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Confira no artigo da Dra. Maitê Dahdal uma avaliação do que esperar da relação médico e paciente com o uso do ChatGPT na saúde!
Quando um cidadão tem alguma dúvida relacionada à saúde, o que ele faz? Grande parte com acesso à internet recorre ao Google, até apelidado “gentilmente” como Dr Google, site de busca onde pode ser digitado os sintomas e se obter muitas informações sobre o que pode ser, como diagnosticar, confirmar e também até como tratar.
Nós médicos muitas vezes temos aversão ao fato do paciente pesquisar e chegar na consulta já parcialmente informado e com demandas obtidas através das informações que adquiriu online.
Mas, afinal, qual é o problema? Muitas dessas informações não são atualizadas e tampouco verdadeiras. Ou seja, muitas vezes durante a nossa consulta temos que lutar contra as informações obtidas na web e informar nossa verdade obtida através de anos de estudo, formação e muita evidência científica.
Em alguns momentos somos tachados de ruins ou desinformados quando não concordamos com a web, e também podemos não saber o que está na web, e isso pode ser visto como um problema pelos pacientes que tanto confiam na ferramenta de busca digital.
ChatGPT na saúde e a substituição do “Dr. Google”
Em 2022 chegou uma nova forma de se obter informações a respeito de tudo, incluindo saúde. O usuário pode conversar com uma inteligência artificial que sabe dialogar no idioma e na linguagem do paciente, e de forma síncrona pode responder a outras perguntas que forem surgindo conforme a “consulta” está acontecendo.
Essa nova ferramenta, o famoso ChatGPT, teve sua aparição estrondosa e veio pra ficar, entretanto, como toda novidade que surge no nosso dia a dia há preocupação, resistência e negação. No momento atual vivemos esse momento ainda de compreender o que está acontecendo para tirarmos nossa conclusão e aprender a lidar com a ferramenta. Esse chat veio pra ficar, e eu te pergunto? Ele te traz paz ou desespero? Vamos entender um pouco mais a ferramenta para que ao longo desse texto você tire suas próprias conclusões.
Diferenças entre tirar dúvidas com o Google e com o ChatGPT
A nova ferramenta tecnológica funciona a partir da inserção de perguntas em uma plataforma que responde através da inteligência artificial.
Diferentemente dos buscadores de internet, como o “ex” doutor preferido, o Dr Google, que gera uma lista de sites com conteúdo relacionado ao que foi digitado, no Chat GPT, obtemos um texto como resposta da melhor maneira possível com base nas informações / bases de dados do sistema de inteligência artificial.
Para que a resposta seja precisa, é importante que o comando (prompt) seja claro e específico – quanto mais informações o usuário der, melhor será o retorno. A conversa é semelhante à conversa humana, mas aí está a diferença…ela não é humana. Essa ferramenta consegue suprir muitas das “deficiências humanas” mas também apresenta muitas “limitações tecnológicas”, podendo haver falhas e no momento ainda não ser uma ferramenta tão confiável e segura, mas não quer dizer que não seja útil.
Limitações do ChatGPT na saúde
Os resultados das perguntas muitas vezes são surpreendentes, mas é importante lembrar que, por ser uma inteligência artificial, não é uma fonte de conhecimento incontestável e tem seus limites, como na capacidade de responder a perguntas complexas ou abstratas.
Sabia que o digital também pode “alucinar?”. A plataforma também pode produzir informações que não existem e de fato alucinação é o termo técnico que existe para isso.
A publicação do The Lancet “ChatGPT and antimicrobial advice: the end of the consulting infection doctor?”, traduzindo “ChatGPT e informação sobre antimicrobianos: o fim da consulta com infectologista?”, que foi divulgada em abril de 2023, trouxe conclusões interessantes. O estudo conclui que, no momento, o chat gpt ainda não tem capacidade de prover informações suficientes e seguras sobre antimicrobianos. Isso porque ele não considera as particularidades de cada paciente, sendo no momento contra-indicado para este uso.
Essa publicação consegue esclarecer nossa principal preocupação quanto a utilização da ferramenta: não individualizar o ser humano, não considerar as necessidades individuais de cada pessoa.
A ferramenta é extremamente potente na oferta de informações gerais sobre o que pode ser, “dor de cabeça” por exemplo, mas não consegue considerar a individualidade da Maitê e correlacionar se essa dor pode ser: estresse, falta de alimento, gripe ou um tumor cerebral.
O profissional deve encarar como paz ou desespero o uso do ChatGPT na saúde?
A forma e o motivo pelo qual a ferramenta será utilizada. Como disse anteriormente, ela veio para ficar e negá-la é negar a revolução tecnológica que vivemos e seus inúmeros benefícios à informação da população, incluindo a saúde.
É importante fazermos os nossos pacientes compreenderem que o chat gpt tem limites e que esses limites podem colocá-los em risco caso utilizem apenas a ferramenta como cuidado de saúde. O mesmo vale para nós profissionais de saúde, afinal a ferramenta pode ser utilizada para qualquer pessoa.
Além disso, para garantir a segurança do que é informado e de como essa informação é levada, é necessário uma regulamentação e gestão, não somente do algoritmo, mas também das bases estratégicas que alimentam a inteligência.
Importante o “robô” sempre ressaltar em suas respostas que é uma ferramenta de inteligência artificial limitada e orientar a procura de um serviço de saúde quando houver questionamentos sobre sintomas, medicamentos e exames.
Foi perguntado “quais são as aplicações possíveis em que posso te utilizar para fazer o cuidado dos meus pacientes no hospital?” pelo Prof. Carlos Carvalho, diretor de Saúde Digital do Hospital das Clínicas, ao ChatGPT, que imediatamente reconheceu suas limitações e já alertou no fim do texto que o usuário deveria se lembrar que estava lidando com uma ferramenta de suporte, que não substitui a experiência e o julgamento clínico de um profissional de saúde.
Em suma, o uso da inteligência artificial como Chat GPT na saúde é ainda pouco conhecido e a abertura das portas para o mundo da inteligência artificial é muito recente. Haverá necessidade de melhor compreensão, regulamentação, fiscalização e orientação sobre o uso correto. E você o que espera da inteligência artificial na saúde?
Sugestão de leitura complementar
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Vale a pena também conferir o Webinar da APM sobre o tema:
Referências
LEE, P.; BUBECK, S.; PETRO, J. Benefits, Limits, and Risks of GPT-4 as an AI Chatbot for Medicine. New England Journal of Medicine, v. 388, n. 13, p. 1233–1239, 30 mar. 2023.
LILIAN. ChatGPT: inteligência artificial e suas utilizações na saúde. Disponível em:
HEALTH, T. L. D. ChatGPT: friend or foe? The Lancet Digital Health, v. 0, n. 0, 6 fev. 2023.
ChatGPT na saúde. O que nos espera? | Com a Palavra. Disponível em:
SAUDE. ChatGPT na saúde: quais são os impactos da tecnologia no setor? • Summit Saúde Estadão. Disponível em:
BISWAS, S. S. Role of Chat GPT in Public Health. Annals of Biomedical Engineering, 15 mar. 2023.