Carreira em Medicina

Caso Clínico: Transtorno de Personalidade Paranoide | Ligas

Caso Clínico: Transtorno de Personalidade Paranoide | Ligas

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Imagem de perfil de Comunidade Sanar

Uma mulher de 27 anos procura o psiquiatra devido a intensos e constantes conflitos com familiares, amigos e colegas de trabalho. Ela alega que todos ao seu redor estão sempre tentando enganá-la e prejudicá-la. Apresenta forte desconfiança sobre todos que a cercam e até mesmo pelo próprio psiquiatra. Relata ser perseguida no trabalho e na sua própria casa por seus pais e irmã.

Identificação

J. C. S., 26 anos, natural de São Paulo – SP , analista de sistema do banco do brasil, branca, solteira, formada em ciência da computação.

Queixa Principal

“Dificuldade de interação social”  há 2 anos

História da Doença Atual

Paciente relata que há 2 anos começou a ter dificuldades em suas relações pessoais que foram se intensificando com o tempo. Afirma ter notado piora nos últimos 6 meses e que por isso resolveu procurar o médico.  Relata uma forte desconfiança por todos ao seu redor e afirma ser perseguida no trabalho e em casa. Afirma ter se afastado da maioria de seus amigos pois os mesmo não queriam ver o seu sucesso profissional e nem alavancar sua autoestima. Relata que é perseguida no trabalho e que as pessoas ao seu redor fazem tudo para prejudica-la, atrasando prazos de entrega e sendo pouco colaborativos nas tarefas coletivas. Em casa ela diz que é sobrecarregada para ajudar em muitas tarefas sendo que é sempre criticada por seus pais e irmã. Relata já ter sido encaminhada a outros psiquiatras por seu programa de assistência ao empregado devido a constantes conflitos no trabalho e por pedido de sua família e amigos mas que acredita que todos fazem isso por ter inveja de seu trabalho. Além disso, alega não confiar nesses profissionais e achar que estão todos querendo chamá-la de “louca”.

Antecedentes pessoais, familiares e patológicos

Antecedentes fisiológicos

Nascida de parto natural, sem nenhuma intercorrência durante a sua gestação. Afirma ter feito pré-natal e nega o uso de álcool ou substâncias ilícitas durante a sua gravidez, sendo que juliana foi a primeira filha do casal de uma gravidez planejada e muito aguardada. Nascida a termo em parto realizado no hospital.  Começou a andar por volta de um ano e a falar por volta de um ano e 6 meses. Teve um bom desenvolvimento escolar e sempre obteve bons resultados em todas as disciplinas. Menarca com com 12 anos e teve sua primeira relação sexual aos 16 anos. Relata ter o ciclo menstrual regular e nega qualquer gestação até o momento.

Antecedentes patológicos

Relata ter tido catapora, caxumba e sarampo durante a infância. Faz uso de anticoncepcional. Nega internações anteriores, cirurgias ou possíveis traumas ósseos. Nega alergias, transfusões sanguíneas. Nega internações psiquiátricas pregressas. Nega tabagismo e uso de drogas e afirma beber pouco em ocasiões especiais.

Antecedentes familiares

Nega doenças genéticas hereditárias, casos de câncer, infarto, hipertensão, diabetes, epilepsia, anemias e tuberculose na família. Possui mãe, pai e irmã vivos.

Personalidade pré mórbida : Relata que até os 25 anos apresentava uma boa rede de amigos e namorado. Sem oscilações de humor, sempre bem disposta e alegre.

Antecedentes sociais

No bairro em que mora há rede de esgoto, água encanada, energia, internet e uma boa rede de apoio. Mora com seus pais e irmã em um apartamento de 4 quartos. Possui uma boa condição financeira. Afirma ter uma ótima condição socioeconômica. Relata uma convivência difícil com seus pais e irmãs pois os mesmo são muito críticos e constantemente a perseguem e fazem acusações injustas. Não apresenta bom grau de sociabilidade, negando ter muitas atividades de lazer ou atividades sociais. Possui Segundo grau completo e pós graduação em análise de sistema. Trabalha como analista de sistema no Banco do Brasil.

Exame físico

Aparência: Apresenta modo de andar alerta, está com vestimenta formal com acessórios e maquiagem. Boa higiene pessoal, cabelos arrumados.

Postura e atitudes na situação do exame: Está desconfiada e um pouco nervosa. Se apresenta bastante vigilante e olhava fixamente para o entrevistador. Pede esclarecimentos sobre as perguntas, indagando sempre  “ o que você quer insinuar com isso?”  ou “ para que tantas perguntas?”. Apresenta bom humor e afeto tenso, parecendo sempre desconfiada e pouco à vontade. Os processos e o conteúdo de pensamento do paciente estão dentro dos limites normais.

O exame físico apresenta-se normal.

Suspeita diagnóstica

Transtorno de personalidade paranoide

Diagnóstico

Caracteriza-se o quadro da paciente em questão como um transtorno de personalidade paranoide devido a presença de forte suspeita, sem base suficiente, de que os outros estão explorando, prejudicando  ou enganando a paciente. A presença de relatos com dúvidas injustificadas sobre a lealdade ou confiabilidade de amigos, colegas de trabalho e familiares. Além disso, nota-se a hipervigilância e descarta-se outros transtornos psiquiátricos como esquizofrenia, transtornos Psicóticos e condições médicas gerais.

Discussão do caso

O que é isso?

O transtorno de personalidade paranoide se caracteriza por uma intensa desconfiança e  suspeitas injustificadas. Os indíviduos com esse transtorno têm uma tendência a interpretar as ações dos outros como sendo maldosas e maliciosas. Acreditam que todos querem enganá-los e prejudicá-los mesmo quando não há justificativa suficiente para esses sentimentos.

Quais os outros prováveis diagnósticos?

Esquizofrenia, transtorno delirante ou transtorno da personalidade borderline (TPB). Se diferenciam daqueles com esquizofrenia e transtorno delirante pois não apresentam  sintomas psicóticos como delírios fixos e alucinações. Apesar da similaridade com pacientes de com transtorno da personalidade borderline pelas explosões de raiva em relação aos outros, aqueles com transtorno da persolidade paranoide dificilmente apresentam outras características presentes em indíviduos com TPB, como o envolvimento em múltiplos relacionamentos tumultuados ou sentimentos de vazio e tristeza profunda.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico é clínico e, segundo o DSM-5 (Manual de Diagnóstico e Estatísticas de Doenças Mentais) a recomendação é que esse transtorno seja representado e diagnosticado por meio de uma combinação de prejuízos no funcionamento da personalidade e por traços de personalidade específicos como desconfiança, esquiva de intimidade, hostilidade e crenças incomuns. Sendo

Qual o tratamento?

O tratamento é feito com terapia cognitivo-comportamental baseada em uma relação de confiança entre médico e paciente. Além disso, em alguns casos isolados pode-se fazer uso de alguns medicamentos para o tratamento de sintomas ou crises como antidepressivos ou antipsicóticos atípicos prescritos para tratar sintomas específicos.

Conclusão

Os pacientes com transtorno da personalidade paranoide apresentam extrema desconfiança para com todos que o cercam e acreditam sempre que todos ao seu redor agem com maldade e malícia. Sendo que as principais características da personalidade paranoide são: desconfiança, esquiva de intimidade, hostilidade e crenças incomuns.

Para o tratamento de pacientes com transtorno da personalidade paranoide é importante manter a discrição, sem tentar ser muito íntimo nem muito amigável, e estabelecer uma relação de confiança.

O diagnóstico diferencial deve ser feito com Esquizofrenia e Transtorno Delirante sendo que a principal diferentes entre eles é o transtorno de personalidade paranoide é a presença de ideações paranoides e delírios paranoides nos dois primeiros.

Autores e revisores

Liga: Liga acadêmica de psiquiatria do Distrito Federal – LIPSI-DF – @lipsi.df

Autor: Maria Luiza Felipe Rocha Mello

Revisor: Ana Luiza Silva Teles

Orientador: Dra Lair Gonçalves dos Santos

O texto acima é de total responsabilidade do(s) autor(es) e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências

Transtorno de personalidade paranoide. Uma revisão. – https://www.priory.com/psych/para1099.html

Casos clínicos em psiquiatria – 1. Psiquiatria. I. Klamen, Debra. II. Título.