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Intoxicação por benzodiazepínicos: o que é, causas e tratamento

Intoxicação por benzodiazepínicos: o que é, causas e tratamento

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Definição

O termo intoxicação por benzodiazepínicos caracteriza uma série de eventos fisiopatológicos que ocorrem após a exposição do organismo por esse agente. Nessa senda, a  intoxicação medicamentosa é um tipo deste evento e representa a maior parte dos casos de intoxicação exógena no Brasil. A exposição excessiva a agentes químicos medicamentosos que levam à intoxicação pode ocorrer devido ao consumo de doses inadequadas, à ingestão acidental, mas também pode ser ocasional, como em tentativas de suicídio.

Epidemiologia

Os medicamentos benzodiazepínicos são utilizados como ansiolíticos, anticonvulsivantes e sedativos, tendo alta incidência de uso caracterizando a prescrição de cerca de 50% dos psicotrópicos. Consequentemente, os casos de intoxicação por esta classe de medicamentos são uma das maiores causas de intoxicação medicamentosa no Brasil, evidenciando o alto risco de consumo de doses acidentais e tentativas de suicídio por tais drogas.

Fisiopatologia

Os benzodiazepínicos são uma classe de fármacos com ação ansiolítica, hipnótica, miorrelaxante e anticonvulsivante. É uma das principais causas de intoxicação medicamentosa, mas, apesar de sua alta morbidade, possui baixa letalidade. Eles agem potencializando a resposta ao ácido gama-aminobutírico (GABA), que representa o principal neurotransmissor inibitório do Sistema Nervoso Central.

Os alvos de ação são os receptores GABA tipo A (GABAA), os quais são compostos por cinco subunidades α, β e γ inseridas na membrana pós-sináptica. Para cada subunidade, existem vários subtipos e a fixação do GABA ao seu receptor inicia a abertura do canal iônico central e gera influxo do íon cloreto, o que causa hiperpolarização do neurônio, afasta o potencial pós-sináptico do valor limiar e inibe a formação dos potenciais de ação. Essa ação causa depressão generalizada dos reflexos da medula e do sistema ativador reticular e, em casos de dosagem excessiva ou exacerbação do efeito por outras substâncias depressoras do SNC, pode evoluir para estado de coma, depressão respiratória e morte.

OBSERVAÇÃO: os benzodiazepínicos fazem com que ocorra o aumento da frequência de abertura do canal de cloreto e não o aumento da permanência dos canais abertos!

Dependendo do tipo e do número de subunidades e da localização cerebral, a ativação dos receptores resulta em diferentes efeitos farmacológicos. Os benzodiazepínicos modulam os efeitos GABA ligando-se a um local específico de alta afinidade na interface da subunidade alfa e da subunidade gama 2, e sua ligação aumentará a afinidade do GABA por seus locais de ligação (e vice-versa) sem realmente alterar o número total de locais.

Figura 1. Diagrama esquemático do complexo canal íon cloreto-GABA-benzodiazepínico.

Diagrama esquemático do ácido gama-aminobutírico (GABA), que representa o principal neurotransmissor inibitório do Sistema Nervoso Central.
Fonte: Whalen, K.; Finkel, R.; Panavelil, T. A. Farmacologia ilustrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.

Quadro clínico

Os principais sintomas associados são:

  • Rebaixamento do nível de consciência
  • Depressão respiratória, sem que haja alterações dos parâmetros vitais.

Em alguns casos pode levar ao coma, principalmente quando associado a outras drogas depressoras do SNC.

O exame físico neurológico demonstra:

  • Sonolência excessiva
  • Diplopia
  • Ataxia
  • Disartria
  • Hiporreflexia

ATENÇÃO: associação com álcool ou com outros depressores potencializa os efeitos dos benzodiazepínicos!

Diagnóstico

O diagnóstico é realizado através da história clínica e exame físico, atentando para os sintomas, para o tempo de exposição do paciente à droga (isso vai ajudar na escolha do tratamento!) e a dosagem consumida. O diagnóstico complementar inclui análise sérica e urinária para detecção de metabólitos de benzodiazepínicos (não é sensível para todas as substâncias e um teste negativo não exclui a intoxicação).

Além disso, pode-se: monitorar ECG, solicitar eletrólitos, função hepática, função renal, hemograma, glicemia, radiografia ou tomografia computadorizada (na suspeita de trauma).

Tratamento

O manejo inicial inclui:

  • Monitorização das funções vitais
  • Oxigenioterapia
  • Hidratação venosa
  • Exames laboratoriais (hemograma, função renal, função hepática, eletrólitos, glicemia, ECG)
  • Correção de  possíveis distúrbios hidroeletrolíticos

Além disso, é importante manter a via aérea pérvia e avaliar a necessidade de intubação orotraqueal precocemente.

Para bloqueio da ação dos benzodiazepínicos, o antagonista de escolha é o flumazenil sendo a dose inicial de 0,1 a 0,2 mg IV em 15 a 30 segundos, podendo ser repetida se houver necessidade (dose máxima até 1 mg).

O uso de carvão ativado pode ser feito na dose de 1g/kg em casos em que a intoxicação é pequena/média.

A descontaminação com lavagem gástrica não é indicada em casos leves e moderados, sendo utilizada apenas em casos graves.

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Perguntas Frequentes:

1 – Quais os principais sintomas da Intoxicação por benzodiazepínicos?

Rebaixamento do nível de consciência e depressão respiratória, sem que haja alterações dos parâmetros vitais.

2 – Como fazer o diagnóstico?

O diagnóstico é realizado através da história clínica e exame físico.

3 – Qual o tratamento da Intoxicação por benzodiazepínicos?

O antagonista de escolha é o flumazenil sendo a dose inicial de 0,1 a 0,2 mg IV em 15 a 30 segundos.