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Como a covid-19 impactou as doenças tropicais negligenciadas? | Colunistas

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Uma abordagem inicial sobre as doenças tropicais negligenciadas

Se você nunca ouviu falar destas doenças, não fique surpreso. É exatamente por isso que elas são chamadas assim, são negligenciadas por muitos. Aproximadamente, 1 bilhão de pessoas ao redor do muito inteiro são vítimas das Doenças Tropicais Negligenciadas (DTN). São exemplos bem conhecidos que compõem este grupo: a Doença de Chagas ou tripanossomíase, e a leishmaniose ou Úlcera de Bauru.

Apesar de parecer um assunto novo, o termo (DTN) foi cunhado desde a década de 1970, na Fundação Rockfeller. E com o passar do tempo, organizações importantes como Médico Sem Fronteiras (MSF) e a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) assumiram este grupo e destacaram parte de sua atenção na abordagem delas.

Há inúmeras patologias que categorizam este grupo, como as provocadas por protozoários como as leishmanioses, a doença de Chagas e a doença do sono. Bem como as infecções provocadas por amebas e helmintíases que são propagadas através do solo contaminado com ovos ou larvas de vermes. Além também as por pulgas, piolhos e carrapatos, que recebem a denominação de infestação. As conhecidas viroses, como a dengue e febre amarela, também fazem parte. E por fim, as infecções bacterianas e fúngicas.

Estas doenças já não ocupam tanto o cenário de importância, mas como será que elas foram impactadas após a chegada da doença mais falada de todos os tempos, a COVID-19?

Um problema financeiro e de fármacos

A infecção da COVID-19 não só prejudica o desenvolvimento socioeconômico diretamente, como também tem se mostrado como uma das principais responsáveis pela interrupção dos programas de controle às DTNs, com enfoque especial àquelas que são relacionadas à produção escalonada de medicamentos.

Tal produção intensiva de fármacos e intervenções terapêuticas é altamente dependente dos investimentos financeiros, sejam eles públicos, sejam privados. A perspectiva é que ocorra um longo caminho para que este desafio seja superado, por conta da continuidade não tão bem sucedida, relacionada ao distanciamento social, isolamento e a enorme crise monetária que inúmeras países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento estão passando.

Coinfecções e inúmeros desafios

O cenário após o estabelecimento do novo coronavírus se resume basicamente na coinfecção com outra DTN já presente. Vale destacar as ectoparasitoses, helmintíases e infecções por protozoários.

Ectoparasitoses

As ectoparasitoses são infecções provocados por ectoparasitas, isto é, parasitas que vivem fora de seus hospedeiros. A maioria destes são altamente endêmicos, bem estabelecidos, em países subdesenvolvidos que se encontram na faixa tropical, entretanto, outras infestações exógenas costumem ser introduzidas através das viagens turísticas.

São exemplos de ectoparasitas: percevejos, sarna e moscas causadoras de miíase.

Ao simples fato das viagens terem sido diminuídas por conta da pandemia da COVID-19, espera-se que estes casos relacionados aos turistas diminuísse. Mas não foi o que aconteceu. No cenário das áreas afetadas por ectoparasitas, uma pesquisa turca demonstrou um aumento nos casos de sarna em hospitais nacionais logo no início de março de 2020. Como explicar este aumento? Devido as restrições sociais impostas pela COVID-19 que demonstraram a falta de higiene básica, muitas famílias foram obrigadas a viver em áreas rurais mais próximas, o que favoreceu as infecções pelo Sarcoptes scabiei, o agente etiológico da sarna.

Em outro ponto de vista, uma pesquisa realizada por Galassi revelou o impacto da pandemia nos casos de pediculose na América Latina. Este estudo foi cursado num período de restrito lockdown na Argentina (de março a julho de 2020). Cerca de mil crianças que frequentavam escolas demonstraram uma diminuição na infestação de piolho: de 70% (antes do lockdown) para 43% (durante o lockdown). Este fato não é tão surpreendente, pois esta patologia é dependente do contato físico como outro.

Estes dois casos nos mostram o quão diferentes podem ser os impactos provocados pela COVID-19 nas doenças tropicais negligenciadas, através de elementos como o distanciamento social e o lockdown.

Outros ectoparasitas precisam ser estudados, por não demonstraram uma relação direta com estes elementos, como por exemplo os percevejos e as pulgas.

Helmintíases

O controle das infecções por vermes é baseado em esforços coletivos que visam prevenir eficazmente a propagação de parasitas hospedeiros, incentivando iniciativas que promovam a criação de campanhas de saúde pública.

Em 2030, as doenças tropicais negligenciadas causando por helmintos são previstas para serem erradicadas ou controladas em grande escala nas regiões tropicais e subtropicais que são afetadas; no entanto, as oportunidades de controle global estão altamente ameaçadas devido à disseminação do SARS-CoV-2.

Por exemplo, a maioria dos países africanos enfrentou inúmeras doenças tropicais negligenciadas através de muitas décadas; essas que incluem especialmente a esquistossomose, que é dependente de melhorias nas medidas preventivas relacionadas ao sistemas de saneamento básico dos locais.

Infelizmente, as áreas endêmicas também são gravemente afetadas por casos de COVID-19, especialmente nas populações vulneráveis.

Um estudo liderado por Oyeyemi descobriu que a incidência de casos ativos de COVID-19 é maior ainda em áreas endêmicas de esquistossomose.

Marco Aurélio Ferreira Farnezi

Instagram: @estetosferico


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências

Molyneux D, Bush S, Bannerman R, Downs P, Shu’aibu J, Boko-Collins P, Radvan I, Wohlgemuth L, Boyton C. Neglected tropical diseases activities in Africa in the COVID-19 era: the need for a “hybrid” approach in COVID-endemic times. Infect Dis Poverty. 2021 Jan 4;10(1):1. doi: 10.1186/s40249-020-00791-3. PMID: 33397494; PMCID: PMC7779653.

Miguel DC, Brioschi MBC, Rosa LB, Minori K, Grazzia N. The impact of COVID-19 on neglected parasitic diseases: what to expect? Trends Parasitol. 2021 Aug;37(8):694-697. doi: 10.1016/j.pt.2021.05.003. Epub 2021 May 14. PMID: 34059455; PMCID: PMC8120483.

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