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Caso Clínico: Transtorno do Espectro Autista | Ligas

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Identificação do paciente

Paciente do sexo masculino A.R.D., 8 anos, caucasiano, nascido e residente na cidade de São Paulo. Atualmente cursando o Ensino Fundamental I, na primeira série.

Queixa Principal

Sua mãe (M.L.D.) buscou atendimento em ambulatório de psiquiatria relatando brigas constantes do filho com o pai, que, segundo ela, se irritava com o comportamento e com as notas escolares (exceto matemática) do menino, relatou que também acha que o garoto tenha “manias estranhas” e sente que ele é “antissocial”.

Histórico da doença atual

M.L.D. diz que o menino demorou para começar as tentativas de fala (começou a vocalizar aos 2 anos), mas não teve muito atraso para engatinhar ou andar. Ainda disse que o filho nunca gostava de visitas, além de se irritar facilmente quando as visitas tentavam interagir com ele. Quando o garoto completou 3 anos, seu marido começou a levar o menino para área de lazer do prédio, mas disse que o menino era “tímido demais” e não parecia ter afinidade com as outras crianças, além de não compartilhar seus brinquedos.

Os avós, cansados de ouvir as histórias relatadas pelos pais, levaram o menino em um pediatra. O médico fez o exame físico do garoto e pediu exames neurológicos. No retorno, disse que o menino possuía atraso mental e seria importante acompanhar o caso. Os pais, ao ouvir o relato, não se satisfizeram com o diagnóstico e decidiram não deixar os avós levarem o neto em nenhuma consulta.

O casal contou essa história para uma amiga, que falou que seu filho também não gostava de outras crianças por perto e não era muito independente e que eles não deveriam se preocupar com a situação, que se resolveria quando o menino fosse mais velho. Então o casal achou que não havia necessidade de procurar outra ajuda, até porque o menino, apesar de apresentar atrasos de desenvolvimento, tinha conseguido “se virar” até o momento.

Logo, matricularam o garoto na escola, na tentativa de melhorar a socialização. Não obtendo sucesso, conversaram com a pedagoga da escola, que mostrou resultados satisfatórios do menino em matemática, mas relatou muita dificuldade nas outras disciplinas e no convívio com os colegas. Os pais tentaram repreendê-lo e até mesmo tirar seus brinquedos favoritos, mas tudo só gerou mais brigas. A pedagoga recebeu novamente os pais e indicou o ambulatório de psiquiatria para tentativa de um diagnóstico e terapêutica para A.R.D.

Antecedentes familiares e sociais

A mãe de A.R.D é dona de casa, caucasiana, nascida e residente em São Paulo, relata não ter tempo para acompanhamento médico ou exames, porque tem uma vida muito corrida. Diz estar muito preocupada com o filho e com as brigas familiares ficando mais constantes e, por conta disso, está vivendo um momento de angústia, mas tem medo de contar para os familiares e estes pensarem coisas ruins sobre ela.

O esposo (P.C.D.) trabalhava como caminhoneiro, mas por conta da pandemia, ficou desempregado e atua como entregador de aplicativos; não consegue ficar muito tempo em casa, mas sempre cobra muito do filho nas questões de escola, pois sonha que o garoto tenha uma “vida melhor”. Ele acredita que A.R.D seja desatento e preguiçoso, porque na família dele ninguém teve problemas na escola.

Além disso, a mãe disse que a família é bem caseira, principalmente porque o filho não demostrava gostar de sair de casa ou fazer atividades ao ar livre; sua maior companhia é uma amiga que mora na mesma rua que o casal reside. Os avós do menino visitavam mensalmente a família, mas agora estão afastados devido ao episódio da consulta com o pediatra.

Exame físico

A.R.D. se mostra muito reservado e mesmo quando seu nome é citado durante a consulta, não tenta se impor na conversa. Ao ser questionado, responde com poucas palavras e sem fazer contato visual. Não demonstra alteração de fisionomia quando questionado sobre as brigas familiares ou quando recebeu um beijo de sua mãe. Grande parte do tempo ficou passando a mão no brinquedo que carregava consigo (a mãe diz ser um comportamento constante) e não se interessou pelos brinquedos que estavam no consultório.

Suspeitas diagnósticas

  • Transtorno do Espectro Autista
  • Deficiência intelectual
  • Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade
  • Esquizofrenia

Diagnóstico diferencial

A fim de diagnosticar o paciente de maneira apropriada é necessário que sejam testadas as habilidades motoras grossas e finas, solução de problemas não verbais e outras habilidades intelectuais. Outro ponto relevante a ser investigado é a hiperatividade comparando com indivíduos da mesma idade mental. Também deve ser examinada a presença de delírios ou alucinações.

No caso apresentado, o garoto apresenta déficit nas habilidades de comunicação, com limitações nas interações e pouca/nenhuma abertura social, desviando o olhar nos diálogos direcionados a ele. Apresenta bons resultados escolares na disciplina de matemática, não apresenta marcha alterada, não possui falta de foco e sim desinteresse em atividades que não são de sua escolha ou não fazem parte de sua rotina. Não existe relato de delírios ou alucinações.

Discussão

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é caracterizado por prejuízos significativos na comunicação e interação social. O portador desse transtorno tem alterações comportamentais, incluindo interesses em atividades, desde a infância, que trazem limitações em suas atividades diárias.

O diagnóstico preciso, associado a terapias auxilia os processos de reabilitação do indivíduo em questão. Mas é fundamental que haja uma educação em saúde para que nenhum membro da família se sinta responsável pela existência um parente autista e as expectativas sobre esse indivíduo sejam compatíveis à realidade. Além disso, é importante que a família faça parte do processo, traçando assim, juntamente de uma equipe multidisciplinar, as melhores condutas para o caso. O tratamento adequado visa atender a família como um todo, englobando o psicossocial dos indivíduos.

A diversidade dos sintomas e das hipóteses de diagnóstico somados com o preconceito e estigmas da doença fazem com que ainda existam muitos casos de diagnóstico tardio e supressão de tratamentos que poderiam melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Quando se fala em tratamento, deve-se pensar em diferentes esferas de atuação, visto que não existe tratamento medicamentoso específico (caso haja de uso de fármacos são para tratar sintomas associados ao transtorno – agressividade, insônia, sintomas obsessivos etc.). O quadro do Transtorno do Espectro Autista deve integrar práticas que eduquem o paciente em vários aspectos: social, alimentar, motor, fonético; ou seja, multidisciplinar. Sendo assim, é necessário a integração de um psiquiatra, psicólogo, fonoaudiólogo, fisioterapeuta e terapeuta ocupacional.

Além disso, existem propostas como: aloterapia, musicoterapia, ludoterapia, oficinas terapêuticas, equoterapia; que apresentam relevância em grande parte dos tratamentos, variando sua efetividade conforme grau de autismo ou vivência do paciente.

O crescimento da produção científica brasileira dirigida à saúde mental corrobora para formulação adequada de políticas públicas. Com isso, é interessante ressaltar que em 2007, o Ministério da Saúde estabeleceu um grupo de trabalho para atenção aos autistas na rede do Sistema Único de Saúde, mostrando a importância do tema.

Conclusão

Após as condutas clínicas, realização do diagnóstico diferencial e encontros com a família (dessas vezes incluindo o pai do garoto), foram passadas informações sobre o Transtorno do Espectro Autista. O pai do rapaz mostrou maior resistência em relação ao diagnóstico, mas se mostrou interessado em rever seu comportamento e acompanhar o filho, quando possível, nas idas ao psicólogo e fonoaudiólogo que farão parte do tratamento.

Além disso, o casal também se comprometeu a inscrever o filho para iniciar o tratamento com a musicoterapia.

Autores e revisores

Autor: Gabrielle Schneid

Liga: Liga Acadêmica Interdisciplinar de Psiquiatria – FAM (LAIP-FAM)

O texto acima é de total responsabilidade do(s) autor(es) e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


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