Índice
- 1 Definição da cetoacidose diabética
- 2 Epidemiologia da cetoacidose diabética
- 3 Fisiopatologia da cetoacidose diabética
- 4 Quadro clínico da cetoacidose diabética
- 5 Fatores precipitantes da cetoacidose diabética
- 6 Achados do exame físico
- 7 Diagnóstico da cetoacidose diabética
- 8 Tratamento da CAD
- 9 Perguntas frequentes:
Definição da cetoacidose diabética
A Cetoacidose Diabética (CAD) é um estado de complicação metabólica aguda do paciente, potencialmente fatal.
Caracterizada por uma deficiência absoluta de insulina associada a elevação de hormônios contrarregulatórios (glucagon, cortisol e catecolaminas) que resulta em uma tríade bioquímica:
- Hiperglicemia.
- Cetonemia.
- Acidose metabólica com hiato iônico (anion gap).
A cetoacidose diabética se diferencia de outra emergência hiperglicêmica chamada Estado Hiperglicêmico Hiperosmolar (EHH).
No EHH, não há a associação da hiperglicemia com a cetonemia (já que, neste caso, não há uma ausência absoluta de insulina, apesar de estar diminuída).
Epidemiologia da cetoacidose diabética
- Cetoacidose diabética é a principal causa de óbitos em diabéticos < 24 anos
- Normalmente, a cetoacidose diabética está mais associada ao DM tipo 1, enquanto EHH, com DM2 (apesar de poderem ocorrer em qualquer tipo)
- Incidência maior em mulheres
- Mais frequente em crianças e adolescentes diabéticos (maioria dos pacientes estava na faixa entre 18 e 44 anos)
- A taxa de hospitalizações e admissões emergenciais diabéticas é menor na EHH que na cetoacidose diabética.
Fisiopatologia da cetoacidose diabética
A compreensão da tríade elucida a doença:
Hiperglicemia
De início, após a alimentação, a glicose é disponibilizada no sangue e gera um estado de hiperglicemia (que em indivíduos saudáveis, promove a liberação de insulina pelas células beta-pancreáticas, a fim de transportar glicose para dentro das células).
Na situação de cetoacidose diabética, há uma diminuição extrema da concentração ou ação da insulina, o que estimula hormônios contrarreguladores como glucagon (glicogenólise), cortisol (gliconeogênese) e catecolaminas (agonismo dos processos de gliconeogênese e lipólise e diminuição do uso de glicose nos órgãos).
Cetonemia
A insulinopenia com o aumento de catecolaminas (lipólise), gera aumento de produtos como ácidos graxos livres (AGL) e glicerol, que apesar de úteis para a gliconeogênese, são oxidados em corpos cetônicos (betahidroxibutirato e acetoacetato) no fígado — com a evolução do quadro, esse cenário gera a acidose.
Acidose Metabólica com ânion gap
Ocorre pelo aumento de corpos cetônicos — sendo com ânion gap porque é uma acidose desencadeada por aumento de um ácido não-clorídrico.
Associado, foi demonstrado um estado pró-inflamatório e pró-coagulante, devido a elevação de citocinas pró-inflamatórias e biomarcadores inflamatórios (como a proteína C-reativa), marcadores de estresse oxidativo, peroxidação lipídica.

Quadro clínico da cetoacidose diabética
Está relacionado com a descompensação dos sintomas e sinais de diabetes (principalmente poliúria e polidipsia) poucas horas após um evento precipitante:
- Poliúria
- Polidipsia
- Polifagia
- Fraqueza
- Perda de peso
- Ressecamento de membranas mucosas e/ou ↓ turgor cutâneo (sinais de desidratação)
- náuseas, vômito
- Dor abdominal
A gravidade do quadro de cetoacidose diabética depende de fatores como: idade, grau de desidratação, instabilidade hemodinâmica, causas precipitantes e grau de consciência.
Fatores precipitantes da cetoacidose diabética
- Uso inadequado de insulina ou hipoglicemiantes orais
- Infecções (pneumonia, ITU, sepse de foco indeterminado)
- Quadros Abdominais (pancreatite, colecistite, apendicite, etc)
- Doenças cardiovasculares ou cerebrovasculares
- Drogas (corticosteroides, tiazídicos, simpatomiméticos, cocaína, antipsicóticos)
- Desidratação
- Cirurgias
Achados do exame físico
- Taquicardia
- Hipotensão
- Choque (casos graves)
- Respiração de Kussmaul
- Hálito cetônico
- Eutérmicos ou com leve hipotermia (mesmo com quadro infeccioso)— vasodilatação da acidose
- Nível de consciência variável (de alerta ao coma profundo — piora relacionada ao aumento da osmolaridade)
Diagnóstico da cetoacidose diabética
Após a análise do quadro clínico, os critérios para diagnóstico de CAD são glicose plasmática >250 mg/dL e pH arterial <7.3 juntamente com cetonemia e/ou cetonúria.
Os exames necessários para confirmação da cetoacidose diabética, são:
- Gasometria arterial (para identificar acidose metabólica)
- pH
- 7.25 a 7.3 na CAD leve
- 7.00 a <7.24 na CAD moderada
• <7.00 na CAD grave.
- Bicarbonato sérico:
- 15 a 18 mEq/L (15 a 18 mmol/L) na CAD leve
- 10 a 15 mEq/L (10 a 15 mmol/L) na moderada
- <10 mEq/L (<10 mmol/L) na CAD grave.
- Glicemia (se >250 mg/dL, apesar de existir CAD euglicêmica)
- Eletrólitos — potássio, sódio, cloro, magnésio e fósforo (alterações osmolares)
- EAS (verificar positividade para glicose e cetonas, podendo ter leucócitos e nitritos se infecção e mioglobinúria e/ou hemoglobinúria em rabdomiólise)
Podem, ainda, ser solicitados na investigação da cetoacidose diabética:
- Anion Gap
- B- hidroxibutirato sérico (B-OH-B) — Maior acurácia
- Hemograma (pode haver leucocitose)
- Eletrocardiograma (identificar possível hipercalemia e isquemia)
- Cetonas capilares ou séricas (contudo, ↑ especificidade, e ↓ sensibilidade para o diagnóstico de CAD)
Dependendo da suspeita de fator desencadeante da cetoacidose diabética, outros exames podem ser solicitados (radiografia de tórax, hemculturas, TC de crânio, etc).
- radiografia de tórax indicada para descartar a pneumonia
- culturas de sangue, urina ou escarro indicadas quando houver sinais de infecção
Tratamento da CAD
Uma abordagem bem sucedida da cetoacidose diabética inclui:
- correção da depleção de volume (fluidoterapia), da hiperglicemia (insulinoterapia), dos desequilíbrios eletrolíticos (terapia com potássio, bicarbonato e/ou fosfato) do evento precipitante.
- O paciente deve estar com os parâmetros respiratórios e do estado hemodinâmicos monitorizados.
As complicações do tratamento incluem: a hipoglicemia, hipocalemia, hipoxemia e raramente edema pulmonar.
O edema cerebral, uma complicação rara, mas potencialmente fatal de forma rápida, ocorre principalmente em crianças.
Ele pode ser prevenido ao evitar a reposição excessivamente rápida de fluidos e eletrólitos.

Perguntas frequentes:
1 – Qual a tríade clássica da cetoacidose diabética?
Hiperglicemia, cetonemia e acidemia.
2 – Quais os sintomas e sinais mais comuns na cetoacidose diabética?
Poliúria, polidipsia, polifagia, fraqueza, perda de peso, taquicardia, sinais de desidratação, hipotensão e, em casos graves, choque.
3 – Quais os componentes do tratamento?
Fluidoterapia, insulinoterapia, desequilíbrios eletrolíticos, terapia com potássio, bicarbonato e/ou fosfato e manejo da doença de base (se possível).
Referências:
Sociedade Brasileira de Diabetes. Diretrizes Sociedade Brasileira de Diabetes. 2019-2020. Editora clannad.
BMJ Best Practice. Doença do coronavírus 2019 (COVID-19). 2021.
VILAR, L.; et al. Endocrinologia Clínica. 6ª ed. Rio de Janeiro:Editora Guanabara Koogan Ltda, 2016.