Alergologia e imunologia

O que é a deficiência em G6PD? | Colunistas

O que é a deficiência em G6PD? | Colunistas

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Condição capaz de causar crises hemolíticas, a deficiência em desidrogenase de glicose-6-fosfato (G6PD) é um defeito enzimático ligado ao cromossomo X que afeta aproximadamente 400 milhões de pessoas no mundo.

Ela é mais comum em homens e em indivíduos com ascendências em áreas endêmicas como África, Oriente Médio, Mediterrâneo e Nova Guiné.

No Brasil, estima-se que aproximadamente 4% da população seja portador ou doente.

O que é G6PD?

O G6PD é uma enzima citoplasmática presente em todas as células do corpo, que tem como função de catalisar a primeira etapa da rota metabólica da hexose monofosfato e, sendo assim, é essencial para a produção de NADPH, responsável por combater efeitos prejudiciais das espécies reativas de oxigênio e radicais livres.

Nas hemácias, a G6PD estabiliza a membrana do eritrócito contra danos oxidativos, por ser a única via capaz de produzir a NADPH.

Seu gene codificante está localizado na região telomérica do braço longo (Xq28) do cromossomo X, por isso, mutações afetam mais homens e mulheres homozigotas. Esse gene possui diversos polimorfismos, o que resulta em uma gama de atividades de G6PD que vão de normal a gravemente deficiente, sendo assim, a deficiência dessa enzima pode ser devida a mutações que alteram a estrutura da proteína, com redução da sua atividade ou ainda na quantidade de enzima produzida.

Qual a fisiopatologia da doença?

A deficiência na enzima G6PD torna o eritrócito suscetível à hemólise, a qual ocorre após estresse oxidativo.

Esse estresse pode ser causado após febre; infecção bacteriana ou viral aguda; cetoacidose diabética; medicamentos que produzem peróxido e causem oxidação da hemoglobina e membranas dos eritrócitos, como a primaquina e o paracetamol; certos alimentos, como o feijão de fava e corantes; e vitamina K.

Atentar-se que algumas enfermidades podem assemelhar-se à fisiopatologia da deficiência de G6PD, como: anemia hemolítica autoimune, transtornos da conjugação da bilirrubina, esferocitose hereditária, anemia falciforme e talassemia.

Quais são os sintomas?

O quadro clínico inclui fadiga, dor nas costas, anemia hemolítica, icterícia e colúria, porém a maioria dos indivíduos que possuem a mutação permanecem assintomáticos durante a maior parte da vida e descobrem esta deficiência enzimática após o uso de determinados fármacos, alimentos ou corantes.

A gravidade e velocidade com que os sintomas se apresentam variam de acordo com a quantidade enzimática de G6PD que o indivíduo possui (determinada pelo seu polimorfismo genético) e pelo fator desencadeante da crise.

A deficiência de G6PD pode aparecer em recém-nascidos?

A deficiência de G6PD é a principal causa de icterícia precoce (antes das 24h de vida), por anemia hemolítica grave, podendo levar à kernicterus (condição clínica caracterizada por encefalopatia grave que tem como sintomas letargia, sonolência extrema e tônus muscular fraco), com impacto significante na morbidade e mortalidade infantil.

O mecanismo, porém, ainda não é muito bem entendido. Acredita-se que ocorre devido à hemólise, mas frequentemente a contagem de reticulócitos e eritrócitos em bebês é normal.

Como diagnosticar deficiência de G6PD?

O diagnóstico pode ser feito logo após o nascimento, por meio do teste do pezinho ampliado (que apenas encontra-se disponível na rede privada de saúde) ou ao longo da vida.

Nesse caso, ele é realizado por meio de: esfregaço de sangue periférico, que pode revelar eritrócitos bolhosos e eritrócitos com inclusões denominadas corpúsculos de Heinz (os quais são formados a partir da destruição da hemoglobina e a lise proteica e, ao serem detectados pela barreira esplênica, são rapidamente retirados da circulação), que são partículas de hemoglobina desnaturada; ou ainda baseado numa estimativa de atividade enzimática feita pela análise espectrofotométrica quantitativa, na qual a atividade da enzima é determinada pela porção de NADPH formado em amostra de sangue total hemolisado e adicionado a uma mistura de substrato enzimático (glicose-6-fosfato) e co-fator NADP, utilizando-se o comprimento de onda de 340 nm.

Existe tratamento?

Não há cura para a doença nem tratamento específico. O que deve ser feito é evitar os fatores desencadeantes e tratar as complicações que podem ocorrer em decorrência dessa deficiência.

Importante ressaltar que todas as vacinas podem ser administradas para o indivíduo que possui essa deficiência e que seguir o calendário vacinal é muito importante para evitar doenças que podem predispor a crises.

Em casos de recém nascidos com icterícia causada pela deficiência em G6PD, o tratamento é feito com fototerapia ou, em casos mais graves, exsanguineotransfusão, que visa à remoção rápida de bilirrubina e correção da anemia.

Caso ocorra crise hemolítica, o tratamento é de suporte, podendo haver a necessidade de transfusões sanguíneas.

O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.


Referências