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Desnutrição proteico-energética grave | Colunistas

Desnutrição proteico-energética grave | Colunistas

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Introdução

A desnutrição proteico-energética (DPE) é uma doença de natureza clínico-social. Pode ser definida como um desequilíbrio celular entre o suprimento de energia e nutrientes e o uso destes para o crescimento, manutenção e funções específicas do corpo. É capaz de gerar diversas alterações fisiológicas na tentativa de adaptar o organismo à escassez de nutrientes.

Para diagnosticar a DPE, deve ser realizada uma avaliação clínica com análise de diversos elementos, como idade, altura, peso, dados sobre alimentação, avaliação bioquímica e imunológica, avaliação metabólica e diagnóstico nutricional. Caso a condição não seja identificada, ocorre um aumento dos riscos de complicações adversas para os pacientes, podendo resultar em óbito se não for tratada de forma adequada.

Causas e classificação da desnutrição

A desnutrição proteico-energética pode ser classificada em três níveis: leve, moderada ou grave. Para isso, é realizado o cálculo da porcentagem do peso esperado em relação à altura esperada.

  • Leve: 85% a 90%.
  • Moderada: 75% a 85%.
  • Grave: Abaixo de 75%.

São diversos os fatores que podem gerar um quadro clínico de DPE. Dentre eles, podemos mencionar:

  • Desmame precoce;
  • Fatores culturais;
  • Fatores socioeconômicos;
  • Renda familiar.

Além disso, a DPE pode ser classificada em primária e secundária, conforme as suas causas.

  • Primária: resulta da ingestão inadequada de nutrientes, com uma alimentação quantitativa ou qualitativamente insuficiente em calorias e nutrientes. Geralmente é prevalente em regiões nas quais a população se encontra em situações socioeconômicas precárias.
  • Secundária: a ingestão de alimentos é insuficiente como resultado do aumento das necessidades energéticas ou como consequência de distúrbios ou fármacos que interferem na utilização dos nutrientes. Exemplos: presença de verminoses, anorexia, intolerâncias alimentares, entre outros fatores.

Epidemiologia e notificação compulsória

Apesar de estudos epidemiológicos indicarem a diminuição da prevalência da desnutrição proteico-energética grave no Brasil, a doença continua sendo um considerável problema de saúde pública no país, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, na área rural do Brasil e nos bolsões de pobreza das periferias das grandes metrópoles.

Figura 1: Mortalidade infantil por desnutrição

Desde 2001, a notificação compulsória (NT) da desnutrição grave é entendida como condição “sine qua non” (essencial; indispensável) para a eliminação da desnutrição infantil por causa primária no país. Para fins de notificação compulsória, é importante a classificação da desnutrição, de acordo com a sua causa básica. Além de gerar o conhecimento da desnutrição grave, a NT pode estabelecer mecanismos para a investigação com o estabelecimento de ações para o controle da doença pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Consequências e tratamentos

A DPE gera diversas alterações fisiológicas no organismo. Quanto mais grave o caso, mais graves serão as repercussões orgânicas. Dentre as principais alterações, podemos mencionar:

  • Emagrecimento;
  •  Grande perda muscular e dos depósitos de gordura;
  • Alterações psíquicas e psicológicas;
  • Alterações de cabelo e de pele;
  • Alterações sanguíneas;
  • Alterações ósseas, como a má formação;
  •  Alterações no sistema nervoso, como estímulos nervosos prejudicados, número de neurônios diminuídos etc.;
  • Alterações nos demais órgãos e sistemas respiratório, imunológico, renal, cardíaco, hepático, intestinal etc.;
  • Indivíduos com desnutrição proteico-energética grave ficam mais sujeitos a infecções, como resultado da queda nas defesas corporais.

O tratamento da desnutrição grave ocorre em 3 fases:

  •  Fase I: estabilização;
  • Fase II: reabilitação;
  • Fase III: acompanhamento.
Fonte: http://bvsms.saude.gov.br/

Figura 2: Esquema de procedimento para diagnóstico e tratamento hospitalar de criança com desnutrição proteico-energética grave

Conclusão:

É extremamente importante que haja medidas de prevenção da desnutrição proteico-energética grave, como orientação da população sobre o aleitamento materno, divulgação de informações sobre alimentação saudável, realização de programas governamentais que alcancem a população, entre outras.

A desnutrição proteico-energética no Brasil ainda é um problema que acomete muitas pessoas, mesmo com a redução da sua prevalência. A prevenção e o controle da desnutrição dependem de medidas amplas e eficientes de combate à pobreza e à fome e políticas de inclusão social. O sucesso no cuidado da criança com desnutrição grave requer que ambos os problemas, clínico e social, sejam identificados, prevenidos e resolvidos da melhor forma possível, não abordando a doença apenas do ponto de vista clínico. “A saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não meramente a ausência de doenças e enfermidades.” – Organização Mundial de Saúde (OMS)

Autora: Marina Pezzetti       

Instagram: https://www.instagram.com/marinapezzetti/

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Referências:

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  2. Management of severe malnutrition: a manual for physicians and other senior health workers. 1 Child nutrition disorders- therapy 2. Nutrition disorders – therapy 3. Manuals 4. Guidelines ISBN 92 4 154511 9 (Classificação NLM: WD 101).
  3. HENRICHSEN, J.; SILVA, F.M.; COLETTI, S.B. Prevalência de desnutrição em pacientes adultos que ingressam na emergência de um hospital público. Nutrición clínica y dietética hospitalaria, v. 37, n. 2, p. 132-138, 2017.
  4. Desnutrição energético-proteica (DEP); John E. Morley, MB, BCh, Saint Louis University School of Medicine.
  5. SAWAYA, Ana Lydia. Desnutrição: consequências em longo prazo e efeitos da recuperação nutricional. Estudos avançados 20 (58), 2006.
  6. LIMA, Adriana Martins de; GAMALLO, Silvia Maria M.; OLIVEIRA, Fernanda Luisa C.. Desnutrição energético-proteica grave durante a hospitalização: aspectos fisiopatológicos e terapêuticos.Rev. paul. pediatr. São Paulo, v. 28, n. 3, p. 353-361,  Sept.  2010.
  7. RECINE, Elisabetta; RADAELLI, Patrícia. Obesidade e desnutrição.  NUT/FS/UnB – ATAN/DAB/SPS.‌
  8. EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS: NOTIFICAÇÃO COMPÚLSÓRIA DA DESNUTRIÇÃO GRAVE. [s.l: s.n.]. Disponível em: http://189.28.128.100/nutricao/docs/geral/nota_notifica_desnutricao_grave_para_mds_01_08_07.pdf>. Acesso em: 22 nov. 2020.