Dermatologia

Ceratose seborreica e suas variantes | Colunistas

Ceratose seborreica e suas variantes | Colunistas

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Imagem de perfil de Virgínia Costa Marques

Realizar o exame de pele é de extrema importância não só para o médico dermatologista, mas sim para todos os clínicos, uma vez que através desse exame é possível identificar doenças próprias do tegumento, além de ser possível fazer a detecção de manifestações cutâneas de várias doenças sistêmicas. Assim, conhecer as lesões elementares dermatológicas abre espaço para uma investigação minuciosa de determinado achado ou pode afastar a realização de exames invasivos sem necessidade evidente.

Em um país tropical como o Brasil, a incidência de câncer de pele é bastante alta, atigindo o percentual de 33% de todos os diagnósticos de câncer no país, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA). Assim, é comum a preocupação existente com relação a lesões de pele, uma vez que a manifestação dessa doença é cutânea. No entanto, como dito, conhecer algumas lesões elementares permite ao profissional sanar dúvidas comuns e tranquilizar ou alertar o paciente diante de questionamentos acerca do tema.

Diante disso, o profissional deve ser capaz de distinguir uma lesão melanocítica de uma não melanocítica. Para que uma lesão pigmentada seja considerada melanocítica, ela deve apresentar pelo menos um dos seguintes critérios dermatoscópicos: rede pigmenta, estrias ramificadas, glóbulos agregados, padrão paralelo (região palmoplantar) ou áreas azuis homogêneas.

Nesse sentido, caso a lesão não seja diagnosticada como melanocítica, o examinador deve procurar critérios caracteristicamente presentes em algumas condições, sendo que o presente trabalho visa tratar especialmente da ceratose seborreica, um tipo de lesão não melanocítica.

Ceratose seborreica

A ceratose (ou queratose), por si só, trata-se de um espessamento superficial da epiderme decorrente da proliferação exclusiva da camada córnea. É considerada um tipo de tumor benigno, que não requer tratamento e em geral as lesões são retiradas apenas por razões estéticas.

As lesões normalmente surgem normalmente com o avançar da idade, em especial após os 60 anos, mas também podem aparecer em pessoas jovens. Além disso, não há predileção por sexo, acometendo igualmente homens e mulheres. Quanto aos fatores de risco, estes ainda não estão bem definidos, sendo que é possível haver relação entre a exposição aos raios UV e o surgimento das lesões. Por outro lado, também pode haver fatores genéticos relacionados, em especial quando se trata da Dermatose papulosa nigra, que acomete mais populações negras. Quanto ao envolvimento do Papiloma Vírus Humano, ainda não há estudos suficientes que possam confirmar a relação entre o acometimento viral e o surgimento dessas lesões.

No que se refere ao aspecto das lesões, elas são nitidamente demarcadas, de formato redondo ou oval, com dimensões variadas, podendo ser milimétricas ou mais extensas. As lesões têm um aspecto duro e inelástico, podendo ter uma superfície lisa, áspera, verrucosa, aveludada ou descamativa. Normalmente têm um aspecto elevado e preso à pele com uma superfície verrucosa, irregular, opaca ou perfurada. Também podem ser planas, quando não irão se elevar acima da pele. A cor das lesões sofre variações, podendo ser da cor da pele, amareladas, marrom-acinzentadas ou pretas.

Os locais onde as lesões predominam são tórax, costas, cabeça e pescoço, sendo que as elas podem ser solitárias, apesar de normalmente estarem presentes de forma disseminada e em grande número. Além disso, é importante saber que são lesões assintomáticas na maior parte das vezes, contudo podem cursar com irritação, prurido, dor, sangramento, vermelhidão e formação de crostas.

Como dito, são lesões que não requerem tratamento, a não ser que causem incômodo ao paciente. Nesse caso, pode ser feita a retirada das lesões através de curetagem, criocirurgia, eletroterapia ou cauterização química com ácidos como o tricloroacético.

Ceratose seborreica. A. Múltiplas lesões. B. Lesão típica. Fonte: David, A R. 2017.

Variantes clínicas

A ceratose seborreica tem três variantes clínicas principais: Estucoceratose (stucco-keratosis), Dermatose papulosa nigra e Síndrome Leser-Trélat.

Estucoceratose (stucco-keratosis)

Trata-se de uma lesão verrucosa, branca ou branca-acinzentada, com localização quase exclusivamente nos membros inferiores e em regiões expostas ao sol. Essa variante acomete principalmente adultos do sexo masculino.

Estucoceratose. Fonte: David, A R. 2017.

Estucoceratose. Fonte: David, A R. 2017.

Dermatose papulosa nigra

Essa variante é muito mais prevalente em descendentes africanos e asiáticos e pode ter origem na adolescência e aumentar em número e em tamanho com a idade. O caráter familial está presente, sendo fortemente sugestivo o fator genético associado.

As lesões são milimétricas (1 a 5mm), planas como verrugas planas ou discretamente vegetantes, de tonalidade negra e que acometem principalmente a face, pescoço, região axilar, tórax, parte superior das costas e membros superiores.

Dermatose papulosa nigra.
Fonte: Wollina, Uwe, 2019.
Dermatose papulosa nigra. Fonte: David, A R. 2017.

Síndrome Leser Trelat

Essa é uma síndrome, também chamada de “sinal”, paraneoplásica abrupta caracterizada pelo aparecimento súbito de múltiplas ceratoses seborreicas especialmente no tronco e no dorso, geralmente pruriginosas, em associação com malignidade subjacente. Normalmente esse sinal é considerado como um marcador para um diagnóstico desfavorável e é comumente associado a um grande número de tumores de órgãos internos, como câncer de pulmão, carcinoma de esôfago e carcinoma nasofaríngeo.

Sinal de Leser-Trélat. Fonte: David, A R. 2017.

O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.

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Referências Bibliográficas

AARON, Denise M. Ceratoses seborreicas. MSD Manuals. 2019. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-dermatol%C3%B3gicos/tumores-cut%C3%A2neos-benignos,-neoplasmas-e-les%C3%B5es-vasculares/ceratoses-seborreicas

DAVID, A. R. Dermatologia, 7ª edição. Grupo GEN, 2017.

HAFNER, C., VOGT, T. Seborrheic keratosis. Journal Der Deutschen Dermatologischen Gesellschaft, 6(8), 664–677.  2008. doi:10.1111/j.1610-0387.2008.06788.x 

SBD. Câncer da pele. Disponível em: < https://www.sbd.org.br/dermatologia/pele/doencas-e-problemas/cancer-da-pele/64/>

WOLLINA, Uwe. Recent advances in managing and understanding seborrheic keratosis. F1000Research vol. 8 F1000 Faculty Rev-1520. 2019.  doi:10.12688/f1000research.18983.1