Carreira em Medicina

Casos Clínicos: Diabetes Mellitus Gestacional (DMG) | Ligas

Casos Clínicos: Diabetes Mellitus Gestacional (DMG) | Ligas

Compartilhar
Imagem de perfil de Comunidade Sanar

Área: Ginecologia/ Endocrinologia

Autores: Anna Luiza Brito Franceschini, Beatriz Moraes Gonçalves

Revisor(a): Thais da Silva Cardoso Fagundes

Orientador(a): Jule Rouse de Oliveira Gonçalves Santos

Liga: Liga de Emergências Médicas do DF

Apresentação do caso clínico

Paciente do sexo feminino, 35 anos, parda, advogada, procedente e residente do Estado de Minas Gerais. Procurou atendimento com queixa de amenorréia há 04 semanas, com polidipsia e poliúria. Paciente relata segunda gravidez (15 semanas) e com diagnóstico prévio de Diabetes Mellitus Gestacional (DMG) na primeira gravidez. Não apresenta outros sintomas associados. É tabagista, fazendo uso de 5 maços por dia. Relata ganho de peso de 7kg desde o início da gravidez. Nega vômito, náusea, diarréia e alergias. 

Ao exame físico, paciente encontrava-se em bom estado geral, lúcida e orientada em tempo e espaço, afebril, acianótica, anictérica, desidratada (++/4) normopnéica (16 irp),   normocárdica (80bpm), pré-hipertensa (PA: 129/80 mmHg). Apresenta edema em membros inferiores (+/4) e IMC de 25kg/m². Aparelho respiratório com murmúrio vesicular presente, sem ruídos adventícios. Aparelho cardiovascular sem sopros e sem alterações. Abdome globoso, com ruídos hidroaéreos presentes e presença de cicatriz umbilical. 

Paciente foi orientada a fazer exames laboratoriais para confirmação diagnóstica. Foi realizado hemograma completo, glicemia de jejum, teste oral de tolerância à glicose. A glicemia de jejum veio alterada, com o valor de 126mg/dl e o teste oral de tolerância a glicose de 97mg/dl. 

Com o diagnóstico feito de DMG, recomendou-se à paciente a mudar o estilo de vida, com alimentação controlada e atividade física monitorada e começar o tratamento para parar de fumar. Além disso, fazer o acompanhamento regular em ambulatório. 

 Questões para orientar a discussão             

  1. Quais as manifestações clínicas de diabetes gestacional?
  2. Quais os fatores de risco para o desenvolvimento da doença?
  3. Como se faz o diagnóstico?
  4. Qual o tratamento recomendado para DMG?
  5. Quais as complicações mais comuns ocasionadas pela DMG se não tratada?

Respostas

  1. A gestantes com diabetes gestacional, em geral, são assintomáticas, mas quando apresentam sintomas é comum queixar-se de polidipsia, polifagia, ganho exagerado de peso (materno ou fetal), polaciúria, cansaço, mal-estar, edema MMSS/ MMII e visão turva.
  2. De acordo com o Ministério da Saúde, os fatores de risco que favorecem ao surgimento de diabetes gestacional incluem principalmente idade maior ou igual a 35 anos; sobrepeso ou obesidade (IMC ≥ 25 Kg/ m2), antecedentes familiares de DM em parentes de primeiro grau; antecedentes pessoais de alterações metabólicas (hiperglicemia, hipertensão arterial sistêmica, uso de medicamentos hiperglicemiantes); antecedentes obstétricos (diabetes Mellitus gestacional; polidrâmnio; macrossomia; malformação fetal; óbito fetal/neonatal sem causa determinada); síndrome do ovário policístico; doenças cardíacas .
  3. O diagnóstico normalmente é feito durante o pré-natal por meio da avaliação dos níveis séricos de glicose no sangue.  Na 1ª consulta, pode-se fazer a dosagem de glicemia de jejum pelo glicosímetro, no qual o resultado é negativo quando o valor é menor que 126 mg/dL e positivo para valores superiores a esse. O teste oral de tolerância à glicose (TOTG), entretanto, é preferível, pois é mais sensível e deve ser feito entre 24 e 28 semanas de gestação. Este avalia os níveis de glicose com base em pontos de corte durante o jejum, na primeira hora e na segunda hora após a ingestão de glicose anidra em 250-300ml de água. Um único valor alterado exige repetição do exame, já dois 2 valores alterados confirmam o diagnóstico.
  4. O tratamento para diabetes gestacional se inicia com dieta individualizada, no intuito de permitir que a gestante ganhe a quantidade de peso ideal de acordo com o estado nutricional, e atividade física de baixo impacto, para aumentar o gasto calórico. Durante esse período, realiza-se o controle glicêmico, que, caso alterado/elevado, será determinante para indicar insulinoterapia. O crescimento fetal exagerado também é critério para uso de insulina na gestante. Assim, se as mudanças no estilo de vida não forem suficientes para alcançar as metas do controle glicêmico, recomenda-se, como primeira escolha, a insulina com dose inicial correspondente a 0,5 UI/Kg/dia. A metformina 500 mg também pode ser utilizada, mas como droga alternativa, em especial nas situações de difícil acesso à insulina. 
  5. As possíveis complicações causadas pela diabetes gestacional podem ser tanto maternas quanto fetais. A mãe pode apresentar hipertensão arterial sistêmica, retinopatia diabética, nefropatia diabética, doença cardíaca isquêmica, candidíase, cetoacidose. O bebê, por sua vez, pode cursar com malformações, principalmente cardíacas e neurológicas, obesidade, polidrâmnio, hipoglicemia, prematuridade e Síndrome do desconforto respiratório.