Search
Close this search box.

Endocardite Infecciosa e os critérios modificados de Duke | Colunistas

Índice

Características gerais da endocardite infecciosa 

A endocardite infecciosa (EI) é uma patologia cardiovascular que ainda é considerada um grande desafio diagnóstico. É caracterizada como um processo infeccioso das estruturas valvulares cardíacas ou do endocárdio mural, podendo provocar sopros cardíacos, petéquias, anemia, febre, fenômenos embólicos e vegetações endocárdicas. As vegetações são estruturas compostas de plaquetas, fibrina e microrganismos infecciosos e podem estar localizadas em qualquer sítio do endotélio, mas, geralmente, ocorrem nas superfícies endoteliais das válvulas cardíacas e próteses valvares, podendo levar a obstrução ou insuficiência valvar, abscesso miocárdico ou aneurisma micótico.

As populações que apresentam maior incidência são as que possuem fatores de risco como: válvulas protésicas, cardiopatias congênitas, história prévia de endocardite, hemodiálise, uso de drogas intravenosas, imunossupressão e a diabetes mellitus, entre outros. Além disso, homens são mais atingidos que mulheres (acomete cerca de uma mulher a cada sete homens). A EI pode ser classificada em aguda e subaguda, de acordo com suas características clínicas.

Endocardite infecciosa aguda:

  • Menos de 6 semanas;
  • Sem bacteremia transitória;
  • Paciente pode ou não apresentar cardiopatia prévia;
  • Paciente pode ou não apresentar nódulos de Osler;
  • Paciente apresenta manchas de Janeway;
  • Apresentação clínica: toxemia;
  • Com a presença de foco infeccioso atual ou recente.

Endocardite infecciosa subaguda: 

  • Mais de 6 semanas;
  • Com bacteremia transitória;
  • Paciente apresenta cardiopatia prévia;
  • Paciente apresenta nódulos de Osler;
  • Paciente não apresenta manchas de Janeway;
  • Apresentação clínica: apresentação insidiosa;
  • Sem a presença de foco infeccioso atual ou recente.

Critérios de Duke modificados para o diagnóstico de EI

Caso haja uma dificuldade de diagnóstico de EI, deve-se recorrer aos critérios modificados de Duke, que se baseiam em achados clínicos, ecocardiográficos e bacteriológicos. Tais critérios classificam o paciente em uma de três categorias: diagnóstico definitivo, diagnóstico possível e diagnóstico improvável. No caso de diagnóstico possível, as evidências encontradas não são suficientes para definição de um diagnóstico.

Para que ocorra o diagnóstico definitivo, é preciso uma das situações descritas a seguir:

  • 2 critérios maiores;
  • 1 critério maior e 3 critérios menores;
  • 5 critérios menores.

Critérios maiores

  • Microrganismo típico para EI de duas hemoculturas isoladas: Streptococcus viridans, Streptococcus bovis, grupo HACEK ou Staphylococcus aureus e Enterococcus sp, adquiridos na comunidade em ausência de foco primário;
  • Microrganismo compatível com EI isolados em hemoculturas persistentemente positivas;
  • Única cultura ou sorologia positiva (IgG>1:800) para Coxiella burnetii;
  • Novo sopro regurgitante (aumento ou mudança em regurgitações já existentes não tem valor);
  • Ecocardiograma com evidências de endocardite. Três achados possíveis: massa intracardíaca oscilante ecogênica em local de lesão endocárdica, abcesso perivalvar e nova deiscência em válvula prostética.

Critérios menores

  • Fator predisponente para EI. Como exemplo, pode-se citar o uso de drogas injetáveis ou doença cardiovascular predisponente;
  • Febre acima de 38°C;
  • Fenômenos vasculares, como: embolia arterial, infarto pulmonar, aneurisma micótico, sangramento intracraniano, hemorragia conjuntiva, lesões de Janeway (com exceção de petéquias e outras hemorragias);
  • Fenômenos imunológicos, como presença de fator reumatoide, glomerulonefrite, nódulo de Osler ou manchas de Roth;
  • Hemocultura positiva, que não atenda um critério maior, ou evidência sorológica de infecção ativa com organismo consistente com endocardite (excluindo estafilococo coagulase negativo e outros contaminantes).

Tratamento da endocardite infecciosa:

Por ser considerada uma emergência infecciosa, na endocardite infecciosa aguda, as hemoculturas devem ser colhidas rapidamente e deve-se dar início à terapêutica antibiótica empírica. Na endocardite infecciosa subaguda, as hemoculturas podem ser colhidas em um período de 24 a 72 horas antes da terapia antibiótica (conforme o quadro clínico).

Existe também a possibilidade de avaliação para tratamento cirúrgico, que diminui a mortalidade de pacientes que possuam endocardite infecciosa que evoluem com insuficiência cardíaca refratária, acometimento perivalvar com abscessos ou doença não controlada, mesmo com a terapêutica antibiótica adequada em doses elevadas.

Procedimentos e condições que geram indicação de profilaxia:

  • Pacientes com:
  • Próteses valvares: mecânicas, biológicas ou homoenxertos;
  • Antecedente de endocardite infecciosa;
  • Valvopatia reumática ou valvopatias adquiridas;
  • Prolapso de valva mitral associado a regurgitação mitral;
  • Miocardiopatia hipertrófica.
  • Dilatação uretral;
  • Incisão e drenagem de tecido infectado;
  • Parto vaginal na presença de infecção;
  • Tratamentos e procedimentos dentários nos quais se espera sangramento da mucosa ou gengiva;
  • Cirurgia que envolve mucosas respiratórias ou intestinal, tonsilectomia ou adenoidectomia, cirurgia de próstata, de vias biliares ou histerectomia vaginal;
  • Dilatação do esôfago;
  • Escleroterapia de varizes esofagianas.

É de extrema importância que os profissionais da área da saúde estejam atentos a quadros clínicos sugestivos, com presença de febre, aparecimento de sopro cardíaco inexistente ou alteração de sopro pré-existente, anemia, esplenomegalia, petéquias na pele, conjuntiva, mucosas e vasculite, levando sempre em consideração a presença ou não dos fatores de risco. Afinal, o prognóstico da endocardite infecciosa depende de um diagnóstico rápido, tratamento efetivo e também de um pronto reconhecimento de suas possíveis complicações. O atraso ou a inadequação do tratamento podem levar a graves consequências, como danos estruturais perivalvulares extensos e complicações sistêmicas.


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências:

BARBOSA, M. M. Endocardite infecciosa: perfil clínico em evolução. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 83, n. 3, set. 2004.

FERREIRA, A. S. Endocardite infecciosa – Uma suspeita sempre presente. Revista Portuguesa de Clínica Geral, v. 29, n. 1, p. 54–60, 1 jan. 2013.

CARVALHO, A. et al. Endocardite Infecciosa: Definição Diagnóstica e Terapêutica pela Ecocardiografia. Rev bras ecocardiogr imagem cardiovasc. 2013.

MELO, Luís et al. Endocardite Infecciosa: Casuística do Departamento de Medicina Interna de um Hospital. Medicina Interna, Lisboa, v. 24, n. 1, p. 19-23, Mar.  2017.

Endocardite infecciosa. Disponível em: . Acesso em: 30 dez. 2020.

PEREIRA, Carla A.Z. et al. Achados clínico-laboratoriais de uma série de casos com endocardite infecciosa. J. Pediatr. (Rio J.), Porto Alegre, v. 79, n. 5, p. 423-428, Oct.  2003.

Compartilhe este artigo:

Cursos gratuitos para estudantes de medicina

Artigos relacionados: