Índice
Introdução
O procedimento cirúrgico é realizado por meio de três operações fundamentais: a diérese dos tecidos, a hemostasia de vasos sangrantes e a síntese, a qual possibilita a cicatrização por primeira intenção. Para a realização dessas operações são necessários instrumentos cirúrgicos, os quais realizam ações específicas dentro do procedimento cirúrgico.
Diérese: consiste na criação de uma via de acesso através dos tecidos. Pode através de uma incisão, secção, divulção, punção, dilatação ou serração. Podemos classificar a diérese em mecânica e física, sendo a última realizada com o auxílio de recursos especiais, como o bisturi elétrico e nitrogênio líquido.
Hemostasia: é o processo que consiste em impedir, deter ou prevenir o sangramento, garantindo, assim, uma boa visibilidade do campo operatório e melhor condição técnica. Caso haja falha nessa operação, além de prejudicar o reconhecimento dos elementos anatômicos, pode prejudicar a cicatrização, induzir infecção e até causar choque e hipóxia tecidual. Podemos dividir os métodos de hemostasia em físicos, químicos e biológicos. O primeiro e mais utilizado pode ser realizado por meio da compressão circular, da compressão digital, da compressão indireta, de pinças hemostáticas, entre outros.
Síntese: é o conjunto de métodos utilizados para a aproximação final dos tecidos por planos seccionados, desde o foco da cirurgia até o tecido cutâneo. O objetivo dessa operação é manter a contiguidade dos tecidos, facilitando o processo de cicatrização, a fim de que a continuidade tecidual possa ser restabelecida. A sutura é o método mais frequentemente empregado para a síntese.
Tipos de instrumentos cirúrgicos
Existem vários tipos de instrumentos cirúrgicos e eles podem ser agrupados em:
- Instrumentais de Diérese: utilizados para criar uma descontinuidade de tecidos.
- Instrumentais para hemostasia: destinados a função objetivo de impedir ou coibir vasos sangrantes.
- Instrumentais para preensão: possibilitam a suspenção e preensão de vísceras/órgãos.
- Instrumentais para separação: permitem o afastamento de estruturas.
- Instrumentais para síntese: possuem como finalidade a união de estruturas e fechamento.
- Instrumentais especiais: tempos específicos de determinadas operações.
Entre todos os instrumentos cirúrgicos as pinças realizam função de hemostasia e preensão, sendo assim, fundamentais nos mais diversos procedimentos realizados em clínicas e hospitais.
Pinça de Kocher
A pinça de Kocher foi criada por Emil Theodor Kocher (1841-1917), cirurgião suíço, o qual graduou-se em medicina na Universidade de Berna, na Suíça, em 1965. Após a graduação estudou em Berlim, Londres, Paris e Viena, onde foi aluno de Theodor Billroth. Kocher, após acumular uma experiência de 34 tireoidectomias, publicou o trabalho científico – Uber Kropfextirpation und ihre Folgen. Arch. Fur Klinusche Chirurgie, 29:254,1883. Nesse trabalho ele descreveu com minucias as técnicas de tireoidectomia total e da lobectomia tireoidiana.
Em 1883, Kocher anunciou sua descoberta de um padrão cretinóide característico em pacientes após a excisão total da glândula tireóide; quando uma parte da glândula foi deixada intacta, entretanto, havia apenas sinais transitórios do padrão patológico. Em 1912, ele realizou 5.000 excisões de tireoide e reduziu a mortalidade nessa cirurgia de 18 por cento para menos de 0,5 por cento. Em 1909 ganhou o prêmio Nobel de medicina por seu trabalho sobre a glândula tireoide.
Além das suas contribuições com a cirurgia de tireóide e do desenvolvimento de instrumentos, como a pinça de Kocher, ele desenvolveu muitas novas técnicas e aparelhos cirúrgicos, contribuiu no método para reduzir as luxações do ombro e em melhorias nas operações no estômago, nos pulmões, na língua e nos nervos cranianos. Na prática cirúrgica, ele adotou os princípios de assepsia completa introduzidos por Joseph Lister.
A pinça de Kocher é classificada como hemostática e existe nas formas retas e curvas e em diversos tamanhos. Essa pinça possui a parte interna da parte preensora ranhaduras no sentido transversal e se diferencia das demais pinças por ter “dente de rato” na sua extremidade. Possui capacidade de prender tecido com muita firmeza, porém causa mais trauma que as demais. Sendo assim, é utilizada atualmente como pegadora e de suspensão de aponeuroses.
Pontos chaves
- O procedimento cirúrgico é realizado por meio de três operações fundamentais: a diérese dos tecidos, a hemostasia de vasos sangrantes e a síntese.
- A diérese consiste na criação de uma via de acesso através dos tecidos e pode ser classificada em mecânica e física.
- Hemostasia é o processo que consiste em impedir, deter ou prevenir o sangramento. Esse processo, além de permitir uma maior visibilidade das estruturas anatômicas, auxilia na cicatrização, impede infecção, choque e hipóxia tecidual.
- Síntese é o conjunto de métodos utilizados para a aproximação final dos tecidos por planos seccionados. A sutura é o método mais frequentemente empregado para esse processo.
- Entre os instrumentos cirúrgicos as pinças realizam função de hemostasia e preensão, sendo assim, fundamentais nos mais diversos procedimentos realizados em clínicas e hospitais.
- A pinça de Kocher é classificada como hemostática e se diferencia das demais por possuir o “dente de rato” na sua extremidade, tornando ela com excelente capacidade de prender tecidos com firmeza, sendo, entretanto, mais traumática.
- A pinça de Kocher é utilizada atualmente como pegadora e suspensora de aponeuroses.
O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.
Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.
Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.
Referências:
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CERNEA, Cláudio Roberto; BRANDÃO, Lenine Garcia. Kocher e a história da tireoidectomia. Rev. bras. cir. cabeça pescoço, p. 240-243, 2008.
GOFFI, F. Técnica Cirúrgica: Bases Anatômicas, Fisiopatológicas e Técnicas da Cirurgia. 4° ed. São Paulo: Atheneu, 2007.
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