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A demência é uma síndrome que desenha o declínio cognitivo múltiplo e persistente capaz de interferir na vida laboral do indivíduo. Tem um poder diferente do dellirium, pois esse interfere na atenção do indivíduo, e a demência se justifica pela perda de memória.
O efeito demencial pode surgir por doenças previamente diagnosticadas, como Doença de Parkinson e Mal de Alzheimer, mas também por aparecimento de corpúsculos proteicos no córtex cerebral, como a Demência com corpos de Lewy.
Um paciente pode ser identificado com demência a partir de sinais como alucinações visuais recorrentes, flutuações do estado cognitivo, sinais parkinsonianos extrapiramidais e sensibilidade aumentada ao uso de neuroepiléticos.
Podem ser aludidos, também, os transtornos de cognição, como afasia (distúrbio da linguagem), apraxia (distúrbios de movimentos motores voluntários), agnosia (dificuldade de distinção de objetos através dos sentidos) e perda da função executiva (estranhamento ao organizar e planejar).
Demência: cortical e subcortical
De forma geral, as demências podem ser divididas em demência cortical ou demência subcortical. Em casos de estado demencial subcortical, nota-se anomia, velocidade de processamento cognitivo precocemente afetada, personalidade apática, humor deprimido, fala disártrica, postura curvada, coordenação prejudicada, velocidade motora lentificada e presença de coreias, distonias e tiques.
Já em situações de demência cortical, vê-se afasia precoce, velocidade de processamento cognitivo normal, personalidade despreocupada, humor eutímico, fala articulada, postura normal, controle motor normal e ausência de movimentos anormais.
A proposta de classificar um quadro clínico de demência à formação dos Corpos de Lewy (CL) se baseia em achados histológicos que adequam o seu aparecimento em uma etiologia degenerativa.
A gênese dos corpos de Lewy vem da proteína alfa sinucleína, encontrada na fenda pré-sináptica; fisiologicamente, essa proteína age como reguladora de liberação das vesículas sinápticas e na regulação de liberação de dopamina. Em casos de mutação do gene dessa proteína, a substituição de alanina e de treonina propõe o surgimento dos copos de Lewy.
Classificação de corpos de Lewy
Os corpos de Lewy podem ser classificados em clássicos e corticais. Os clássicos são estruturas com centro hialino e circundado por um halo claro, encontrado na substancia negra e no locus ceruleus. Já os corpos de Lewy corticais são menos definidos, não possuem um halo ao redor de sua estrutura central e são encontrados em neurônios do córtex cerebral.
Os CL apresentam efeito neurotóxico regional, colaborando com o aparecimento de células da glia proporcionais ao número desses corpúsculos degenerativos. O sistema imune responde com efeito pró inflamatório, no entanto, essa resposta também possui efeito neurotóxico e pode estar relacionada com a progressão dos corpos de Lewy.
Um paciente que apresenta a DP também apresenta uma histopatologia dos Corpos de Lewy, todavia, situada em um local diferente da Demência com Corpos de Lewy. Na DP, os corpos de Lewy intracelulares estão no tronco cerebral e na substância nigra, sendo objeto principal da perda neuronal e glicose. Já na DCL, os corpos estão situados no neocórtex, sistema límbico, tronco cerebral e núcleos subcorticais.
Observa-se também a perda de memória em fase mais evoluída da doença, diferentemente da Doença de Alzheimer, que ocorre fase precoce da doença. Um outro achado clínico é a flutuação cognitiva, que apresenta um quadro de alteração de consciência e de atenção, presença de uma fala confusa e incoerente, hipersonôlencia diurna (diferente da sonolescência senil fisiológica) e incapacidade de reconhecimento do ambiente que está situado. Esse estado é transitório e intercala com momentos de função cognitiva quase normal.
Diagnóstico de Demência com corpos de Lewy
Para o suporte diagnóstico, podemos encaixar os seguintes achados clínicos, não são via de regra, mas são frequentemente encontrados em um indivíduo acometido com DCL. Quedas repetidas e síncopes quando os CL estão situados no tronco cerebral, delírios sistematizados, depressão, Tomografia Computadorizada (TC) e Ressonância Magnética (RM) com lobo temporal e hipocampo preservados, atividades occipital reduzida e hipotensão ortostática.
Além das perspectivas clínicas sobre o paciente com demência, há outros métodos de diagnose que designam a etiologia corpuscular, como por exemplo, a avalição neuropsicológica. Esse procedimento tem por objetivo investigar as funções cognitivas e práxis dos pacientes, possibilitando visualizar o grau de integridade das funções avaliadas com uma duração média de 1 hora de avaliação, por seção.
Depois de uma visão holística do doente, basta descartar a presença de doença cerebrovascular ou doenças sistêmicas neurológicas, para, enfim, diagnosticar adequadamente a patologia em destaque.
O tratamento consiste em cuidados paliativos que foquem no bem-estar e no conforto do paciente. Podem ser inseridos na rotina de atenção do indivíduo antipsicóticos, antidepressivos e benzodiazepínicos, para o controle de sintomas neuropsiquiátricos e transtornos do sono.
O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.
Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.
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