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Deficiência de Folato: entendendo os conceitos básicos | Colunistas

Deficiência de Folato: entendendo os conceitos básicos | Colunistas

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Sendo um tipo de vitamina B (B9), a deficiência do ácido fólico possui consequências semelhantes aos da vitamina B12, como a anemia megaloblástica, que é a mais comum, todavia com ausência de sinais neurológicos.

Em geral, é causada pela desnutrição, alcoolismo crônico, síndrome da má absorção, uso de antagonistas de folato, além de erros inatos do metabolismo deste. Apesar de ter tido uma queda devido à diminuição de carência nutricional, ainda se vê na clínica, especialmente em gestantes de classes mais pobres.

Na fase inicial, tanto a hemoglobina quanto o volume corpuscular são normais; já na fase grave, indivíduos apresentam anemia sintomática e pancitopenia (diminuição de todas as três linhagens de células sanguíneas).

FONTE: https://www.shutterstock.com/ru/image-vector/effect-anemia-on-skin-blood-flow-734614765

Fisiopatologia

Ácido fólico ou pteroilglutâmico é amarelo, termoestável e fotossensível. A absorção é feita nos enterócitos do intestino delgado, além de alcançar, pela veia porta, o fígado, porém na forma 5-metiltetraidropteroilglutamato devido a oxidação, sendo este seu maior reservatório, mas seu estoque é curto. Seus sinais podem vir a surgir após 5 meses do começo da perda.

Participa na biossíntese das purinas, timina, serina e histadina.

A anemia megaloblástica se desenvolve mais rapidamente quando comparada à deficiência de B12. Na fase aguda, a língua se torna mais avermelhada e dolorida; já na crônica, temos a hipotrofia das papilas.

Na gestação se explica devido ao folato ser essencial para a síntese de DNA na embriogênese, causando, assim, problemas com o fechamento do tubo neural.

Onde o folato está presente?

O folato está presente em alimentos como vegetais de folhas verde-escuras, frutas e legumes, além de estar presente na sua forma sintética em produtos de cereais fortificados.

A ingestão pode estar inadequada, devido ao consumo pobre nos alimentos citados, além de cozimento excessivo, visto que este destrói o fato dos vegetais.

Folato na gestação

Este é necessário para o desenvolvimento do sistema nervoso central; uma vez que a gestante é a fonte de folato para o bebê, é indispensável que esteja com níveis adequados da vitamina.

Com isso, a deficiência na ingestão de ácido fólico durante a gravidez acarreta em malformações especialmente no fechamento do tubo neural. Alguns defeitos do tubo neural associados à deficiência de folato: anencefalia, defeito causal com displasia da medula espinhal, além de comprometimento das funções intestinal e vesical.

Durante o pré-natal, as gestantes são orientadas a tomar ácido fólico para evitar tais complicações.

Grupos de risco

Pacientes com um risco elevado de desenvolverem deficiência de folato:

  • Grupos de baixa condição socioeconômica com desnutrição;
  • Idosos com ingestão alimentar deficiente;
  • Pessoas que abusam de bebidas alcoólicas;
  • Gestantes, lactantes e bebês prematuros;
  • Pessoas com anemia hemolítica crônica;
  • Pessoas que tomam medicamentos que interferem na absorção e no metabolismo do ácido fólico;
  • Indivíduos com má absorção hereditária de folato e com defeitos congênitos no metabolismo do folato.

Sintomas e sinais

A anemia megaloblástica é a principal característica, sendo assim, os sinais e sintomas a serem encontrados em maior proporção são: fadiga, palpitações, dispneia, tontura, cefaleia, perda de apetite e de peso.

Petéquias podem estar presentes em pacientes com trombocitopenia.

Exames diagnóstico e prevenção:

Os iniciais:

  • Esfregaço de sangue periférico;
  • Hemograma completo;
  • Contagem de reticulócitos.

Outros exames que podemos considerar:

Na prevenção primária, a suplementação é a saída para gestantes, lactantes, indivíduos que sofrem com a má absorção e perda de folato.

Abordagem da deficiência por ácido fólico

  • Quando suspeitar?

Pacientes de risco: indivíduos com dieta pobre em vegetais, alcoólatras, anoréticos e com anemia macrocítica (sem sintomatologia neurológica).

  • Como confirmar?

Hemograma, pode possuir plaquetopenia, teste terapêutico com ácido fólico, onde pode agravar manifestações neurológicas caso a deficiência seja por B12 e não pelo fólico.

E quanto ao tratamento?

Ácido fólico leva à rápida resposta e reticulose (manter até o hemograma ser normalizado). Vale ressaltar que há uma grande variedade de medicamentos para a vitamina, além de existirem tanto em comprimido quanto em gotas, alguns exemplos são:

  • Folacin;
  • Bravitan;
  • Acfol;
  • Afopic;
  • Folin.

Suplementação de potássio

Alguns efeitos colaterais dos medicamentos incluem: irritabilidade, distúrbio do sono, confusão, flatulência e hipersensibilidade.

Vale ressaltar a quantidade de folato mg/dia:

  • Lactentes, 0-12 meses: 40 – 120;
  • Crianças, 1-12 anos: 200;
  • Adolescentes 13-16 anos: 400;
  • Adultos: 400;
  • Grávidas: 800;
  • Mulheres amamentando: 600.

Considerações finais

Com relação ao ácido fólico:

  • É obtido através de alimentos, como fígado e especialmente verduras verdes;
  • Estoques corporais são suficientes para três meses;
  • Suplementação durante a gestação é indispensável;
  • Falta de ácido fólico na gestação pode ocasionar problemas no fechamento do tubo neural;
  • Anemia megaloblástica é o principal sintoma, porém além dela podemos ter: degeneração combinada subaguda da medula espinhal e neuropatia periférica;
  • Ingestão abusiva de álcool pode ocasionar deficiência de Vitamina B9;
  • Prevenção primária é basicamente a suplementação;
  • Pode ser confundida com deficiência de B12, contudo na falta de folato a anemia megaloblástica é desenvolvida mais rápida;
  • Exame primário – hemograma completo.

Autoria: Milena Abra

Referências:

  1. ROSAII, S. K. U. G. Associação da deficiência de ácido fólico com alterações patológicas e estratégias para sua prevenção: uma visão crítica. Revista de Nutrição: Scielo, Campinas, v. 23, n. 5, dez./2005. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-52732010000500018. Acesso em: 16 nov. 2020.
  2. BMJ BEST PRACTICE. Deficiência de folato. Disponível em: https://bestpractice.bmj.com/topics/pt-br/823. Acesso em: 17 nov. 2020.
  3. OLIVEIRA, r. g. d; Blackbook clínica médica: Medicamentos e rotinas médicas. 2. ed. SP: LTDA, 2014. p. 206-206/535-535.
  4. HALL, Guyton &; Tratado de fisiologia médica. 13. ed. SP: Elsevier, 2017. p. 899-899.
  5. BOGLIOLO; Patologia. 9. ed. RJ: Koogan, 2016. p. 378-378/1006-1006.

O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.