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Infecção do trato urinário em gestantes | Colunistas

Infecção do trato urinário em gestantes | Colunistas

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As infecções do trato urinário (ITU) são o segundo grupo de doenças mais comuns na prática clínica e acometem principalmente mulheres. Essas infecções são as mais prevalentes durante a gestação e estão muito associadas à mobimortalidade materna e perinatal. Sendo assim, é de extrema importância entendermos um pouco da definição, epidemiologia, fisiopatologia, diagnóstico e prevenção dessa doença, a fim de reconhecermos precocemente e tratarmos de maneira eficiente.

Definição

As ITU são definidas como a presença de microorganismos no trato urinário, desde a uretra até os rins. De acordo com a topografia, elas podem ser divididas em ITU alta que são as uretrites e pielonefrites e em ITU baixa, as cistites (nas mulheres) ou ainda podem ser assintomáticas – bacteriúria assintomática. De acordo com o nível de complicação, podem ser divididas em complicadas ou não complicadas.

As ITU com três episódios em um ano ou dois episódios no intervalo de seis meses são denominadas de recorrente ou ITU de repetição, segundo a International Continence Society e a International Urogynecology Association.

Epidemiologia

A incidência de pielonefrite em mulheres grávidas é maior do que na população em geral e isso decorre de diversas alterações fisiológicas, hormonais e anatômicas da gestação que favorecem a ocorrência das ITU ou a transformação de uma bacteriúria assintomática em ITU sintomática quando não tratada, em cerca de 20 a 35% dos casos. Algumas mudanças são: aumento do tamanho renal, modificação da posição da bexiga, aumento do débito urinário, redução do tônus e aumento da capacidade vesical e alterações no pH urinário.

Fatores de risco

São inúmeros fatores de risco para o desenvolvimento de ITUs. Ser mulher já é um fator de risco importante, devido à própria anatomia feminina, como a maior proximidade entre ânus e uretra e o tamanho mais encurtado da uretra favorecendo a ascenção de uropatógenos para o trato urinário.

Outros fatores de risco são:

  • Vida sexual ativa, uso de diafragma ou de espermicidas como método contraceptivo, novos parceiros sexuais, práticas inadequadas de higiene genital
  • Menopausa;
  • Incontinência urinária e disfunções miccionais;
  • Fatores obstrutivos, como prolapso genital, litíase renal, válvula de uretra posterior, refluxo vesico-ureteral, uso de cateterização prolongada ou intermitente.

Fisiopatologia

Muitos agentes etiológicos frequentes estão envolvidos na etiologia da ITU, como a Klebsiella pneumoniae, Proteus mirabilis e bactérias do gênero Enterobacter – gram negativas – Staphylococcus saprophyticus, Streptococcus agalactiae e Enterococcus sp – gram positivas – podendo haver infecções esporádicas por fungos do gênero Candida spp. Porém a Escherichia coli é a mais comum, em mulheres grávidas ou não, sendo responsável por 60 a 80% dos casos. É importante lembrar que são as cepas uropatogênicas que podem levar a esses quadros, já que a E. Coli é uma bactéria que compõe a flora intestinal normal.

Assim como em outras infecções, há uma crescente preocupação pela possibilidade de resistência bacteriana. Principalmente porque há poucos antimicrobianos liberados para tratamento de gestantes com ITU.

O fluxo urinário e o esvaziamento miccional é um dos mecanismos de proteção do trato urinário, no entanto, durante a gestação há uma maior frequência de estase urinária, por dificuldades de esvaziamento associadas à compressão pelo útero gravídico e pelo peristaltismo reduzido da uretra, o que desequilibra esse mecanismo protetor. Essas modificações aumentam a prevalência de bacteriúria assintomática, pielonefrite e quadros recorrentes de ITU durante a gravidez .

Diagnóstico

A ITU pode trazer diversas complicações maternas como sepse e febre no pós-parto, além de prematuridade no trabalho de parto e no rompimento das membranas ovulares; e fetais, como baixo peso ao termo e infecções neonatais.

Na cistite aguda na gestante os sinais e sintomas típicos são iguais aos das não gestantes, início súbito de disúria e urgência e frequência urinária, além de hematúria e piúria frequentemente. Então se chegar uma gestante no seu consultório se queixando de disúria, sempre suspeite de cistite aguda.

A bacteriúria assintomática é diagnosticada através da positividade de crescimento bacteriano na cultura de urina na ausência de sintomas.

Tratamento

O tratamento da bacteriúria assintomática é feito com antibioticoterapia adaptada ao padrão de suscetibilidade do microorganismo. As opções, geralmente são os beta-lactâmicos, nitrofurantoína e fosfomicina.

Para a cistite aguda, o tratamento é empírico, ou seja, antes mesmo de confirmar o diagnóstico, essa terapia empírica geralmente é feita com os antibióticos beta-lactâmicos, nitrofurantoína e fosfomicina.

É de extrema importância que o médico instrua a gestante sobre a segurança antibiótica na gestação, sabendo que geralmente os mais aceitos são as penicilinas, cefalosporinas e aztreonam são seguros na gravidez.

Tabela 1: Antibióticos para bacteriúria assintomática e cistite na gravidez

Conclusão

As infecções do trato urinário, apesar de não causar sinais e sintomas muito graves, eles contribuem para um prejuízo significativo na qualidade das pacientes, causando irritabilidade, perda de produtividade no trabalho e de auto-estima, ainda pode comprometer a função sexual.

São inúmeros fatores de risco conhecidos e a maioria são modificáveis, como comportamento sexual e boa condições de higiene. Dessa maneira, a tríade mais eficiente no combate às ITUs em mulheres grávidas é o aconselhamento profissional tratamento seguro e estratégias de prevenção.


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências

Infecções do trato urinário e bacteriúria assintomática na gravidez – https://www.uptodate.com/contents/urinary-tract-infections-and-asymptomatic-bacteriuria-in-pregnancy?search=infec%C3%A7%C3%A3o%20do%20trato%20urin%C3%A1rio%20em%20gestantes&source=search_result&selectedTitle=1~150&usage_type=default&display_rank=1#H249335517

Infecção Urinária de Repetição na Mulher – Aspectos Gerais -https://www.febrasgo.org.br/pt/noticias/item/265-infeccao-urinaria-de-repeticao-na-mulher-aspectos-gerais

Carvalho FA, Rodrigues M de A, Bottega A, Hörner R. Prevalence and susceptibility profile of bacteria isolated from urine of pregnant women seen at the department of obstetrics of a tertiary hospital. Sci Med (Porto Alegre). 2016;26(4):1–6.

Schenkel DF, Dallé J, Antonello VS. Prevalência de uropatógenos e sensibilidade antimicrobiana em uroculturas de gestantes do Sul do Brasil. Rev Bras Ginecol e Obstet. 2014;36(3):102–6.