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Marcos do desenvolvimento neuropsicomotor na infância | Colunistas

Marcos do desenvolvimento neuropsicomotor na infância | Colunistas

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Os conhecimentos dos marcos do desenvolvimento são essenciais para estabelecer parâmetros aceitáveis às crianças. Na atenção básica, o objetivo dessa análise visa promoção, proteção e a detecção precoce de possíveis doenças relacionadas ao desenvolvimento, permitindo ações que possam mudar positivamente sua vida futura. Veremos neste texto os principais marcos do desenvolvimento infantil, visando uma anamnese investigativa, capaz de detectar possíveis atrasos e distúrbios na criança. Aqui, você encontrará as características esperadas para cada momento, em média, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, e uma avaliação mais avançada poderá ser necessária, caso o paciente apresente divergências com os resultados esperados.

Marcos do primeiro e segundo mês

Os estágios de desenvolvimento cognitivo seguem uma ordem sequencial e devem ser constantemente estimulados, para que não haja atraso dos marcos. Começando pelos marcos do desenvolvimento de 0 a 1 ano, nos primeiros meses de vida, é possível observar predomínio do tônus flexor, assimetria postural e preensão reflexa.

Com 1 a 2 meses ocorre a melhora na percepção de um rosto, medida com base na distância entre o bebê e o seio materno. A partir do segundo mês, vemos sorriso social e o bebê começa a ficar de bruços, levanta a cabeça e os ombros. Além disso, ocorre a ampliação do seu campo de visão (o bebê visualiza e segue objetos com o olhar).

Entre os Reflexos primitivos, são observados apoio plantar, sucção e preensão plantar, os quais desaparecem até o 6º mês; preensão dos artelhos, desaparecendo até o 11º mês; reflexo cutâneo plantar, que desencadeia extensão do hálux; e, a partir do 13º mês, ocorre flexão do hálux. Também é bem evidente o reflexo de Moro (incompleto a partir do 3º mês e inexistente a partir do 6º mês) e reflexo tônico-cervical até o 3º mês

Até 1 ano de idade

Com 4 meses, o bebê já tem capacidade de preensão voluntária das mãos e, entre 4 a 6 meses, o bebê mexe a cabeça na direção de uma voz ou de um objeto sonoro e, começando os 6 meses, inicia a noção de “permanência do objeto”.

A partir de 7 meses, senta-se sem apoio e, aos 6 e 9 meses, o bebê arrasta-se e engatinha. Esse processo melhora e, então, começa a andar com apoio (entre 9 meses e 1 ano). Em torno do 10º mês, o bebê fica em pé sem apoio.

A partir do primeiro ano

Entre 1 ano e 1 ano e 6 meses: o bebê anda sozinho. Em torno de 1 ano: o bebê possui a acuidade visual de um adulto. Entre 1 ano e 6 meses a 2 anos, o bebê começa a correr e subir degraus baixos.

Com dois anos de idade, a criança inicia uma fala mais complexa, com capacidade de dizer seu próprio nome e o nome de objetos. Também tem a capacidade de se reconhecer no espelho e começa a inventar brincadeiras estimulando a imaginação. De 3 a 4 anos, a criança veste-se com auxílio e já inicia, depois dos 4, a contar ou inventar pequenas histórias.

A partir dos 6 anos: a criança começa a utilizar a lógica para pensar, com maior capacidade de memória e linguagem, sendo importante para o acompanhamento e estímulo escolar. Tem desenvolvimento da autoimagem e trabalha sua autoestima, tendo aumento das relações de amizade, com distinção de gênero bem estabelecidas.

Com 7 anos desenvolve o julgamento global de autovalor, com autopercepção, observando ideias e hábitos. Nessa fase, a influência dos pais sob as decisões diminui e os amigos passam a ser mais influentes. A partir dos 10 anos, ocorrem mudanças relacionadas à puberdade e há um estirão de crescimento (primeiro nas meninas, em torno dos 11 anos, depois nos meninos, em torno dos 13 anos).

Desenvolvimento a partir do primeiro ano

No 2º Ano, a velocidade do crescimento diminui. Devemos observar no desenvolvimento,  a partir dos 15 meses, se a criança é capaz de andar sozinha, se consegue comunicar seus desejos, apontando e emitindo sons, e se é capaz de construir uma torre de 3 blocos, por exemplo.

Com 24 meses, a criança já é capaz de correr, subir e descer escadas, segurando-se no corrimão. Na parte de comunicação, é capaz de se expressar com frase de 2 palavras.

Deve-se orientar os pais para estimular o uso do copo e reduzir a mamadeira, deixar a criança comer com as próprias mãos e exercitar o uso da colher, estimular o desenvolvimento da linguagem (conversar, ler), e brincadeiras ao ar livre.

Também é necessário observar se os pés são aparentemente chatos, membros inferiores em arco, com joelhos afastados, e também se as crianças enxergam bem com os dois olhos em separado.

Fase pré-escolar

A fase Pré-Escolar (3 a 5 anos) se caracteriza por um crescimento lento com estirão (estatura predominando sobre o peso), chamado de criança “espigada”.

Com 30 meses, consegue pular erguendo os 2 pés do chão e é capaz de apontar partes de seu corpo quando solicitado. Aos 3 anos, podemos perguntar aos pais se a criança sabe seu primeiro nome e possui uma linguagem inteligível. Também é importante que já haja um controle da evacuação e micção diurna.

Aos 4 anos, espera-se melhora no equilíbrio e controle da micção noturna. Com 5 anos, já seria capaz de executar três ordens, solicitadas em sequência; melhora de movimentação e desenvolvimento motor fino demonstrado em desenhos.

Sinais de alarme

Por fim, é importante que você observe alguns sinais de alarme, que possam apontar para outros distúrbios e doenças relacionadas ao desenvolvimento.

No fim do 1º trimestre: ausência de sorriso social; olhar vago, pouco interessado; o menor ruído provocando grande sobressalto; nenhuma reação a ruídos fortes (surdez); mãos persistentemente fechadas.

No fim do 2º trimestre: não vira a cabeça para localizar sons (4 meses); hipertonia (rigidez) dos membros inferiores; hipotonia do eixo do corpo: controle deficiente da cabeça; criança exageradamente lenta e sem interesse; movimentos bruscos do tipo “descarga motora”; não dá risada; falta de reação aos sons (considerando a possibilidade de surdez).

Aos 9 meses: é obrigatório tomar providência quando a criança não senta sem apoio (hipotonia do tronco); possui pernas duras, “em tesoura” (espasticidade); pernas moles em “posição de rã” (hipotonia); mãos persistentemente fechadas. Deve-se observar também se há preensão em pinça; incapacidade de localizar um som (considerando surdez); ausência de balbucio (considerando distúrbio articulatório); sorriso social pobre; não tem interesse no jogo “esconde-achou”.

1º aniversário: ausência de sinergia pés-mãos (colocada em pé com apoio não procura ajudar com as mãos); criança parada ou mumificada; movimentos anormais; psiquicamente inerte ou irritada, sorriso social pobre; não fala sílabas; cessação do balbucio (considerando a possibilidade de surdez).


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.


Referências:

Saúde da criança: acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil. Ministério da Saúde, 2002. Brasil: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/crescimento_desenvolvimento.pdf

Saúde da criança: crescimento e desenvolvimento / Ministério da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. 272 p.: il. – (Cadernos de Atenção Básica, nº 33). Brasil: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_crescimento_desenvolvimento.pdf

SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Consenso Do Departamento Científico Pediatria Ambulatorial. Fev. 2004: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/img/documentos/doc_pediatria_ambulatorial.pdf