Dispneia: classificação com a Escala de dispneia modificada | Colunistas

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As doenças respiratórias estão entre as principais causas de óbitos no mundo, sendo a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) a terceira causa mais frequente, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.  

            A dispneia é um sinal clínico associado e sintoma de inúmeras doenças e alterações  fisiológicas. O conhecimento de sua quantificação é necessário para o diagnóstico clínico e conduta do profissional. Por tanto, existem diversos instrumentos de medição e classificação desse sinal. Neste capítulo, será abordado a Escala de dispneia Modificada (Modified Medical Research Concil – mMRC), um instrumento unidimensional relacionado às atividades cotidianas.

Por que usá-la?

A criação das escalas de medição da dispneia está intimamente ligada às abordagens terapêuticas no tratamento de doenças respiratórias, visto que a dimensão de comprometimento pulmonar não pode ser obtida por testes funcionais pulmonares. Na  mMRC, é averiguado a incapacidade funcional basal devido à dispneia, principalmente em paciente com DPOC, associando a pontuação a atividades diárias, como higiene pessoal, afazeres domésticos, atividades físicas e de lazer.

A mMRC é um dos meios de averiguação mais usados e confiáveis devido a sua facilidade e eficiência ao exercer o cálculo. Há mais de duas décadas vem sendo utilizada para a classificação em múltiplas populações heterogêneas, correlacionando amplos aspectos a doenças respiratórias, como cuidados de saúde, qualidade de vida e morbidade, além de outros índices clínicos.

Escala mMRC, na íntegra

Usada há décadas, originalmente a escala categorizada em 5 graus, sendo 1 sendo considerado “normal” e 5 “dispneia aos mínimos esforços, fator alarmante”. Sucessivamente a American Thoracic Society publicou uma revisão, alterando a categorização para 0-4 graus, consolidando a mMRC, em que 0 classifica “falta de ar em exercícios físicos” e 4 “dispneia aos mínimos esforços, fator alarmante”.

A escala modificada é bastante utilizada em pacientes com DPOC pela sua facilidade de uso e correlação prognóstica, e também por ser uma escala unidimensional.

Figura 2. Escala de dispneia modificada (mMRC).
Fonte:http://www.sopterj.com.br/wp-content/uploads/2018/03/protocolo-dpoc-2018.pdf.

 Vantagens da mMRC

O uso da mMRC como classificação unidimensional traz algumas vantagens em sua classificação:

  • A escala mMRC é capaz de quantificar a deficiência relacionada à falta de ar, sendo útil na caracterização da dispneia basal em pacientes com doenças respiratórias;
  • Apresenta efetividade positiva com outros instrumentos classificatórios de dispneia, como diagrama de custo de oxigênio (OCD) e índice de dispneia basal (BDI);
  • As pontuações da escala se associam à morbidade e, em alguns estudos, à mortalidade, em paciente com problemas pulmonares;
  • É usada adicionalmente ao índice BODE (Body mass index, airway Obstruction, Dyspnea, and Exercise capacity), responsável por apresentar resultados adversos como mortalidade e risco de hospitalização.

Desvantagens/Adversidades da mMRC

Embora seja muito utilizada, a mMRC tem suas contraindicações e peculiaridades quando colocada em prova:

  • Esta escala foca primordialmente na dispneia associada a caminhadas, não abrindo espaço para uma avaliação multidimensional da dispneia;
  • Não é possível com a mMRC detectar mudanças no nível da dispneia após intervenção terapêutica;
  • A classificação do grau de dispneia exige um mecanismo de perguntas e respostas, excluindo paciente com déficit de compreensão e fala;
  • Não é possível fazer avaliações em pacientes com qualquer outra comorbidade pulmonar associada ou limitações físicas que venham a comprometer as atividades gerais predispostas na escala (0-5);
  • É capaz de descrever a dispneia basal, mas não quantifica precisamente para evidenciar uma resposta terapêutica em pacientes com DPOC.
  • Não relaciona o esforço relativo a cada paciente ao exercer as atividades gerais, sendo a dispneia refletiva exclusivamente na pontuação da MMRC.

Conclusão

Por fim, a Escala de dispneia modificada mostrou efetividade e importância há décadas, quando se trata de classificar a respiração em pacientes com acometimentos pulmonares. A dispneia, mesmo não sendo um sinal grave em muitos casos, está intimamente presente em inúmeros quadros clínicos, evidenciando tanto ao paciente quanto ao profissional de saúde, que algo não está certo.

Apresentando resultados confiáveis aos pacientes que se enquadram no padrão de classificação, e mesmo com suas adversidades, a escala mMRC mostrou a possibilidade  de associar a pontuação a um tratamento terapêutico, além de estipular taxas de morbidade e mortalidade em quadros respiratórios, como DPOC.


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências:

Utilidade da escala de dispneia do Medical Research Council (MRC) como uma medida de incapacidade em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica – https://thorax.bmj.com/content/54/7/581.long

Validação do Modified Pulmonary Functional Status and Dyspnea Questionnaire e da escala do Medical Research Council para o uso em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica no Brasil- https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-37132008001200005

Dispneia em DPOC: além da escala modified Medical Research Council- https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-37132010000500008

Modified Medical Research Council (mMRC) e a sua relação com variáveis respiratórias e o tempo de internação em pacientes hospitalizados com doença pulmonar obstrutiva crônica – https://docs.bvsalud.org/biblioref/2020/02/1049474/45338-texto-do-artigo-com-identificacao-da-autoria-127291-1-10_SOFkIiQ.pdf

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