Carreira em Medicina

Como reduzir infecções em sítio cirúrgico de cesariana | Colunistas

Como reduzir infecções em sítio cirúrgico de cesariana | Colunistas

Compartilhar
Imagem de perfil de Comunidade Sanar

Definição de ISC (infecção em sítio cirúrgico)

A infecção de sítio cirúrgico é a principal complicação da operação cesariana. Consiste em um processo infeccioso inflamatório no local da incisão com secreção purulenta, podendo ou não ser positivo para cultura bacteriana.

Essa infecção pode ser superficial, profunda ou pode chegar a acometer órgãos e cavidades internas do abdome. Pode manifestar-se até 30 dias após a realização da cesárea e os sinais e sintomas mais comuns incluem febre (>38 ºC), dor local, edema, abscesso, hiperemia e calor decorrentes do processo inflamatório em curso.

A ISC e a cirurgia cesárea

A OMS preconiza que o parto cesárea seja menor que 15% do total de partos em um país. Porém, em estudo realizado no Brasil em 2012, a operação cesareana totalizou 55,62% do total de partos realizados nesse ano. Essa recomendação é baseada justamente no fato de que essa cirurgia expõe a parturiente à microorganismos que podem causar uma infecção no local incisão.

É importante salientar, entretanto, que o procedimento da cesárea é extremamente importante na obstetrícia quando possui indicação médica. Entre suas principais indicações, podemos destacar: cesariana prévia, falta de progressão do trabalho de parto, apresentação pélvica e condição fetal não tranquilizadora.

Porém, quando feito eletivamente e sem indicações precisas, pode ser considerada um fator de risco para infecções no local da ferida operatória, aumentando o morbimortalidade materna no Brasil e no mundo.

Porque a ISC na cesárea deve ser evitada?

A ocorrência dessas infecções está relacionada ao aumento de internações hospitalares pós-cesárea e aumento do índice de mortalidade materna. Sendo assim, corrobora em aumento dos custos despendidos pelo Estado e afeta negativamente a saúde das mulheres no Brasil.

De acordo com AGUIAR DA CRUZ, Lidiane et al. a incidência de infecção em ferida operatória após cesariana é de 3 a 15% no Brasil. Com esses dados, temos prova de que as ISC’s em cirurgia cesárea são recorrentes e que devem ser evitadas.

Como evitar as infecções em sítio cirúrgico de cesariana?

Os cuidados para prevenção de ISC’s podem ser divididos em três etapas: cuidados pré-operatórios, cuidados intra-operatórios e cuidados pós-operatórios. Todos devem ser implementados para que o combate a esse tipo de infecção cirúrgica seja mais eficaz.

Cuidados pré operatórios:

Na paciente, incluem o banho pré-operatório, degermação do local próximo à incisão antes de aplicar a solução antisséptica e realização de antissepsia no campo operatório em sentido do centro para a periferia. Nos profissionais de saúde, incluem correta antissepsia cirúrgica das mãos de acordo com os protocolos vigentes, que podem ser consultados na publicação do site da Anvisa “Segurança do Paciente em Serviços de Saúde: Higienização das Mãos”, disponível em (http://www20.anvisa.gov.br/segurancadopaciente/index.php/publicacoes/item/seguranca-do-paciente-higienizacao-das-maos).

Cuidados intra-operatórios:

Na paciente, incluem o uso de antibioticoprofilaxia (devendo ser administrado nos 60 minutos que antecedem a incisão cirúrgica da cesárea), evitar a remoção manual da placenta para conter as contaminações, reduzir o tempo cirúrgico para atenuar as chances de contaminação e manutenção da normotermia da paciente. Nos profissionais de saúde os cuidados incluem não utilização de adornos, paramentação adequada e controle na circulação de pessoas na sala cirúrgica.

Cuidados pós-operatórios:

Durante a internação hospitalar, a paciente deve ter sua troca de curativo feita após 24h do ato cirúrgico, sendo importante que o mesmo se mantenha estéril até a primeira troca.

Após a alta hospitalar, e visto que as ISC’s podem manifestar-se até 30 dias após a cesárea, de acordo com estudo recente (podendo chegar a até 80% dos casos as infecções pós alta hospitalar), é essencial a vigilância epidemiológica feita após a cirurgia. Essa vigilância deve ser realizada pela própria UBS em sua área responsável e é imprescindível para o combate à essas infecções de sítio cirúrgico pós cesariana. Além da visita domiciliar de rotina, pode ser realizada busca fonada através de ligações telefônicas, onde será aplicado um questionário com o objetivo de identificar sinais e sintomas que sugerem infecção na paciente. No caso de presença de alterações sugestivas, a paciente deve retornar à unidade básica de origem e se necessário pode ser encaminhada para uma rede hospitalar mais complexa na região onde reside.

Os profissionais de atenção primária devem ser os principais combatentes dessas infecções pós-cirúrgicas. São eles os responsáveis pela troca de curativo e acompanhamento da evolução da incisão, com busca ativa de possíveis infecções e sinais de inflamação, hematomas ou seromas. Caso encontre alguns desses sinais, o profissional de saúde deve abrir os pontos e drenar as secreções. Após o procedimento, deve-se trocar os curativos diariamente e fazer uso de antibioticoterapia se necessário.

É fundamental durante esse processo uma consulta puerperal mais ampla, que não foque somente no neonato, mas também na saúde materna, cumprindo assim um dos princípios do SUS, que é a integralidade. Esses cuidados incluem vigilância pós-alta hospitalar através de visitas domiciliares, correta retirada de pontos, identificação precoce de infecções de sítio cirúrgico pós parto através de uma anamnese atenta e uma rede de apoio à paciente no pós-parto. Feito isso e tomado os devidos cuidados em todas as etapas descritas, as infecções de sítio cirúrgico em operação cesariana podem ser diminuídas.

Brunna Caroline Spina Viriato, Estudante de Medicina.

Instagram: bruspina2