Ciclos da Medicina

Hipernatremia: o aumento da concentração de sódio no sangue | Colunistas

Hipernatremia: o aumento da concentração de sódio no sangue | Colunistas

Compartilhar
Imagem de perfil de Comunidade Sanar

A hipernatremia caracteriza-se pelo aumento da concentração sérica de sódio acima do intervalo de referência de 133 a 146 mmol/L.

Por que a hipernatremia acontece

A hipernatremia é um distúrbio eletrolítico, que acontece, principalmente, devido ao aumento de perdas de água ou aumento da ingestão de sódio.

Perda de água

A perda de água pode ocorrer tanto pela baixa ingestão de água pelo indivíduo, quanto por perdas renais e extrarrenais excessivas.

É observada uma maior incidência de hipernatremia entre idosos que param de comer e beber voluntariamente e entre pacientes inconscientes.

A diabetes insipidus pode causar hipernatremia devido à perda excessiva de água, isso acontece por falha da secreção ou a ação da arginina-vasopressina (AVP), um hormônio antidiurético.

A perda de água e sódio pode resultar em hipernatremia se a perda de água exceder a perda de sódio. Esse fenômeno pode ocorrer durante a diurese osmótica, por exemplo, no diabetes melito mal controlado, ou devido à sudorese excessiva ou diarreia, especialmente em crianças.

Ganho de sódio

A hipernatremia devida ao ganho de sódio é muito menos comum do que a perda de água e pode ocorrer em diferentes contextos clínicos.

Esse ganho pode ocorrer devido a vários fatores:

  • administração de bicarbonato de sódio para corrigir uma acidose com risco de vida;
  • quase afogamento em água do mar, que pode resultar na ingestão de quantidades significativas de água salgada, cuja concentração de sódio é muito maior do que a fisiológica;
  • Bebês que recebem acidentalmente ou de propósito alimentos ricos em sódio. Por exemplo, a administração de uma colher de sopa de NaCl a um recém-nascido pode aumentar o sódio plasmático em até 70 mmol/L.

No hiperaldosteronismo primário (síndrome de Conn), a secreção excessiva de aldosterona causa retenção de sódio nos túbulos renais. A síndrome de Cushing (cortisol em excesso) tem um efeito semelhante, já que o cortisol tem alguma atividade mineralocorticoide. Curiosamente, em ambas as condições, o sódio raramente se eleva acima de 150 mmol/L, já que a osmolaridade crescente estimula a secreção de AVP.

Manifestações clínicas

Deve-se suspeitar de hipernatremia e hiperosmolaridade em qualquer paciente com alteração do estado mental e história sugestiva de déficit de água ou aporte excessivo de sódio, embora muitas vezes o diagnóstico de hipernatremia seja um achado da pesquisa de eletrólitos realizada de rotina. Quando há sintomas, estes são predominantemente ligados ao sistema nervoso central, podendo ocorrer:

  • letargia
  • fraqueza
  • fasciculações musculares
  • desorientação
  • alterações de comportamento
  • ataxia
  • convulsões
  • coma

A gravidade dos sinais clínicos está relacionada ao aumento da concentração sérica absoluta de sódio e, principalmente, à velocidade de início da hipernatremia e da hiperosmolaridade. De maneira geral, os sinais clínicos não aparecem até que a concentração de sódio esteja próxima de 170 mEq/L. Se a instalação da hipernatremia é rápida, a sintomatologia clínica pode ser observada em concentrações mais baixas de sódio, e vice-versa.

Quando a hipernatremia se instala mais lentamente, há uma adaptação neuronal, com a formação de radicais osmoticamente ativos no interior dos neurônios, o que ajuda a restabelecer o equilíbrio osmótico entre os compartimentos intra e extracelular, reduzindo, desse modo, os efeitos prejudiciais do encolhimento celular. Dessa forma, a hipernatremia crônica, de instalação lenta, pode ser assintomática, enquanto que a aguda, devido ao grau de desidratação celular que ocasiona, se manifesta com sinais mais acentuados.

Medidas a serem tomadas pelo médico

O primeiro passo é checar o status volêmico deste paciente, pois os tratamentos variam de acordo com o déficit de água presente.

Hipovolêmicos: classicamente são aqueles pacientes evidentemente desidratados e com pouco acesso à água, mas também podem ser pacientes com adipsia primária ou hipodipsia (distúrbios hipotalâmicos que fazem com que o paciente não reconheça a sensação de sede), pacientes críticos e aqueles em uso incorreto de diuréticos (de alça e osmóticos, principalmente).

Hipervolêmicos: ocorre esporadicamente e costuma estar associado a ações iatrogênicas, assim como intoxicação. Sendo assim, acontece através da preparação e administração incorreta de soluções hipertônicas (para hidratação, correção da hiponatremia e até mesmo no preparo da dieta enteral/parenteral). Também pode ocorrer em pacientes recebendo soluções de Bicarbonato de Sódio (NaHCO3) na Cetoacidose Diabética, Parada Cardiorrespiratória ou Lesão Renal Aguda.

Euvolêmicos: a causa mais comum é a Diabetes Insipudus, quando o paciente não consegue reter a água para diluir o sódio intracelular. Essa doença pode ser central (cirurgias hipófise, malignidade, traumas) ou nefrogênica (doenças renais, medicações e genética).

Tratamento

Os pacientes com hipernatremia devida à perda de água pura devem receber água, que pode ser administrada por via oral ou intravenosa como dextrose a 5%. A intoxicação por sal é um problema clínico difícil de administrar. A sobrecarga de sódio pode ser tratada com diuréticos e a natriurese é substituída por água. Deve-se ter cuidado com o uso de dextrose intravenosa nos pacientes envenenados com sal — eles já estão com volume expandido e suscetíveis a edema pulmonar.

Conclusão

A hipernatremia, portanto, é um distúrbio que ocorre devido à alta concentração de sódio no sangue, e seus principais sintomas acometem o sistema nervoso central. A conduta médica a ser seguida é checar o status volêmico do paciente, a fim de indicar o melhor tratamento para cada caso.

Autora: Laura Clara Ferro

Instagram: @xxlauraferro


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências

MURPHY, Michael;SRIVASTAVA,Rajeev; DEANS, Kevin. Bioquímica Clinica. 6. ed. Reino Unido, 2019.

BARBOSA, Arnaldo Prada; SZTAJNBOK, Jaques. Distúrbios hidroeletrolíticos. Jornal Pediátrico,Rio de Janeiro, 1999.

Desequilíbrios do sódio: importância e terapia.Universidade federal do Rio Grande do Sul, 2013. Disponível em: em: Acesso em: 29 de abril de 2021

DEL VALLE, Flávia. Parte II – Descomplicandoos distúrbios do sódio eda água – Hipernatremia. EmeDoctors, 2020. Disponível em:https://emedoctors.com.br/descomplicando-os-disturbios-do-sodio-e-da-agua-parte-ii-hipernatremia. Acesso em: 29 de abril de 2021.