Medicina da Família e Comunidade

Diagnóstico da COVID-19 em pediatria | Colunistas

Diagnóstico da COVID-19 em pediatria | Colunistas

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Introdução

O diagnóstico confirmativo da COVID-19 em crianças é um desafio, visto que os achados laboratoriais e as imagens do tórax podem não ser específicos. Dessa maneira, o diagnóstico é comumente feito pelo teste de reação em cadeia da transcriptase reversa da polimerase (RT-PCR) das secreções do trato respiratório associado ao quadro clínico.

Os diagnósticos são, então, comumente baseados na presença de pelo menos dois sintomas (febre, sintomas respiratórios, sintomas gastrointestinais ou fadiga), combinados com testes laboratoriais (contagem normal ou baixa de leucócitos e proteína C reativa aumentada) e um raio X de tórax anormal.

Diagnóstico laboratorial

Na literatura se observa que as crianças apresentam contagem de leucócitos normal e que a neutrofilia (4,6%) e a neutropenia (6,0%) são raras.

Além disso, é constatado que proteína C reativa pode estar aumentada, assim com o nível de LDH, creatinina, quinase MB (possível lesão cardíaca), procalcitonina (provável infecção bacteriana

secundária) e lactato desidrogenase.

Por fim, o número de células T CD4 + e CD8 + está diminuído nos casos COVID-19 de crianças.

É importante notar que um marcador elevado de inflamação (ou seja, proteína C reativa elevada, taxa de sedimentação de eritrócitos, dímero D, fibrinogênio, ferritina, procalcitonina, interleucina-6) deve apontar para doença mais grave e/ou a possibilidade de síndrome multissistêmica inflamatória pediátrica (PIMS)/síndrome inflamatória multissistêmica em crianças (MIS-C) associada à SARS-CoV-2.

Exames de imagem

As alterações de imagem na COVID-19 descritas nos artigos que envolvem pacientes pediátricos seriam mais evidentes a partir do quarto dia da doença.

A radiografia de tórax é moderadamente sensível e moderadamente específica para o diagnóstico de COVID‐19. O raio-x pode mostrar áreas difusas de espessamento peri-brônquico. Há ligeiro predomínio nas regiões parahiliares. Opacidades irregulares ou listradas foram as anormalidades radiográficas mais comuns, mas pode-se citar também alterações como consolidação unilateral, derrame pleural e/ou alargamento do mediastino. As anormalidades radiológicas podem continuar a persistir mesmo após a resolução dos sintomas clínicos.

A tomografia de tórax é sensível e moderadamente específica para o diagnóstico de COVID‐19. Nos estágios iniciais da doença, a imagem mostra múltiplas pequenas placas periféricas e alterações intersticiais. Com a progressão da doença, aparecem múltiplas opacidades em vidro fosco bilaterais e/ou sombras infiltrantes, que podem progredir para consolidação pulmonar com um halo circundante, que é um achado típico em pacientes pediátricos. A distribuição periférica das lesões pulmonares com envolvimento multilobado também é comum. Os achados da TC de tórax podem ser anormais mesmo em pacientes assintomáticos e podem ser úteis no diagnóstico precoce.

O ultrassom é sensível, mas não específico para o diagnóstico de COVID-19. Mesmo os pacientes com COVID-19 com sintomas não respiratórios podem ter alterações pulmonares que são visíveis na ultrassonografia pulmonar. Embora o futuro seja desconhecido, é difícil imaginar que o ultrassom será usado como uma modalidade de imagem inicial para avaliar pacientes pediátricos com infecção por COVID‐19, particularmente pacientes com sintomas leves ou sem sintomas.

Contudo, por ser uma modalidade de imagem não invasiva e livre de radiação, pode desempenhar um papel potencialmente útil no monitoramento e detecção de complicações da consolidação localizada perifericamente da infecção por COVID‐19 que foram previamente identificadas no raio-X ou tomografia. Ademais, com o crescente reconhecimento de pacientes pediátricos com síndrome inflamatória multissistêmica em crianças (MIS‐C), uma suposta sequela pós-infecciosa de infecção pediátrica por COVID‐19, o ultrassom (ecocardiograma) pode ser crucial para o diagnóstico e avaliação de imagem de acompanhamento de crianças com MIS-C que frequentemente se

apresentam com insuficiência cardíaca (disfunção sistólica do ventrículo esquerdo), dilatação da artéria coronária, edema pulmonar e derrame pleural.

Assim, a TC de tórax e a ultrassonografia podem ter mais utilidade para excluir COVID‐19 do que para diferenciar a infecção por SARS‐ CoV‐2 de outras causas de doença respiratória.

Conclui-se que esses sinais de imagem podem ser úteis para a avaliação do estado da doença e orientar o cuidado, particularmente em pessoas com comorbidades, mas não para o diagnóstico.

Conclusão

É improvável que a ameaça mais significativa à saúde infantil global do SARS-CoV-2 esteja relacionada aos efeitos do vírus Sars-Cov-2 no corpo, mas sim às consequências socioeconômicas de uma pandemia prolongada.

Além disso, minimiza-se a importância de falar sobre os danos e as mortes causados pela COVID-19 em crianças porque o efeito do vírus Sars-Cov-2 é muito mais intenso nos adultos.

Esse pensamento popular tem por base os números refletidos na maioria das análises epidemiológicas sobre a COVID-19, os quais mostram que a percentagem média de pessoas infectadas com o Sars-Cov-2 menores de 15 anos representam cerca de 2,46% do total de hospitalizações (14.638/594.587) e 0,62% de todas as mortes (1.203/191.552) – Nota técnica sobre dados epidemiológicos da COVID-19 em pediatria de 17 de março de 2021 da sociedade brasileira de pediatria. A porcentagem pode parecer pequena, mas quando se coloca em números, observa-se que muitas crianças são acometidas.

Desse modo, deve-se intensificar os esforços para estudar, reconhecer precocemente e tratar as crianças infectadas. A identificação e intervenção antecipada em pacientes pediátricos com COVID-19 são essenciais para o controle da pandemia.

Autora: Melissa Amorim Martins

Instagram: @medmel_

O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.


Referências:

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ISLAM, Nayaar et al. Thoracic imaging tests for the diagnosis of COVID‐19. Cochrane Database of Systematic Reviews, n. 3, 2021.