Carreira em Medicina

Causas reversíveis de PCR: como identificar e tratar

Causas reversíveis de PCR: como identificar e tratar

Compartilhar
Imagem de perfil de Prática Médica

Um ponto importantíssimo é identificarmos as possíveis causas reversíveis de PCR (parada cardiorrespiratória) e tratá-las. Afinal, só assim seu quadro será mais eficientemente revertido.

Para isso, usa-se o mnemônico 5H’s/5T’s descritos abaixo com seus respectivos tratamentos.

Causas reversíveis de PCR e tratamento

Hipovolemia

A hipovolemia é uma casa de PCR muito associada ao trauma. Apesar disso, algumas condições clínicas também podem cursar com perda de volume sanguíneo como rompimento de grandes aneurismas ou hemorragias digestivas.

O tratamento consiste em primeiro lugar conter o sangramento, além de reposição volêmica e de hemoderivados.

Hipóxia

A hipóxia é uma das causas reversíveis frequentes de PCR, podendo muitas vezes estar associada com outra condição que falaremos mais a frete que é o pneumotórax hipertensivo.

Para o tratamento, é necessário estabelecer uma via aérea avançada, investigar de maneira guiada patologias de base e tratar se for necessário, como no caso de uma asma grave ou de uma pneumonia por exemplo.

Hipercalemia

Mais comumente a hipercalemia, distúrbios hidroeletrolíticos podem causar PCR, como em grandes queimados, pacientes com diabetes, doença renal crônica ou rabdomiólise.

Análise de eletrólitos podem ser feitas com máquinas beira leito. Para hipercalemia, deve-se usar gluconato de cálcio a 10%, de 10 a 20mL IV.

O gluconato de cálcio serve como estabilizador de membrana e pode auxiliar no arrefecimento de uma potencial arritmia deflagrada pela hipercalemia.

Já na hipocalemia não há evidência para a reposição de potássio, mas especialistas sugerem a reposição de KCl a 19,1%, 2mEq/min durante 10 minutos, dando um total de 8mL, já que 1mL=2,5mEq.

Acidose (H+)

O tratamento da acidose na PCR é controverso, visto que o bicarbonato tem alto pode deletério.

A reposição de bicarbonato é mais indicada em casos de paciente sabidamente com acidose grave ou com valores de pH menores que 6,9 (menores que 7,1 em algumas fontes).

Acredita-se que o melhor tratamento para acidose seja a realização de uma RCP de alta qualidade.

Hipotermia

Geralmente associado com paciente afogados, visto que a água possui função espoliadora de calor muito maior que a do ar.

O tratamento adequado, sobretudo quando associada ao afogamento é com a RCP por meio da circulação extracorpórea.

Se não disponível, utilizar de diferentes técnicas para prover aquecimento ao paciente, como cristaloides aquecidos, aquecedores e o que mais estiver disponível.

Trombose coronariana (IAM)

Causa bastante frequente de PCR. O tratamento intra parada é bastante complexo. Pode-se realizar a intervenção coronariana percutânea (ICP) durante a RCP, utilizando-se de dispositivos mecânicos para realizar a RCP se for o caso.

Se não possível realizar durante a RCP, deve ser uma das metas principais nos cuidados pós-parada, visto que esse paciente possui uma grande instabilidade.

Tromboembolismo pulmonar (TEP)

O tromboembolismo pulmonar está associado a PCR principalmente naqueles casos de trombo impactado em trechos mais proximais das artérias pulmonares.

Seu diagnóstico pode ser feito pela alta suspeição clínica e de escores e com o uso de ultrassonografia a beira leito para identificação de sinais como alterações pulmonares e de ventrículo direito.

O tratamento consiste na trombólise associada com RCP prolongada, visto que pacientes que retornaram com até 90 minutos de RCP associada com a fibrinólise tiveram boa função neurológica.

Vale ressaltar que a decisão de fibrinólise deve ser tomada precocemente, quando um bom resultado ainda é possível.

Tóxicos

Pouco lembrada, a intoxicação exógena é causa bastante importante de PCR, sobretudo em jovens. Seu tratamento consiste na reversão da intoxicação utilizando antídotos específicos.

A emulsão lipídica pode ser utilizada em casos de intoxicações por anestésicos locais, tricíclicos ou de drogas lipossolúveis.

O modo de usar é a emulsão lipídica IV a 20%, 1,5mL/Kg em 1 minuto. Pode ser reaplicada mais 2 vezes, não ultrapassando a dose de 12mL/Kg.

Para outras drogas é indicado seus antídotos específicos como no caso da naloxona no caso da intoxicação por opioide.

Possíveis causas de intoxicação e seus antídotos

  • Opioides– Naloxona
  • Benzodiazepínicos – Flumazenil
  • Anestésicos locais– Emulsão lipídica
  • Cianeto– Hidroxicobalamina
  • Betabloqueadores– Glucagon
  • Síndrome colinérgica– Atropina

Tamponamento cardíaco

O tratamento do tamponamento cardíaco consiste em uma rápida identificação (geralmente com uso de USG) seguido de pericardiocentese que pode reverter imediatamente a PCR. No trauma, a toracotomia de ressuscitação é a escolha.

Pneumotórax hipertensivo

Uma vez diagnosticado o pneumotórax hipertensivo, deve se realizar a descompressão (punção de alívio) do tórax.

Caso não possua agulha específica para tal, jelco 14 deve ser suficiente para atingir a cavidade torácica.

Após a punção, é necessário realizar a drenagem do tórax em selo d’água.

Referências

  1. MARTINS, Herlon Saraiva et al. Medicina de emergência: abordagem prática (USP). 12ª edição. São Paulo: editora Manole, 2017.
  2. MOREIRA, Maria da Consolidação Vieira et al. LIVRO-TEXTO da sociedade brasileira de cardiologia. 2° edição. Barueri – SP: editora Manole, 2015.
  3. Bernoche C, Timerman S, Polastri TF, Giannetti NS, Siqueira AWS, Piscopo A et al. Atualização da Diretriz de Ressuscitação Cardiopulmonar e Cuidados de Emergência da Sociedade Brasileira de Cardiologia – 2019. Arq Bras Cardiol. 2019; 113(3):449-663


Crédito da imagem: Freepik