação hematogênica, onde a infecção se inicia em outros focos infecciosos.

No exame laboratorial, espera-se encontrar contagem de leucócitos com indicação de infecção, porém, mesmo na ausência de leucocitose com desvio a esquerda, não se deve excluir a suspeita, mas sim realizar a anamnese minuciosa e acompanhar VHS, que costuma estar elevado acima de 20mm e a PC-R, que é o exame mais sensível, servindo de parâmetro para acompanhar a evolução do tratamento. No entanto, esses exames não são específicos como marcadores inflamatórios.

A cultura de material ósseo e de secreções é essencial para o isolamento e identificação do patógeno, além de permitir a realização do antibiograma.

Quanto aos exames complementares, uma radiografia simples pode estar inalterada nos primeiros 10 dias, sendo o edema de partes moles o sinal mais precoce. As alterações perceptíveis na radiografia geralmente ocorrem após 10 dias de evolução da doença, incluindo reabsorção óssea do local que foi afetado, sendo identificada através de áreas radioluscentes de contornos indefinidos e a neoformação óssea subperiosteal.

O tratamento deve ser apoiado preferencialmente por resultados microbiológicos. Em infecções bacterianas, o antibiograma possui um papel fundamental na escolha do tratamento. Para S. aureus sensível à meticilina (MSSA), são utilizadas oxacilina intravenosa (IV), amoxicilina + ácido clavulânico (via oral – VO – ou IV), clindamicina (IV ouVO) ou sulfametoxazol + trimetoprima (IV ou VO). Para infecções por S. aureus resistente à meticilina (MRSA), utiliza-se vancomicina (IV), daptomicina (IV) ou teicoplanina (IV ou intramuscular – IM). Para o tratamento de osteomielites provocadas por outros microrganismos, utiliza-se ceftriazona, ceftazidima, meropeném, ciprofloxacino, entre outros.

Conclusão

  • Apesar de Staphlococcus aureus ser o principal causador de osteomielite, exames microbiológicos são importantes na determinação do agente patogênico, bem como no estabelecimento da terapia antimicrobiana;
  • A osteomielite pode ocorrer em qualquer osso, sendo mais frequente nos ossos longos, relacionada às fraturas nessas regiões;
  • O diagnóstico deve levar em conta os aspectos clínicos, com anamnese detalhada, a história pregressa do paciente e exames laboratoriais e de imagem.

Autores e revisores

Autor: Maria Luiza Ganem
Revisor: Rômulo Leles da Silva Araújo
Professor Orientador: Heliara Maria Spina Canela

O texto acima é de total responsabilidade do(s) autor(es) e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências

ALVES V. S. et al. Relato de Caso: cuidados com a pele de adultos em uso de fixador externo em membros inferiores: série de casos. Estima Revista da Associação Brasileira de Estomatoterapia: estomias, feridas e incontinências. v.3, n.13. 2013. Disponível em:  https://www.revistaestima.com.br/index.php/estima/article/view/334. Acesso em 20 de março de 2021.

LEVIN, Anna Sara. Guia de utilização anti-infecciosos e recomendações para a prevenção de infecções hospitalares. 5°Ed. São Paulo: Hospital das Clínicas, 2011.

TAVARES, Walter; MARINHO, Luiz Alberto Carneiro. Rotinas de Diagnóstico e Tratamento das Doenças Infecciosas e Parasitárias. 4°Ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2015.

SALOMÃO, Reinaldo Infectologia: Bases clínicas e tratamento – 1. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. : il. ISBN: 978-85-277-3261-1.