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Gases intestinais é um causa de dor abdominal. Saiba como identificá-la, quais os seus diagnósticos diferencias e como manejar o quadro.
Dor abdominal é uma das queixas mais prevalentes nas unidades de emergência e de atendimento ambulatorial. Entretanto, apesar da alta frequência, o seu manejo não costuma ser algo simples. Isso decorre do fato existem muitas possibilidades etiológicas, sendo necessário uma investigação clínica mais atenta e profunda.
Dentre as causas de dor abdominal temos os gases intestinais em excesso. Esse sintoma gastrointestinal, costuma a causar distensão abdominal, dor no abdome e estar associado a quadros de náuseas, flatulências, inchaço e eructação.
Para saber como manejar o quadro e realizar diagnósticos diferenciais, continue a leitura do texto e fique por dentro de tudo que você precisa saber.
Dor abdominal
A dor abdominal possui diversas etiologias devido as muitas estruturas, órgãos e vísceras que existem no abdome. Cada uma delas vai apresentar um padrão e outras terão apresentações clínicas semelhantes, sendo mal caracterizada pelo paciente em virtude vísceras abdominais apresenta inervação multissegmentar.
Essa dor abdominal pode ser aguda ou crônica, em relação ao período de instalação e como se apresenta. Geralmente chamamos de abdome agudo aquela dor que requer terapia cirúrgica de emergência.
Leia mais sobre Abdome Agudo|Colunistas e Dor Abdominal: entenda os sinais e padrões semiológicos.
Gases intestinais
É normal ter gases intestinais. O seu volume no intestino é de aproximadamente 200ml. Desses, há o predomínio do nitrogênio. Apesar disso, ainda encontramos oxigênio, dióxido de carbono, hidrogênio e metano que costumam variar entre os indivíduos.
Produção dos gases intestinais
Esses gases intestinais naturalmente são originados de duas formas. A primeira seria através da Deglutição de ar ou aerofagia. Nesse caso, o oxigênio e o nitrogênio, são adquiridos na ingestão de alimentos e deglutição normal. Pode ter ainda o aumento dessa ingesta ao mascar chicletes e fumar.
A segunda forma é a produção intraluminal. São produzidos cinco gases principais, cada um deles oriundos da digestão de alguns nutrientes e como excretas de bactérias. A digestão de gorduras e proteínas serão responsáveis por liberarem substratos para bactérias transformarem em dióxido de carbono. Carboidratos e proteínas também são fontes de hidrogênio, bem as excretas de bactérias fecais. O metano, por sua vez, vai ser produzido exclusivamente por metabolismo bacteriano.
Além dessas, existe um fator que é a difusão do sangue que colabora com a disseminação desses gases produzidos. A pressão parcial dos gases intestinais determina a direção da difusão do gás entre o lúmen intestinal e a corrente sanguínea.
Excesso de gases intestinais
Apesar de ser normal produzir gases, o que causa desconforto e ocasiona dores abdominais é o seu aumento. Essa produção em excesso pode ocorrer por alguns fatores, como:
- Deglutição excessiva de ar: pode ser decorrente de um momento de estresse;
- Aumento da produção intraluminal: devido à má absorção de nutrientes, uma vez que alguns alimentos como leguminosas que contém estaquiose e rafinose, que tenha amidos resistentes, não são completamente digeridos no intestino delgado e acabam produzindo em excesso o hidrogênio;
- Diminuição da absorção de gases: que pode ocorrer devido à obstrução intestinal ou expansão do gás intraluminal devido a mudanças na pressão atmosférica.
Diagnósticos diferenciais de gases intestinais em excesso
Gases intestinais em excesso é um sintoma gastrointestinal que pode estar associado à diversas causas. As patologias são desde às mais simples, relacionadas com estilo de vida, bem como a condições mais complicados, como uma obstrução intestinal, tendo risco de vida. Dessa forma, é preciso realizar diagnósticos diferenciais.
Alguns diagnósticos diferenciais precisam ser realizados em pacientes com excesso de gases intestinais. São eles:
- Obstrução intestinal: aderências e malignidades
- Distúrbios de mobilidade: diabetes, esclerodermia, pseudo-obstrução e medicamentos
- Síndrome do Intestino Irritável
- Má absorção: intolerância à lactose e a frutose, doença celíaca, insuficiência pancreática
- Infeccioso: giardíase e supercrescimento bacteriano do intestino delgado
- Psicológico: ansiedade (aerofagia)
- Dietético: alimentos produtores de gases e FODMAPs
- Mudanças na pressão atmosfera.
Como manejar as causas de excesso de gases intestinais?
O paciente geralmente chegará no ambulatório ou na emergência com as seguintes queixas:
- Dor abdominal
- Distensão abdominal e inchaço
- Flatulência em excesso
Pode ainda apresentar, a depender da causa, náuseas, vômitos, diarreia ou constipação.
Anamnese
Nesse momento, com o paciente sentindo muitas dores, é preciso fazer uma anamnese mais rápida, focada em alguns pontos importantes:
- Deve-se caracterizar a dor quanto à forma do início dos sintomas, duração, irradiação, qualidade da dor, localização, intensidade da dor, fatores de melhora e de piora, fatores desencadeantes;
- Deve-se ainda caracterizar os sintomas associados, como o inchaço, distensão abdominal, flatulências, etc;
- É importante questionar sobre doenças prévias, alergias ou intolerâncias alimentares;
- Deve-se questionar sobre doenças prévias e cirurgias ou procedimentos realizados;
- Importante fazer um recordatório alimentar;
- Deve-se questionar sobre as dejeções, cor das fezes, frequência, se tem constipação, etc;
- O profissional deve fazer perguntas sobre questões psicológicas, para saber sobre ansiedade, por exemplo.
A partir dessas informações é possível já começar a construir um raciocínio diagnóstico, pensando em gases ou em outros problemas mais complexos.
Em casos de gases decorrente de questões dietéticas, é importante que o estudante de medicina ou o médico saibam quais os alimentos que geralmente estão associados a gases e inchaço. São eles:
- Leite e derivados;
- Legumes como cebola, brócolis, couve-flor;
- Grãos integrais: trigos, grão de bico;
- Leguminosas: feijão, ervilha;
- Comidas fritas;
- Cervejas.
Exame físico
É importante avaliar o aspecto geral do paciente, como frequência cardíaca e pressão arterial. Depois o médico deve fazer inspeção, observando cicatrizes cirúrgicas, alterações na pele, ou algum outro sinal suspeito.
O próximo passo é a ausculta. Importante perceber os sons ou a ausência dele. É possível, dessa forma, suspeitar de uma obstrução de intestino delgado, por exemplo, através de peristaltismo de luta.
Para finalizar, deve-se fazer a palpação e percussão. É possível avaliar a sensibilidade do abdome, distensão da parede abdominal.
Relembre mais do exame físico do abdome com nosso texto: Resumo de Semiologia Abdominal: inspeção, palpação, percussão e mais!
Exames complementares
Algumas vezes não será possível confirmar através da clínica que aquela dor abdominal é decorrente de excesso de gases. Assim, os exames que podemos solicitar para continuar a investigação é a ultrassonografia e uma tomografia computadorizada.
Atenção aos sinais de alarme
Pacientes com flatulência excessiva, inchaço e distensão abdominal e que tenham algum dos sintomas abaixo, é necessário investigar mais a fundo a fim de evitar uma complicação futura:
- Dor abdominal noturna;
- Perda de peso;
- Sangue nas fezes;
- Abdome muito sensível;
- Febre;
- Vômito;
- Esteatorréia.
Condutas em pacientes com gases intestinais
Caso o paciente seja mesmo diagnosticado com gases, é preciso entender qual a causa para poder agir. Cada etiologia possui uma conduta diferente, necessitando de um trabalho em equipe.
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Através desse conteúdo podemos perceber que dor abdominal é algo que pode ter diversas causas e é um conteúdo cheio de detalhes. Além disso, é um tema que tem muita relevância na prática ambulatorial e de emergência. Sabemos que bate aquela preocupação de como dar conta de tantas coisas, não é mesmo? Mas calma, não se desespere!
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Sugestão de leitura complementar
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Referências
- ABRACZINSKAS, D. Overview of intestinal gas and bloating. UpToDate, 2022
- MARTINS, M. A. et al. Semiologia Clínica. 1.ed. Santana de Parnaíba[SP]: Manole, 2021.