O isolamento social traz consigo inúmeras preocupações de cunho econômico, físico, psíquico, dentre muitas outras tantas impossíveis de enumerar. Algumas destas preocupações vêm à tona em virtude do tempo a mais que temos passado em nossas residências, acumulando funções, administrando o trabalho, estudo, atividades domésticas e cuidados com os filhos, pais e avós.
Em meio a esse cenário e inseridos em um turbilhão de responsabilidade e informações, às vezes, mesmo sem perceber, nos colocamos em situações de risco ou negligenciamos certos cuidados que em situações normais estariam sob nosso controle. Este artigo tem objetivo primordial de alertar a todos sob os riscos de queimaduras no ambiente doméstico.
Queimadura é definida como uma lesão causada por um agente externo, com destruição parcial ou total da pele, podendo afetar camadas mais profundas, em determinada extensão da superfície corporal, decorrente de traumas térmico, elétrico, químico ou radioativo.1,2 A gravidade e o prognóstico dependem do agente causal, profundidade, extensão da superfície corporal queimada, localização, idade, doenças preexistentes e lesões associadas.1
Causa alterações fisiopatológicas clinicamente importantes e com repercussões que podem atingir quase todos os órgãos e gerar sequelas físicas e emocionais que refletem tanto no paciente queimado quanto em toda sua família, pela deformidade física e longos períodos de internação.3,4
Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), a queimadura é o quarto tipo de trauma mais comum, ficando atrás de acidentes de trânsito, quedas e violência interpessoal.5 Ocasiona em torno de 180 mil mortes por ano e ocorre principalmente em países de baixa e média renda, em ambientes domésticos e são, sobretudo, lesões evitáveis. Conforme publicação do Ministério da Saúde de 04 de julho de 2017, só no Brasil, estima-se que pelo menos 1.000.000 de indivíduos sofram queimaduras por ano, independente do sexo, idade, procedência ou classe social, porém apenas 100 mil buscam ajuda médica após o ocorrido – destes, 2.500 irão a óbito direta ou indiretamente em função de suas lesões.6,3,7
Além disso, as lesões provocadas são as grandes responsáveis pela morbimortalidade por causas externas em todo o mundo, com custos elevados para o sistema de saúde. Estima-se uma média de U$1000,00 por dia por paciente internado, valor bastante significativo, principalmente para os cofres de países pobres, onde a queimadura acontece com mais frequência.8,9
Ainda segundo a OMS, no ambiente doméstico, as mulheres sofrem mais com as queimaduras que os homens, devido a sua maior exposição ao risco nesse ambiente, além da violência autoinfligida ou interpessoal, que ainda não foi estudada com profundidade. A idade também é um fator de risco (junto com as mulheres adultas as crianças são as mais vulneráveis às queimaduras), sem esquecer dos fatores regionais e socioeconômicos.
A probabilidade de óbito aumenta em situações como: lesões por inalação, grandes queimaduras e extremos de idade. Esse é um quadro que requer maior atenção da equipe e agilidade no primeiro atendimento. Dentre as principais complicações apresentadas, destacam-se a sepse e a insuficiência respiratória. A presença de ambas dobra o índice de mortalidade se comparada à presença de uma delas isoladamente.3
Embora já tenha sido muito discutido no passado, e a tecnologia dos equipamentos domésticos e produtos inflamáveis, como o álcool em gel, venha a minimizar estes riscos, nos últimos anos, o número acidentes com queimaduras domésticas se mantém na casa dos 70% do total de casos, um índice alto, considerando sua gravidade e sequelas.10 No portal do Ministério da Saúde encontramos algumas dicas de ações de prevenção às queimaduras.
Dicas de Prevenção
- Ao acender um fósforo, mantenha o palito longe do rosto. Assim, se escapar alguma chama, não irá atingir o cabelo ou a sobrancelha;
- Ao acender uma vela, observe se está longe de produtos inflamáveis, como botijões de gás, solventes ou tecidos;
- Manter crianças longe da cozinha durante o preparo dos alimentos, e sempre direcionar o cabo das panelas para a área do fogão;
- Não manipular álcool, querosene, gasolina ou outros líquidos inflamáveis perto do fogo. Esses produtos devem ser guardados longe do alcance das crianças;
- Em festas juninas, dar preferência às fogueiras pequenas, que só devem ser acesas longe de matas, de depósitos de papel, de produtos inflamáveis ou ventanias.
Ainda não estão disponíveis dados concretos a respeito do índice de queimaduras durante a pandemia, mas fica o alerta para que tenhamos atenção redobrada em nossos lares, principalmente quando dividimos nossa atenção com crianças e idosos.
Embora, parafraseando Augusto Jorge Cury, a existência seja um contrato de risco, a maior parte dos casos de queimaduras domésticas são evitáveis e devemos chamar a atenção de todos para este tema, criando esforços para evitarmos situações que favorecem esses acidentes.
Sejamos conscientes e façamos nossa parte!
Diogo V de Medeiros