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Como fundar uma liga acadêmica? | Colunistas

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Introdução

            Se você chegou aqui, é por que já sabe o que é uma liga acadêmica e, por algum motivo, tem interesse em fundar uma. Nesse texto vou contar-lhes o passo a passo que segui para a fundação da Liga de Infectologia do Complexo Hospitalar do Trabalhador (LINFECTO-HT), a qual sou presidente, na cidade de Curitiba-PR.

Por onde começar?

            O primeiro passo é o desejo. O fato de sua cidade ou faculdade contar com diversas ligas acadêmicas não é impeditivo para que você busque criar uma. Pode ser que não haja nenhuma liga da área de interesse ou que a ideia seja oferecer algo diferente do que outras ligas já proporcionam. Independentemente do motivo pelo qual você deseja fundar uma nova liga, é fundamental ter atitude, organização e comprometimento.

            Ninguém consegue criar uma liga acadêmica sozinho. É importante que você compartilhe sua ideia com pessoas sabidamente comprometidas e capacitadas para constituir a futura diretoria. Evite convidar pessoas apenas pela amizade, pois, nesse caso, o que vale mesmo é a competência para exercer a função com qualidade e, como grupo, otimizar o gerenciamento e a divisão das tarefas.

            Acadêmicos, sozinhos, não fazem nada. Após escolher a área de atuação da liga, é preciso encontrar um médico/professor orientador para o projeto. Esta pessoa será responsável pelos ligantes, além de ser quem disponibilizará atividades e estágios, assinará certificados e fará contato com a diretoria  sempre que necessário. Importante salientar que toda a organização da liga deve ser feita pelos acadêmicos, tendo em vista que estes são os maiores interessados. Não espere que o seu orientador tome as rédeas e coordene  todo o processo! O melhor é, sempre que for necessário contatá-lo, levar tudo organizado e definido, até mesmo para adquirir cada vez mais confiança e, assim, conseguir novas oportunidades. Portanto, lembre-se: quem faz é a diretoria, não o orientador!

Definição dos cargos

            Os cargos de diretoria das ligas acadêmicas variam muito conforme a proposta, necessidade e tamanho das mesmas. Abaixo, farei uma breve descrição dos cargos da LINFECTO-HT.

  • Presidente: organiza toda as questões burocráticas, assina em nome da liga, preside as reuniões, mantém o orientador informado de todas as situações e faz o gerenciamento de ligantes e controle de vagas disponíveis.
    • Vice-Presidente: divide todas as tarefas com o presidente, sendo o “braço direito”. Assume a função em caso de impedimento do Presidente.
    • Diretor Acadêmico: contabiliza o número de horas realizadas por cada ligante, presença em plantões e aulas teóricas, além de redigir atas, receber, responder e arquivar documentos recebidos.
    • Diretor Científico: faz contato com palestrantes para as aulas teóricas e eventos científicos organizados pela liga, além de buscar oportunidades para a realização de trabalhos científicos
    • Diretor de Marketing: cria postagens para as redes sociais e administra as mesmas, além de fazer a divulgação de eventos oficiais.
    • Diretor Financeiro: responsável pela elaboração do balanço financeiro, controle da conta bancária, pagamento aos fornecedores e recebimento de dinheiro.

            As ligas podem apresentar diferentes denominações para as funções exercidas ou até mesmo ter outros cargos destinados a funções mais específicas, de modo que algumas optam por ter secretários, diretores de extensão ou de estágios, por exemplo. Portanto, procure adaptar esses cargos às atividades exercidas dentro da liga e veja a pessoa que melhor se encaixa no perfil de cada uma dessas funções.

Onde a liga irá atuar?

            Agora você já tem uma equipe formada e engajada com o projeto, então  o próximo passo é encontrar uma sede. Toda a liga acadêmica precisa estar vinculada a uma instituição, que pode ser uma faculdade/universidade ou até mesmo um hospital. Entre em contato com as instituições de interesse e verifique quais os requisitos e as exigências para a fundação de uma liga vinculada ao local. Após isso, analise com cuidado e escolha o lugar que parece ser mais adequado para as atividades que a liga visa exercer.

            É importante que haja uma atenção especial à questão burocrática. Por vezes, o processo pode ser demasiadamente longo e difícil, a ponto de desestimular o seguimento do projeto. Desse modo, o interesse da instituição de ter ligas acadêmicas vinculadas a ela faz toda a diferença na agilidade do processo. Invista suas fichas no local com melhor custo-benefício no que diz respeito aos trâmites e ao suporte para as atividades, especialmente se sua liga for contar com estágios práticos.

            Escolhida a instituição, busque obter com o máximo de detalhes todas as informações para a aprovação da liga. A seguir, falarei sobre toda a documentação que foi necessária para a fundação da LINFECTO-HT.

A burocracia

            As ligas acadêmicas precisam ter um estatuto, o qual deverá especificar todas as normas e condutas que regem a liga. Sem um bom estatuto, nenhum local aprova a filiação, portanto a elaboração do mesmo é parte fundamental para que se perceba a organização e seriedade dos interessados. Existem dezenas de modelos que você pode encontrar na internet para tomar como base, mas é preciso adaptá-los à sua realidade. Basicamente, o estatuto deve conter as seguintes informações:

  • Atividades exercidas;
    • Critérios para obtenção de certificado/declaração;
    • Carga-horária da liga;
    • Código disciplinar;
    • Constituição da diretoria e atribuições dos cargos;
    • Informações gerais sobre critérios para participação nos processos seletivos da liga;
    • Passagem de cargos;
    • Recursos e relatórios financeiros.

            O estatuto deverá ser aprovado e assinado pela diretoria, orientador e representante da instituição a qual a liga estará vinculada. É provável que sejam solicitadas alterações no texto original a fim de adaptá-lo às regras institucionais e proporcionar maior clareza em determinados trechos.

            Aprovado o estatuto, todos os fudadores reúnem-se e assinam uma ata de fundação, a qual deverá conter o nome completo da liga, data, local, nome e cargo dos presentes e descrição a respeito da aprovação estatutária. Assinada a ata, o projeto da liga torna-se real.

            Existe também a possibilidade de registrar a liga em cartório e criar um CNPJ, porém nem todas as instituições exigem esta condição, já que pode ser algo moroso e nem sempre é necessário para as atividades propostas.

Fundei a liga. E agora?

            A essência das ligas acadêmicas está nos ligantes. Após a fundação, os diretores precisam, ainda, organizar um processo seletivo para a admissão dos primeiros membros e buscar parceiros, patrocinadores e palestrantes para o caso de haver um curso introdutório. No caso da LINFECTO-HT, a diretoria também foi a responsável pela elaboração e correção da prova, recorrendo ao orientador sempre que necessário.

            A partir do momento em que se recebe ligantes, tudo precisa ser documentado. É preciso um termo de compromisso para que os membros admitidos no processo seletivo atestem sua ciência  para com o estatuto ao qual estão sujeitos. Outros termos podem ser requeridos pela instituição sede e cabe à diretoria encaminhá-los aos ligantes para assinatura, como termos de serviço voluntário e de exposição a riscos biológicos, por exemplo, sendo que, por vezes, pode ser exigido um seguro contra acidentes pessoais. Cabe à diretoria fazer o levantamento de toda a documentação necessária para atestar o vínculo do ligante com a liga acadêmica e com a instituição sede.

Colocando a liga para funcionar

            Agora está quase tudo pronto. A liga está fundada, a diretoria está bem estabelecida, o processo seletivo foi realizado e os ligantes já estão vinculados à liga, porém ainda falta colocar a liga para funcionar, o que pode não ser tão fácil quanto parece, pois existe expectativa e cobrança por parte dos ligantes. Se sua liga contar com aulas teóricas, será preciso manter contato com palestrantes para agendar datas e horários convenientes. Esta tarefa, por vezes, acaba sendo extremamente desgastante, tendo em vista que como a maioria dos palestrantes são médicos, costumam ter a agenda lotada e pouco tempo disponível, dificultando até mesmo a manutenção do contato. De outra forma, quando a liga conta com estágios práticos, a parte fundamental é conhecer e manter uma boa relação com todos os médicos do serviço de atuação, tendo em vista que serão eles que proporcionarão um melhor aproveitamento das atividades da liga.

Por fim, não serão poucas as vezes em que os palestrantes desmarcarão uma aula com pouca antecedência ou que o médico que estaria de plantão acabou mudando seu horário e não avisou ninguém. Tudo isso é normal e acontece em todas as ligas. Não deixe sua equipe desanimar e conversem para buscar soluções para tentar minimizar o efeito de acontecimentos assim.

Considerações finais

            Fundar uma liga é trabalhoso, exige comprometimento e uma equipe disposta a trabalhar. Posso dizer-lhes com propriedade que todo o esforço é válido, principalmente quando você percebe que a ideia de uma conversa de corredor virou realidade. Deixo meu incentivo aos que desejam fazer algo semelhante, coloco-me à disposição dos que quiserem conversar mais sobre o assunto e aproveito para convidá-los a acessar o Instagram da @linfectoht.

Autor: André Busato da Costa

Instagram: @andrebusato_

O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.