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Esôfago de Barrett | Colunistas

Esôfago de Barrett | Colunistas

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No texto de hoje, vamos abordar os tópicos mais importantes sobre o esôfago de Barret, uma condição na qual ocorre uma mudança no revestimento do esôfago o fazendo ficar com o tecido similar ao que reveste o intestino, chamado de metaplasia intestinal. É uma condição extremamente importante devido à necessidade de acompanhamento médico constante por causa da evolução da doença.

O que é?

O esôfago de Barrett é considerado uma complicação da doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) crônica, sendo caracterizado por metaplasia intestinal. Ocorre a presença de epitélio colunar especializado (do tipo intestinal) no local do tecido normal do esôfago de epitélio estratificado pavimentoso, porém mais simples e composto apenas de células colunares e mucosas. O principal risco advém da capacidade de transformação maligna podendo culminar na formação de um adenocarcinoma.

Fisiopatologia

Na doença do refluxo gastroesofágico, quando ocorre exposição crônica ao conteúdo ácido do estômago (suco gástrico), por períodos prolongados de tempo, e essa agressão da mucosa faz com que ocorra uma estimulação metaplásica esofágica. A metaplasia é uma mudança em que um tipo celular diferenciado é substituído por outro tipo celular da mesma linhagem. Essa metaplasia intestinal, dentro da mucosa escamosa esofágica, faz com que mude a conformação tecidual do esôfago de epitélio escamoso estratificado (normal) por epitélio colunar e presença da metaplasia. Ela pode estar presente no esôfago, por causa do DRGE como também no estômago devido a H. pylori, porém no estômago não tem um potencial de malignidade elevado.

Quanto maior for a exposição, maior será a extensão da lesão. Alguns casos evoluem para displasia e posterior adenocarcinoma de esôfago, entretanto os mecanismos envolvidos, ainda, não são bem estabelecidos, porém sabe-se que a progressão do esôfago de Barrett para o adenocarcinoma acontece devido a diversos fatores genéticos e epigenéticos manifestados na sequência de metaplasia, displasia epitelial de baixo grau, displasia de alto grau e adenocarcinoma.

Figura 1. Histologia do esôfago e do estômago
Fonte: Prof. Dr. Paulo Abrahamsohn e Profa. Dra. Vanessa Freitas Departamento de Biologia Celular e do Desenvolvimento – Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (https://mol.icb.usp.br/index.php/16-6-tubo-digestivo/)

Diagnóstico

O diagnóstico é realizado através da endoscopia digestiva alta e da biópsia que são investigadas, geralmente, pelos sintomas do refluxo gastroesofágico. Posterior a isso, é feita a confirmação da metaplasia intestinal através de uma análise histológica. Além disso, não é recomendado a biópsia de lesão com inflamação ativa, pois o resultado pode ser alterado. É mais comum em homens brancos, nas idades entre 40 e 60 anos (Kumar, 2010). Para confirmar o diagnóstico é necessário a presença de metaplasia colunar de no mínimo um centímetro acima das pregas gástricas e também, a presença de células caliciformes. A presença de células caliciformes e motivo de controvérsias em algumas sociedades, podendo ser um critério opcional para o diagnóstico.

Exame endoscópico, biópsia, análise histológica

A realização do exame de endoscopia digestiva alta vai apresentar-se com uma lesão circunferencial ou na forma de linguetas na região esofágica. Na parte distal do esôfago há coloração vermelho salmão, devido ao aumento da vascularização do local da lesão e presença de mucosa glandular. Pode ser classificado como Barrett curto (BC) se a lesão for menor do que 3 centímetros, ou como Barrett longo (BL) se a lesão for maior ou igual a 3 centímetros. Não é elucidado se o risco de desenvolvimento do adenocarcinoma é maior ou menor de acordo com a extensão da lesão.

Na biópsia demonstra metaplasia intestinal especializada, e é característico a presença de células caliciformes. Além de ser representativo do estágio avançado da doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) é também, fator de risco para o desenvolvimento de adenocarcinoma de esôfago.

Figura 2. Esôfago de Barrett. A, Junção gastroesofágica normal. B, Esôfago de Barrett. Observe as pequenas ilhas de mucosa escamosa mais pálida na mucosa de Barrett. C, Aparência histológica da junção gastroesofágica no esôfago de Barrett. Observe a transição entre a mucosa escamosa esofágica (à esquerda) e a metaplasia de Barrett, com células caliciformes metaplásicas abundantes (à direita).
Fonte: KUMAR, Vinay. Robbins & cotran-patologia bases patológicas das doenças 8a edição. Elsevier Brasil, 2010.

Tratamento

O tratamento deve ser multifatorial. Tratar clinicamente a esofagite e manter o paciente em vigilância para evitar evolução, que pode levar a um adenocarcinoma de esôfago. A vigilância endoscópica de pacientes com EB sem displasia é motivo de debates devido a baixa probabilidade de esôfago de Barrett sem displasias evoluírem para adenocarcinomas.  São utilizados inibidores de bomba de prótons, mas não é comprovado que ocorra diminuição da evolução para o adenocarcinoma. A recomendação prática deve levar em conta os riscos e benefícios e deve ser discutida entre médico e paciente sempre.

Devido a tudo que foi abordado, nota-se que é extremamente importante o acompanhamento médico devido a evolução da doença. Sempre que houver doença de refluxo gastroesofágico devem ser feitas medidas de prevenção relacionadas à alimentação. A evolução do esôfago de Barrett, o adenocarcinoma, é considerada uma das principais causas de câncer em nível mundial e mortes.

Autora: Carolina Zuffo Alquieri
Instagram: @carol.alquieri

Referências

DE SÁ, Ricardo Cardoso et al. Incidência comprobatória de esôfago de barrett (metaplasia) com hipótese de diagnóstico inicial em um laboratório patológico do norte do Paraná. Brazilian Journal of Development, v. 6, n. 10, p. 77720-77727, 2020. (https://www.brazilianjournals.com/index.php/BRJD/article/view/18187/14686)

IVANO, Flávio Heuta et al. Esôfago de Barrett: concordância diagnóstica entre os achados da endoscopia digestiva alta e a histologia. Rev. méd. Paraná, p. 75-78, 2020. (https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-1222894)

KUMAR, Vinay. Robbins & cotran-patologia bases patológicas das doenças 8a edição. Elsevier Brasil, 2010.

DA SILVA, Catarina Lima. Esófago de Barrett: O papel da terapêutica endoscópica. 2017. (https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/109039/2/232609.pdf)

SOSTRES, C et al. Cribado de adenocarcinoma em el esófago de Barrett: sí o no, cuándo y cómo? Gastroenterol Hepatol, v. 36, n. 8, p. 520–26, 2013.

GONÇALVES, Alex Teixeira. Manejo do Esôfago de Barrett. 2020.

Volkweis, Bernardo Silveira e Gurski, Richard Ricachenevsky Esôfago de Barrett: aspectos fisiopatológicos e moleculares da seqüência metaplasia-displasia-adenocarcinoma – artigo de revisão. Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões [online]. 2008, v. 35, n. 2 [Acessado 18 Junho 2021] , pp. 114-123. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0100-69912008000200009>. Epub 27 maio 2008. ISSN 1809-4546. https://doi.org/10.1590/S0100-69912008000200009.



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