Infectologia

O que precisamos saber sobre a varíola dos macacos? | Colunistas

O que precisamos saber sobre a varíola dos macacos? | Colunistas

Compartilhar
Imagem de perfil de Comunidade Sanar

A varíola dos macacos

Apesar de ter tal nome, os macacos não são conhecidos por serem portadores da doença. Acredita-se que o nome tenha surgido quando os pesquisadores utilizaram um macaco cinomolgo (Macaca fascicularis) para isolar o vírus pela primeira vez.

O vírus da varíola dos macacos (ou monkeypox no inglês) tem uma certa relação estrutural com o vírus da varíola (declarado eliminado do mundo em 1980). A disseminação de humano para humano geralmente envolve contato pele a pele através das respectivas manifestações exantemáticas do infectado: erupções cutâneas, feridas ou crostas.

Epidemiologia

O hospedeiro natural do vírus da varíola dos macacos inclui esquilos de corda, esquilos de árvore, ratos gambianos e arganazes. Tal como acontece com muitas zoonoses, o vírus da varíola dos macacos é transmitido incidentalmente aos seres humanos quando encontram animais infectados.

Existem alguns pontos epidemiológicos importantes, são eles:

  • Raramente foram observados casos humanos importados fora do continente africano. Contudo, em 9 de junho de 2022, mais de 1.350 casos de varíola dos macacos confirmados em laboratório foram relatados em 31 países não endêmicos em todo o mundo.
  • No Brasil, as infecções por varíola dos macacos ocorreram mais comumente em homens que se identificaram como homoafetivos. Ademais, nos últimos 5 anos, centenas de casos foram relatados na Nigéria, com muitos casos entre homens, alguns com lesões genitais, sugerindo transmissão de humano para humano por contato sexual.

Sinais e sintomas

A varíola dos macacos tem um amplo período de incubação que varia de 5 dias a 3 semanas. Os sintomas comuns são:  febre, dor de cabeça, linfonodos inchados (principalmente no pescoço, axilas ou virilha), dores musculares e fadiga.

De modo geral, 1 a 3 dias após a ocorrência da febre, os pacientes desenvolvem uma erupção cutânea. A erupção começa com manchas vermelhas planas, elas se tornam firmes, com líquido e saliências elevadas, se transformando, posteriormente, em crostas que cicatrizam ao longo de semanas. Essas erupções  aparecem inicialmente no rosto, se espalham para outras partes do corpo, podendo envolver boca, vagina e  ânus.

Complicações

As complicações podem incluir pneumonia, encefalite e infecções oculares, que ocorrem principalmente em crianças menores de 8 anos, grávidas ou indivíduos imunocomprometidos. A taxa de mortalidade é estimada entre 1% e 11%.

Os surtos da varíola dos macacos

As infecções humanas por varíola são raras. Antes de maio de 2022, as infecções por varíola dos macacos que ocorriam em pessoas que viviam em países fora da África estavam associadas a viagens para lugares com varíola dos macacos circulantes (áreas endêmicas) ou à exposição a animais infectados.

No entanto, entre 13 e 26 de maio de 2022, a Organização Mundial da Saúde relatou 257 casos confirmados em laboratório de varíola e aproximadamente 120 casos suspeitos em 23 países que não têm varíola endêmica.

O Brasil teve seu 3º caso de varíola dos macacos diagnosticado, no dia 12 de junho de 2022. O Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde do Rio Grande do Sul notificou uma ocorrência de “caso importado” da doença.

“O diagnóstico foi confirmado laboratorialmente, no domingo, pelo Instituto Adolf Lutz de São Paulo. Trata-se de um paciente residente em Porto Alegre, do sexo masculino, 51 anos, que viajou para Portugal, com retorno ao Brasil no dia 10 deste mês.”

-Publicado em 13/06/2022 – 09:17 Por Agência Brasil – Brasília

Quando procurar atendimento médico?

É recomendado que indivíduos com sintomas relacionados à varíola dos macacos procurem atendimento médico, são eles qualquer pessoa que:

  • Viajou para países da África Central ou Ocidental ou outros países com casos confirmados de varíola dos macacos durante o mês anterior ao início dos sintomas.
  • Teve contato com uma pessoa com varicela dos macacos confirmada ou suspeita.
  •  É do sexo masculino, que teve ou tem contato íntimo homoafetivo.

Diagnóstico

De acordo com o CDC ( Centro de Controle e Prevenção de Doenças), o diagnóstico clínico da varíola dos macacos deve ser confirmado por métodos laboratoriais, atualmente disponíveis apenas nas secretarias estaduais de saúde, onde é realizado o rastreamento da reação em cadeia da polimerase. As amostras para diagnóstico de varíola dos macacos devem ser coletadas com swab de nylon, poliéster ou Dacron e preferencialmente obtidas de uma lesão cutânea aberta.

Tratamento da infecção

Os indivíduos diagnosticados com infecção por varíola dos macacos devem se isolar em casa e evitar contato íntimo até que todas as lesões de pele tenham cicatrizado.

Apesar de não ter um tratamento específico, os pacientes com infecção grave por varíola dos macacos ou imunossuprimidos, grávidas, amamentando ou com menos de 8 anos podem ser candidatos a um medicamento antiviral ou tratamento com anticorpos (imunoglobulina intravenosa).

Prevenção

A infecção pelo vírus da varíola dos macacos pode ser prevenida evitando o contato com animais infectados ou materiais usados ​​por animais ou pessoas infectadas. Logo, podemos definir a prevenção para o vírus da varíola dos macacos nos seguintes tópicos:

  • Evitar o contato direto com lesões de pele ou com materiais usados ​​por pacientes com varicela (como roupas, roupas de cama e toalhas).
  • Os médicos que cuidam de pacientes com lesões de pele devem usar equipamentos de proteção individual, incluindo avental, luvas, proteção para os olhos e uma máscara N95 ajustada.
  • Um paciente com infecção suspeita ou confirmada por varicela deve ser mascarado, ter as lesões cobertas com um avental ou lençol e ser colocado em isolamento em um quarto individual.

Existe uma vacina que oferece alguma proteção contra a varíola dos macacos; no entanto, não está atualmente disponível para uso geral. Acredita-se que a vacinação contra a varíola forneça até 85% de proteção cruzada contra a varíola, embora a duração seja desconhecida.

Referências

Centros de Controle e Prevenção de Doenças. Mapa global do surto de Monkeypox e ortopoxvírus de 2022. Acessado em 15 de junho de 2022. Disponível em: www.cdc.gov/poxvirus/monkeypox/response/2022/world-map.html

JAMA: The Journal of the American Medical Association O que os médicos precisam saber Publicado online: 13 de junho de 2022.Disponível em:

jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2793516?resultClick=1&appId=scweb&appId=scweb

O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.