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Noções gerais sobre leishmaniose visceral americana | Colunistas

Noções gerais sobre leishmaniose visceral americana | Colunistas

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Agente etiológico

O agente etiológico da leishmaniose visceral americana, no Brasil, é o Leishmania infantum, parasita da ordem Kinetoplastida e da família Trypanosomatidae.

Os parasitas desse gênero possuem duas formas, a promastigota e a amastigota. A forma promastigota possui flagelos e permanece no inseto vetor, no ambiente extracelular. Já a forma amastigota não possui os flagelos, sendo encontrada no ambiente intracelular dos hospedeiros definitivos (mamíferos).

Vetor

Os vetores são os flebotomíneos, denominados popularmente de mosquito-palha. Pertencem à ordem Diptera, na subfamília dos Phlebotominae. Desses, os dos principais gêneros representantes são o Lutzomia e o Phlebotomos. Ressalta-se que apenas as fêmeas dessa espécie são hematófagas, assim, apenas elas são responsáveis pela transmissão.

Hospedeiros

Dentre os hospedeiros estão mais de 70 espécies de mamíferos, entre eles canídeos, roedores, edentatas, humanos e outros primatas. Vale ressaltar que os humanos são hospedeiros eventuais, normalmente as demais espécies é que são infectadas.

Ciclo de vida

  1. Formas promastigotas metacíclicas são transmitidas pela picada da flebotomíneo fêmea.
  2. Ao adentrarem o corpo, podem ser fagocitadas ou invadir de maneira ativa os macrófagos e neutrófilos.
  3. No ambiente intracelular, se diferenciam na forma amastigota, sendo a responsável pela multiplicação, a qual ocorre por divisões simples.
  4. Os amastigotas saem das células infectadas, a partir de onde podem atingir outras células ou serem transmitidas para o vetor, ao picar uma pessoa infectada.
  5. No vetor, a forma amastigota se transforma em promastigota procíclica, que irá se multiplicar e se diferenciar em promastigota metacíclica, sendo transmitida novamente para o hospedeiro.

Transmissão

O principal mecanismo de transmissão é o vetorial. No entanto, também existem algumas formas secundárias, como o uso de drogas injetáveis, transfusão sanguínea, congênita ou em acidentes com material perfurocortante, embora essas formas sejam menos frequentes.

Patogenia

            Inicialmente, no local da picada, há uma reação inflamatória, podendo haver a formação de um nódulo chamado leishmanioma, embora seja pouco comum.

            Posteriormente, os parasitas migram do local da picada para as vísceras através da via linfática e hematogênica, sendo a linfática a mais comum. Além disso, vale destacar que os principais locais acometidos são o baço, o fígado e a medula óssea. Ainda, a principal preocupação se dá nos pacientes imunocomprometidos, como idosos, portadores de AIDS e transplantados.

Formas clínicas

            Há 03 formas clínicas distintas, são elas: forma assintomática, forma aguda e forma crônica ou Calazar clássico.

            Os assintomáticos são a maior parte dos infectados, não possuem manifestações clínicas e a cura é espontânea. Pode evoluir para a forma sintomática caso o paciente fique imunocomprometido.

            A forma aguda ocorre no período inicial da doença e se caracteriza por febre alta, palidez de mucosas e uma hepatoesplenomegalia discreta. É comum que os sintomas desse período sejam confundidos com outras parasitoses, como a malária.

            A forma crônica ou Calazar clássico possui evolução prolongada, com os sintomas se agravando progressivamente. A febre alta passa a ser irregular, há presença de desnutrição e caquexia acentuadas, hepatoesplenomegalia e ascite. Nesse período normalmente ocorrem infecções secundárias por bactérias.

Diagnóstico

            O diagnóstico clínico é realizado através do quadro clínico aliado aos dados epidemiológicos da região do paciente em questão.

            O diagnóstico laboratorial pode ser realizado pela pesquisa do parasita, a qual pode ocorrer a partir da análise de aspirado da medula óssea, baço, fígado e linfonodo. Além disso, também é possível inocular o material em animais de laboratório e aguardar a resposta deste. Ainda, o cultivo do material coletado também pode ser realizado.

            Ademais, também podem ser feitos testes imunológicos, como o ELISA, RIFI e o teste imunocromatográfico rápido.

            Outra possibilidade é a realização dos testes moleculares, a exemplo do RT-PCR.

Tratamento

            No Brasil o tratamento é feito com Glucantime, um antimonial pentavalente. Tal medicamento não está disponível para a venda no país, sendo disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde. Embora tal medicação resulte em muitos efeitos adversos, atualmente não há outra que apresente a mesma eficácia no tratamento.

Epidemiologia geral

            A leishmaniose visceral americana também é conhecida por Kala-Azar, o que se traduz como doença negra. É uma doença crônica de alta letalidade que ocorre em 79 países em desenvolvimento. No Brasil o principal vetor é o Lutzomia longipalpis. Sua principal incidência se dá nas áreas quentes e úmidas, próximas de rios, justamente por ser o principal habitat dos vetores. Atualmente, há notificações de casos em todo o país, com maior concentração em locais mais úmidos e com maior calor.


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências:

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Manual de vigilância e controle da leishmaniose visceral / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2006. 120 p.: il. color – (Série A. Normas e Manuais Técnicos).

Microbiologia médica / Patrick R. Murray, Ken S. Rosenthal, Michael A. Pfaller; [tradução Andreza Martins]. – 7. ed. – Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.