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Os critérios de Ranson foi o primeiro escore a ser utilizado em larga escala para estratificar a gravidade de uma pancreatite aguda, e sua utilização é de grande valor para avaliar o prognóstico do paciente acometido por essa patologia. Neste artigo, serão destacados os principais critérios analisados e o momento certo de utilizar esse escore.
Relembrando a pancreatite aguda
A pancreatite aguda é caracterizada pelo estado inflamatório do órgão, decorrente da ativação anormal das enzimas pancreáticas. É a doença pancreática mais comum, tanto na população pediátrica quando adulta. Ainda, em sua maioria, tem como etiologias mais comuns litíase biliar e alcoolismo.
Em relação às apresentações clínico-patológicas, de acordo com a classificação de Atlanta, existem dois tipos:
– Intersticial: forma mais leve, edema, aumento difuso do pâncreas e processo inflamatório autolimitado;
– Necrosante: forma mais grave, necrose pancreática, comprometimento vascular e, ainda, pode-se desenvolver síndrome da resposta inflamatória sistêmica e/ou insuficiência orgânica.
Para o diagnóstico da pancreatite aguda, precisam haver 2 dos 3 critérios a seguir: presença de dor abdominal consistente com o quadro de pancreatite, lipase ou amilase sérica pelo menos 3x o limite normal e achados radiológicos, principalmente na tomografia computadorizada com contraste que é o padrão-ouro para essa doença.
Aplicabilidade
Esta patologia é uma condição médica que precisa de uma abordagem rápida e eficaz. De acordo com a epidemiologia, no Brasil, sua incidência é de 19 casos/100.000 habitantes e, em sua forma mais grave, as taxas de morbimortalidade chegam a cerca de 30%. Logo, é de extrema importância a utilização de critérios prognósticos para o acompanhamento do quadro clínico.
Quanto ao momento da sua realização, os Critérios de Ranson devem ser aplicados no momento da admissão no paciente e após 48 horas. Deve-se atentar para a diferenciação dos critérios, a depender da causa, na pancreatite biliar e nas outras causas (álcool, medicamentos, etc.).
Critérios a serem avaliados
Na tabela a seguir, observa-se a utilização dependendo do fator causal da pancreatite e os momentos de aplicabilidade. Serão avaliados 11 parâmetros, sendo que 5 são analisados no momento da admissão e os outros 6 às 48h. Se houver a presença de 3 ou mais critérios, o paciente já pode ser classificado com uma pancreatite aguda grave. Esse escore possui uma sensibilidade em torno de 85% e sua especificidade em torno 75%.

Análise dos critérios
– Idade: quanto mais avançada, mais o indivíduo se torna suscetível às complicações graves.
– GB (glóbulos brancos): se houver leucocitose, pode indicar infecção concomitante à inflamação.
– LDH (desidrogenase láctica): se elevada, indica dano tecidual, porém de forma inespecífica.
– AST (aspartato aminotransferase): se elevado, indica lesão orgânica, principalmente hepática.
– Glicemia: se elevada, pode indicar um processo inicial de insuficiência pancreática.
– Queda do hematócrito: após 48h, pois irá avaliar o valor real, já que na admissão pode estar “mascarado”.
– Aumento de BUN (ureia nitrogenada no sangue): indica um processo de dano renal.
– Cálcio sérico: se diminuído, indica intenso processo de necrose gordurosa no pâncreas.
– pO2 arterial: se diminuída, indica um estado de hipoxemia.
– Déficit de base: indicativo de um processo de acidose.
– Perda de fluidos: perda de líquido para o 3º espaço pelo aumento da permeabilidade capilar.
Existe ainda outra correlação entre a quantidade de critérios presentes e a taxa de mortalidade:
– 0 a 2 critérios: 2%;
– 3 a 4 critérios: 15%;
– 5 a 6 critérios: 40%;
– Acima de 7 critérios: > 90%.
Analisando essa relação, pode-se perceber que somente um critério a mais pode levar a um aumento significativo na taxa de mortalidade.
Conclusão
Dessa forma, observa-se que a pancreatite aguda é uma condição para a qual deve haver uma assistência individual e eficaz, levando em consideração as possíveis complicações e a elevada taxa de morbimortalidade, dependendo da gravidade do quadro. Com isso, os critérios de Ranson e outros escores de avaliação prognóstica, em conjunto com uma abordagem diagnóstica completa, mostra-se como um método eficaz e aplicável a fim de avaliar a evolução do quadro clínico do paciente para formas mais graves dessa patologia.
O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.
Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.
Referências
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- FERREIRA, Alexandre de Figueiredo et al. FATORES PREDITIVOS DE GRAVIDADE DA PANCREATITE AGUDA: QUAIS E QUANDO UTILIZAR?. ABCD, arq. bras. cir. dig., São Paulo , v. 28, n. 3, p. 207-211, Set. 2015 . Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-67202015000300207&lng=es&nrm=iso . Acesso em: 4 Dez 2020
- SOUZA, Gleim Dias de et al . ENTENDENDO O CONSENSO INTERNACIONAL PARA AS PANCREATITES AGUDAS: CLASSIFICAÇÃO DE ATLANTA 2012. ABCD, arq. bras. cir. dig., São Paulo, v. 29, n. 3, p. 206-210, Set. 2016 . Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-67202016000300206&lng=en&nrm=iso . Acesso em: 4 Dez 2020