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Maskne: acne em tempos de Covid | Colunistas

Maskne: acne em tempos de Covid | Colunistas

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Imagem de perfil de Comunidade Sanar
Fonte: Kosasih, 2020

O que é Maskne:

‘‘Maskne’’, termo cunhado durante a pandemia de COVID-19, é uma variante da acne mecânica, previamente associada com capacete ou equipamento de proteção individual (EPI).

É um distúrbio causado pela oclusão folicular e diretamente relacionado ao estresse mecânico (pressão, oclusão, fricção) e alteração do microbioma da pele (calor, pH, umidade de biofluidos). Essas condições são afetadas pela maior duração do uso da máscara. Climas tropicais e a exposição ao ar livre, aumento da transpiração, são fatores de risco para populações suscetíveis à acne (adultos jovens, pessoas com seborreia aumentada e com predisposição genética).

Como diagnosticar:

Critérios clínicos propostos para  diagnosticar maskne:

  • Início de acne em até 6 semanas após o início do uso da máscara facial
  • Exacerbação da acne na área da máscara (Zona O)
  • Padrão distinto e exclusão de diagnósticos diferenciais, como dermatite perioral, dermatite seborreica, foliculite pitirospórica e acne rosácea.
Fonte: Wan-Lin Teo, 2020

Causas

A flora da pele é influenciada por fatores genéticos e fatores externos, como ambiente, pH e temperatura, sendo estes últimos facilmente modificados pelo uso da máscara. O calor gerado leva ao aumento do suor no local e, consequentemente, o ambiente quente e úmido se torna propício para a proliferação dos fungos naturais da flora cutânea, como malassezia e cândida, causando a acne fúngica. Além disso, o atrito causado pelo tecido na pele pode causar pequenas lesões, onde proliferam as bactérias da microbiota cutânea.

Essa disbiose microbiana está na patogênese do eczema, acne, dermatite perioral, dermatite seborréica, foliculite pitirospórica e rosácea.

Profissionais da saúde são muito acometidos por essa condição, pois passam um longo período de tempo cobertos não só pela máscara, mas por todo o Equipamento de Proteção Individual.

Tratamento

Os cuidados com a pele devem incluir produtos de limpeza suaves, com o pH próximo ao da pele (pH 5) e antibacterianos, além de hidratantes suaves, não comedogênicos, formulados comcomponentes emolientes que ajudam a manter a barreira cutâea saudável. É importante hidratar o rosto antes da colocação do EPI para lubrificar a pele e amenizar o atrito, além de evitar lavar o rosto com água quente e não usar produtos que contenham álcool ou outros agentes irritantes.

Tratamentos locais usados para acne vulgar como peróxido de benzoíla, ácido salicílico, enxofre e retinóides podem predispor a dermatite de contato e irritação da pele sob oclusão da máscara. Ativos fitoterápicos como pomada de própolis e óxido de zinco, com anti-inflamatórios, antioxidantes, reguladores da oleosidade e propriedades antimicrobianas são mais indicados.

Formulações em gel com antibióticos tópicos podem minimizar a irritação local, garantindo melhor tolerância e eficácia dos medicamentos.

A sensibilidade e a comedogenicidade do filtro solar aumentam sob oclusão. As máscaras de tecido com proteção ultravioleta maior que 50 podem substituir o uso de protetor solar, como um fotoprotetor prático para a metade inferior do rosto, além de ser um incentivo ao uso da máscara.

Casos mais severos de maskne podem ser tratados com antibioticoterabia oral ou até mesmo a isotretinoína.

Qual máscara usar para previr o surgimento da maskne?

Você pode aconselhar seu paciente a respeito de qual máscara usar e quais cuidados tomar para amenizar os efeitos causadores da maskne.

A melhor opção sempre é a máscara descartável, que deve ser trocada a cada 4 horas de uso ou antes, se estiver úmida. As máscaras devem permitir a movimentação durante a fala, sem que descubra o nariz e a boca, além disso, peças de metal devem ser recobertas para evitar o atrito com a pele.

Máscaras reutilizáveis devem ser devidamente lavadas sempre que usadas, da seguinte maneira, segundo a OMS:

  • Passo 1: lavar com água e sabão em água corrente.
  • Passo 2: é indicado deixar de molho por volta de 20 a 30 minutos em uma solução de água sanitária, contendo duas colheres de sopa do produto para 1L de água.
  • Passo 3: enxague bem em água corrente para remover as toxinas da água sanitária e evite torcer. Melhor deixar secar ao ar livre, preferencialmente no sol. 
  • Passo 4: passe com ferro quente.

Sobre os diferentes tecidos usados para fazer máscaras, tecidos biofuncionais têm um alto coeficiente de evaporação da umidade e de resfriamento, além de serem resistentes à água, evitando, dessa maneira, a propagaçao dos fluidos contaminantes.

Tecidos com a trama mais fechada possuem melhor proteção solar e minimizam o atrito com a pele, sendo mais indicados para pessoas que têm a pele sensível e condições atópicas.

Além disso, máscaras de cores claras dispersam mais o calor, fator importante tanto para a prevenção da maskne quanto para o conforto do seu paciente.

Prevenção

A prevenção é feita com o cuidado da pele conforme já citado, hidratação adequada antes do uso da máscara, a troca da máscara cada 4 horas, lavar o rosto 2 vezes ao dia, evitando  água quente.

Embora existam alguns efeitos adversos inevitáveis do uso prolongado da máscara, usá-la corretamente é uma das muitas abordagens essenciais para proteger a nós mesmos e aos outros. As sugestões citadas têm como objetivo amenizar os efeitos indesejáveis e manter o cumprimento das medidas necessárias para reduzir a transmissão do coronavírus e outros agentes.

Autora: Amanda de Paula

Instagram: @ _amanda_de_paula


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências:

  1. Wan-Lin Teo. Diagnostic and management considerations for ‘‘maskne’’ in the era of COVID-19, 2020. J AM ACAD DERMATOL Vol 84, N 2, Pag 520-

Link: https://doi.org/10.1016/j.jaad.2020.09.063

  • Gomolin TA. et al., Maskne: Exacerbation or Eruption of Acne During the COVID-19 Pandemic, 2020. Nation Soc Cut Med. Vol 4 , N 5, Pag 438-9.

Link: https://jofskin.org/index.php/skin/article/view/953/pdf

  • Masood S, Tabassum S, Naveed S, Jalil P. COVID-19 Pandemic & Skin Care Guidelines for Health Care Professionals. Pak J Med Sci. 2020;36(COVID19-S4):S115-S7.

Link: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32582327/

  • Kosasih LP. MASKNE: Mask-Induced Acne Flare During Coronavirus Disease-19. What is it and How to Manage it?Maced J Med Sci. 2020 Oct 31; 8(T1):411-5.

Link: https://doi.org/10.3889/oamjms.2020.5388

  • Warshaw EM, Schlarbaum JP, Silverberg JI, DeKoven JG, Maibach HI, Sasseville D, et al. Safety equipment:when protection becomes a problem. Contact Dermatitis. 2019;81(2):130-2.

Link: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30809819/