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Escore CURB-65: quando internar o paciente com pneumonia? | Colunistas

Escore CURB-65: quando internar o paciente com pneumonia? | Colunistas

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As pneumonias são processos infecciosos causados por vírus, bactérias ou fungos que acometem os bronquíolos e alvéolos. A pneumonia adquirida na comunidade (PAC) é definida como um processo infeccioso pulmonar adquirido fora do ambiente hospitalar ou que surja em até 48 horas de uma internação e responde pela grande parte dos casos de pneumonia. Trata-se de uma das doenças mais frequentes na rotina médica e pode necessitar de internação hospitalar para tratamento e recuperação.

É importante lembrar que pacientes que desenvolvem quadros de pneumonia relacionados à hospitalização prévia (por mais de 2 dias, nos 90 dias anteriores); provenientes de asilos ou casas de saúde; que receberam, nos últimos 30 dias, antibiótico por via endovenosa, quimioterapia, tratamento de escaras; ou que fazem diálise ambulatorial são, atualmente, definidos como pneumonia associada aos cuidados de saúde e apresentam diferenças quanto à etiologia e ao tratamento.

A incidência varia de 5 a 12 casos por 1000 indivíduos por ano. É um condição com alto potencial de morbimortalidade, sendo a principal causa infecciosa que leva ao óbito. Atualmente, percebe-se que a os casos graves estão em ascensão devido ao envelhecimento da população.

A internação de pacientes com PAC pode chegar até 50% dos casos. Entretanto, sabemos que uma parte significativa desses pacientes não necessita realmente de internação e, assim, poderiam ser evitadas, diminuindo os custos para o sistema de saúde e os riscos de infecção intra-hospitalar para o paciente internado. Por outro lado, tratar pacientes graves sem a devida cautela pode ser fatal.

O diagnóstico da pneumonia é feito pela presença de tosse e combinada com outros sintomas: expectoração, dispneia, dor torácica, sintomas gerais, sudorese, calafrios, febre ou mialgias. Além disso, a evidência de opacidade pulmonar em algum método de imagem (Raio X ou Tomografia de tórax) corrobora a hipótese. Pacientes idosos podem ter uma apresentação atípica, incluindo queda do estado geral, confusão mental, apatia, hiporexia ou descompensação de outras comorbidades, aumentando a dificuldade para o diagnóstico.

Feito o diagnóstico, é fundamental avaliar a gravidade e tomar a decisão com relação à necessidade de internação para o tratamento. A hipoxemia é um sinal de prognóstico ruim, sendo a SpO2<90%  uma indicação  de necessidade de gasometria arterial antes da oxigenioterapia. Também devem ser observados: ureia sérica >65mg/dL e leucopenia (<4.000/mm3) como achados que indicam gravidade. A proteína C-reativa (PCR) é um marcador inflamatório útil, pois pacientes com quadro respiratório agudo e níveis elevados (>100mg/dL) possuem diagnóstico mais provável.

Diante do exposto, existem na atualidade alguns escores que ajudam o médico a decidir sobre a necessidade internação hospitalar diante de um quadro de PAC. Entre esses, o CURB-65 é o mais utilizado.

CURB-65

O Escore CURB-65 foi criado pela British Thoracic Society com o objetivo de facilitar a decisão de internar ou não o paciente com pneumonia. Trata-se de uma ferramenta fácil de memorizar e factível durante o atendimento inicial, uma vez que a maioria de suas informações podem ser coletadas pelo exame clínico. Além disso, o CURB-65 também consegue predizer a evolução do paciente.

Há algumas críticas quanto ao uso exclusivo desse escore: inclui poucos dados, não necessita da saturação de oxigênio e não leva em consideração as comorbidades do paciente (alcoolismo, insuficiência cardíaca ou hepática, neoplasias, diabetes).

CURB-65:

C – Confusion – Confusão Mental

U – Uremia – Ureia plasmática acima de 50mg/dl

RRespiratory Rate – Frequência Respiratória maior ou igual a 30mrpm

BBlood Pressure – Pressão Arterial Sistólica < 90mmHg ou  Pressão Arterial Diastólica menor ou igual a 60mmHg

65 – Idade maior ou igual a 65 anos

No CURB-65, cada item pontua 1 ponto e, de acordo com a soma dos pontos, o avaliador define a conduta baseado no risco que o paciente apresenta.

O CURB-65 ainda pode ser apresentado de forma mais simplificada através do CRB-65, sem a dosagem de ureia. Isso facilita a decisão médica, pois não será necessário aguardar o resultado laboratorial da dosagem de ureia. Se o paciente não possui nenhum ponto positivo no escore, considerando também seu estado geral, ausência doenças descompensadas, capacidade de ingestão oral de medicamentos, fatores socioeconômicos e boa saturação de oxigênio, sugere-se tratamento ambulatorial. A partir de 1 ponto, deve-se considerar o tratamento hospitalar e, a partir de 3 pontos, o tratamento hospitalar passa a ser urgente.

Frente a uma clínica suspeita de PAC (febre, tosse, expectoração, dispneia), a avaliação inicial inclui três etapas fundamentais: 1) avaliação das comorbidades que comprometam o tratamento domiciliar, 2) avaliação da gravidade e cálculo do escore e 3) julgamento clínico e decisão do tratamento.

É importante lembrar que os diversos escores que avaliam o risco de mortalidade envolvem apenas dados objetivos. Cada paciente deve ser avaliado de maneira holística, isto é, o médico que o assiste deve levar em consideração outros aspectos como as condições socioeconômicas, a incapacidade de entender a doença, a dificuldade de manter o tratamento adequado pelo tempo previsto, o estado geral do doente e as doenças que ele já carrega, além da pneumonia. Somente assim, é possível definir a conduta da melhor forma para cada paciente.

Autoria: Welberth Fernandes

instagram: https://www.instagram.com/welberth_fs/

Sou estudante do 8º período de Medicina da Universidade Estadual de Montes Claros-MG (Unimontes). Presidente da Liga Acadêmica de Clínica Médica do Hospital Universitário e presidente do RacioClin (Projeto de Aperfeiçoamento do Raciocínio Clínico).