Recentemente, um novo coronavírus, oficialmente conhecido como Coronavírus 2 da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS-CoV-2), surgiu na China causando a Covid-19. Apesar de medidas drásticas de contenção, a disseminação ocorreu de forma rápida.1 A pandemia da Covid-19 emergiu, portanto, como uma grave crise no setor saúde, que, até o dia 7 de junho de 2020, às 21:00h, já totalizava quase 7 milhões de casos confirmados, com exatas 400.857 mortes em 216 países, áreas ou territórios atingidos com casos.2 Portanto, autoridades internacionais de saúde concentraram-se desde o diagnóstico precoce até a busca de terapias capazes de combater a doença.
Na atualidade, alguns métodos de diagnósticos têm sido utilizados, mas qual é, de fato, o método mais eficaz?
É sabido que o exame padrão ouro, em se tratando de vírus, é a cultura de tecido, onde o antígeno, ou seja, o vírus, é isolado. Todavia, com o advento da engenharia genética, atualmente o padrão ouro é a reação em cadeia da polimerase (PCR), que detecta o ácido nucleico de forma rápida, com alta sensibilidade e especificidade.3
Como tal, a transcriptase reversa-PCR (RT-PCR) é de grande interesse atualmente na detecção de SARS-CoV-2 devido aos seus benefícios como um ensaio qualitativo específico e simples. Além disso, a RT-PCR tem sensibilidade adequada para ajudar no diagnóstico de infecção precoce. Portanto, o ensaio de RT-PCR pode ser considerado como o principal método a ser aplicado para detectar o agente causador da Covid-19, o SARS-CoV-2.4
A confirmação diagnóstica da Covid-19 é obtida através da detecção do RNA do SARS-CoV-2 na amostra analisada, preferencialmente obtida de raspado de nasofaringe. A RT-PCR transforma o RNA do vírus em DNA; posteriormente, o DNA é amplificado, e se houver material genético do SARS-CoV-2 na amostra, sondas específicas detectam a sua presença e emitem um sinal, que é captado pelo equipamento e traduzido em resultado positivo. Assim, a suspeita de Covid-19 é confirmada.5
Para realizar o procedimento, é necessário ter a solicitação do seu médico. A coleta pode ser feita a partir do 3º dia após o início dos sintomas e até o 10º dia, pois, ao final desse período, a quantidade de RNA tende a diminuir. Existem várias metodologias e protocolos para realização da RT-PCR, por isso os resultados podem variar de um laboratório para outro.5
Um único resultado não detectado com RT-PCR para SARS-CoV-2 não exclui o diagnóstico da Covid-19. Sempre que houver discordância com o quadro clínico epidemiológico, o exame de RT-PCR deve ser repetido em outra amostra do trato respiratório. A sensibilidade de diferentes amostras biológicas para detecção do SARS CoV-2 varia.3 Um estudo3 que avaliou 1070 amostras de 250 pacientes com Covid-19 observou os seguintes valores de sensibilidade para as diferentes amostras testadas por RT PCR: lavado broncoalveolar 93%, escarro 72%, swab nasal 63%, swab de orofaringe 32%, fezes 29%, sangue 1% e urina 0%.
Como o intervalo de tempo para o pico dos níveis virais na Covid-19 ainda é desconhecido, o tempo ótimo para a coleta das amostras biológicas para o diagnóstico da infecção não foi estabelecido ainda. Um estudo chinês descreveu que 3,0% de 167 pacientes com evidência de Covid-19 na tomografia de tórax inicialmente apresentaram RT-PCR negativa. Posteriormente, o swab de todos os pacientes se tornou positivo, em um intervalo médio de 5 a 7 dias6
Outro estudo7 publicado demonstrou que a carga viral de pacientes nos quais foram realizadas múltiplas coletas de swab de orofaringe e nasofaringe oscila ao longo do tempo. Um mesmo paciente pode apresentar o vírus detectado na amostra coletada em um dia e não detectado em amostra coletada em outro dia.
Portanto, eventualmente, a coleta de múltiplas amostras, de locais e tempo diferentes durante a evolução da doença, pode ser necessária para o diagnóstico da Covid-19. Importante lembrar que a persistência do exame positivo não significa necessariamente que o paciente ainda está infectado. O período que os pacientes permanecem infectantes ainda não está totalmente esclarecido e a utilização dos testes para liberação do paciente do isolamento respiratório deve ser avaliada criteriosamente.8
Uma série de casos9 descreveu os resultados dos testes de RT-PCR em quatro profissionais de saúde que receberam alta da hospitalização ou quarentena após dois resultados negativos do teste de RT-PCR e resolução da infecção clínica por Covid-19. Todavia, após 5 a 13 dias apresentaram resultados positivos nos testes de RT-PCR. Esses achados sugerem que pelo menos uma proporção de pacientes recuperados ainda pode ser portadora de vírus.
Em uma série10 de 51 pacientes com tomografia computadorizada (TC) do tórax e RT-PCR realizados em três dias, a sensibilidade da TC para a infecção por Covid-19 foi de 98% em comparação com a sensibilidade da RT-PCR de 71% (p <0,001). Esses resultados apoiam o uso de tomografia computadorizada do tórax na triagem de Covid-19 em pacientes com características clínicas e epidemiológicas compatíveis com a infecção, principalmente quando o teste de RT-PCR é negativo.
Vale ressaltar que o contrário também pode acontecer, isto é, um paciente com infecção por Covid-19 confirmada por RT-PCR pode ter TC torácica normal na admissão. Um estudo avaliou que entre 17 dos 149 (11,4%) pacientes sintomáticos com TC torácica normal na admissão, 12 permaneceram negativos 10 dias depois, com dois a três exames de TC de seguimento. A TC torácica dos outros cinco pacientes se tornaram positiva durante uma média de 7 dias.11
Atualmente, o teste RT-PCR continua sendo o padrão de referência para fazer um diagnóstico definitivo da infecção por Covid-19. Os médicos devem estar sempre vigilantes para identificar pacientes com infecção por Covid-19, que podem ter poucos ou nenhum sintoma clínico, tomografia computadorizada normal do tórax e até mesmo teste inicial negativo de RT-PCR.11
É importante ressaltar que o início do tratamento ou cuidados para o isolamento desses pacientes não devem serem retardados se a clínica e ou exame de imagem for compatível com Covid-19, bem como nos casos, em que a RT-PCR seja negativa para SARS-CoV-2. A clínica deve ser o grande marcador diagnóstico dessa doença, sobretudo nas condições atuais: de falta de testes e de grande disseminação. Outros métodos possuem sua importância como a sorologia, teste rápido e raio x de tórax.